Jornalista norte-americana
trouxe à luz relatos científicos reveladores do caráter apocalíptico da
extinção de espécies que o planeta está vivendo
Uma década depois da catástrofe anunciada por Kolbert, ainda
podemos evitar esta extinção em massa das espécies? Parte da resposta foi dada
pela ciência no ano passado.
Cientistas das universidades de Stanford (EUA) e Autônoma (México) estimam que a sexta extinção em massa “está eliminando espécies 35 vezes mais rápido que no último milhão de anos sem o impacto de ações humanas”, conforme divulgaram em seu estudo (pnas.org).
Publicado em 2014, o livro A Sexta Extinção, da jornalista
Elizabeth Kolbert, é um alerta contundente sobre a mais devastadora extinção em
massa de espécies, desde o desaparecimento dos dinossauros. Mas dessa vez,
causada pelo Homem.
Como resultado das 5 grandes extinções em massa precedentes,
cerca de 75% da biodiversidade do planeta desapareceu. A primeira, conhecida
como Ordoveciano, datada de 445 milhões de anos, quando a Terra sucumbiu a um
período glacial relativamente curto, porém intenso, que dizimou entre 60 e 70%
das espécies.
A segunda grande extinção, o Devoniano, ocorreu entre 375 e
360 milhões de anos e teria eliminado até 75% das espécies, a maior parte de seres marinhos. Já a terceira, o chamado Permiano, ocorrido há cerca de 252
milhões de anos, aniquilou 95% das espécies em áreas terrestres e oceânicas.
Sua duração é controversa e varia entre 200 mil e alguns milhões de anos,
segundo a corrente científica.
A quarta extinção do Trias, ocorrida há cerca de 200 milhões
de anos, teria destruído entre 70 e 80% das espécies da face da Terra,
incluindo os ancestrais de dinossauros e grandes anfíbios. Já a quinta, a do
Cretácio, aconteceu há cerca de 66 milhões de anos. Teria sido provocada pela
colisão de um asteroide e causou o desaparecimento de 75% das espécies animais.
A obra de Kolbert evoca a sexta grande extinção, cujo
principal responsável é o Homem. Foi elaborada com base em constatações
científicas inequívocas do processo de eliminação de espécies em três áreas de
biomas importantes: na Amazônia, nos Andes e na costa australiana.
Com base nesses dados, o planeta levaria milhões de anos para
restabelecer seu nível de biodiversidade anterior a uma dessas cinco grandes
extinções. De fato, a espécie humana existe somente a 200 mil anos, ante à
duração média de vida das espécies de vertebrados (da qual fazemos parte) de 1
milhão de anos, o que significa um alto risco de extinção dessas espécies.
Dados de estudos sérios indicam que o ritmo da atual grande
extinção já era alto desde o século XVI e desde então só fazem piorar. No
contexto atual, quais seriam as espécies animais mais vulneráveis à degradação
ambiental antrópica?
Cientistas são taxativos em afirmar que são as populações de
regiões insulares, antes isoladas, as mais susceptíveis a desaparecer. São
espécies que evoluíram sem afrontar predadores, mas que se tornaram altamente
vulneráveis diante da presença humana.
Em seu livro, Kolbert nos relata sua expedição à Grande
Barreira de corais, na companhia de cientistas, a partir de uma “minúscula
estação de pesquisa (One Tree Island)” mantida pela Universidade de
Sidney. A ilhota “pode ser qualificada como deserta”, relata a jornalista.
Trata-se de um ecossistema emblemático das consequências da
acidificação dos oceanos, causado pela absorção excessiva de CO2 emitido antropicamente.
Desde o final dos anos 1980, 95% das águas oceânicas de superfície em alto-mar
sofrem um aumento no grau de acidez, ameaçando a existência da biodiversidade
marinha.
“Os recifes não são apenas simples florestas tropicais úmidas
submersas: são florestas tropicais úmidas no meio de um [deserto do] Saara
marinho”, escreve Kolbert.
Os corais que habitam os recifes desenvolveram um sistema
altamente eficiente de troca de nutrientes entre diferentes organismos, explica
a jornalista. “Os corais fornecem a infraestrutura do ecossistema; portanto, se
eles desaparecem, o ecossistema inteiro desaparece”, diz um dos cientistas que
a acompanha.
Na Floresta Amazônica, outra localidade que fez parte de uma das
expedições de Kolbert narrada no livro, a savanização (causada por ações
antrópicas, como desmatamento e queimadas) já é uma realidade e pode atingir
seu ponto crítico até 2050.
“As savanas se expandiram principalmente em áreas periféricas,
onde os incêndios são mais frequentes, mas também no interior da floresta”,
explica o professor da USP Luiz Cortês, um dos autores de um estudo publicado
recentemente na Nature.
De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), a quantidade de espécies ameaçadas de extinção
na Amazônia aumentou 65%, entre 2012 e 2022. Foram analisadas mais de 8 mil
espécies de plantas e animais.
A inação do Homem para conter a atual grande extinção de espécies nos últimos 10 anos só faz agravá-la. Muitos países, especialmente os mais poluidores, ainda hesitam em reduzir suas emissões de CO2, conforme diz o Acordo de Paris (de 2015) que eles firmaram.
Diante de tamanho descaso, cabe
perguntar: não correria a humanidade o risco de tornar-se vítima de sua própria
negligência para com o meio ambiente?
Apesar da nossa grande capacidade de adaptação -já que o Homem
tem perpetuado sua existência há milênios, convivendo em certa “harmonia” com a
6ª extinção em curso- seria razoável prosseguir no atual ritmo de destruição da
biodiversidade?
Ou seria mais provável nossa auto extinção enquanto espécie
por uma hecatombe nuclear, diante de uma 3ª Guerra Mundial cada vez mais
próxima?
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