segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Energia das marés: qual o futuro desta fonte renovável?

Alto custo de investimento e polêmicas sobre impacto ambiental são barreiras para exploração comercial da força maremotriz

Há quase 50 anos em operação, a central maremotriz de La Rance (França) é pioneira no mundo; com 240 MW é a segunda maior capacidade instalada do gênero
http://gereports.fr/post/89783835404/energie-lunaire-fabrique-en-france-en-1966

Se a pioneira barragem francesa de La Rance expressa o êxito da energia maremotriz, sua exploração comercial mundo afora é ainda incipiente. 

A questão que especialistas levantam é se há viabilidade para a geração elétrica a partir das marés, em locais afastados das zonas costeiras.

Em 2016, a usina de La Rance – construída no estuário homônimo, na região da Bretanha, no noroeste da França – completa 50 anos, desde que suas turbinas foram acionadas pela primeira vez. 

São inúmeros os aspectos favoráveis desta usina: a maior elevação de marés da Europa e uma das mais importantes do mundo (máxima de 13,5 m e amplitude média de 8,2 m), uma razoável extensão de barragem (750 m), um considerável volume retido (184 mil m3) e uma rede elétrica interconectada nas proximidades. 

O reservatório da La Rance é abastecido com água da maré a montante por 24 canais dotados de turbinas hidráulicas de 10 MW, que funcionam em fase de “simples efeito” (gerando energia só quando a barragem se esvazia) ou de “duplo efeito” (quando as turbinas giram também durante o enchimento). 

Com rendimentos de 70% e de 85%, conforme a fase de operação das turbinas, a usina produz em média 540 GWh por ano, uma quantidade de energia suficiente para abastecer 270 mil residências. 

Até 2011, La Rance era a maior central maremotriz do mundo – com uma capacidade instalada de 240 MW – quando foi desbancada pela usina de Sihwa, no noroeste da Coreia do Sul, com 254 MW instalados. 

Fora essas duas, são mais 3 centrais maremotrizes em escala comercial operando mundo afora, indicadas no mapa abaixo.

Mapa mundial das instalações maremotrizes em operação comercial.
Le Journal des Énergies Renouvelables No 223, setembro-outubro 2014

A central maremotriz de La Rance é operada pela estatal Énergie de France (EDF), detentora de uma concessão válida até 2043. Como prova de rentabilidade da usina, a EDF investe atualmente 100 milhões de euros em sua renovação. 

A barragem constitui, ainda, uma importante via terrestre, permitindo a circulação de veículos entre as cidades de Dinard e Saint-Malo, pelos seus 15 km, em lugar dos 45 km antes de sua construção. 

Apesar de quase cinco décadas de produção contínua de energia renovável pela usina francesa e do enorme potencial energético global das marés – estimado em 380 TWh por ano – raros projetos saíram do papel até os dias de hoje. 

Poucos sítios marítimos reúnem condições tão favoráveis para se produzir energia, como o de La Rance. Os estuários devem prover uma altura mínima de 5 m entre os picos das marés alta e baixa e, ao mesmo tempo, ter profundidades entre 10 e 25 m. 

Além disso, o solo deve possuir um substrato rochoso, capaz de suportar a fundação de infraestrutura da instalação maremotriz, uma condição pouco predominante em locais próximos às zonas costeiras habitáveis. 

A construção da barragem normalmente suscita polêmicas quanto ao seu impacto ambiental. O estuário deve ser bloqueado durante três anos, o que pode causar – pela falta de nutrientes transportados pelas marés interrompidas artificialmente – a destruição de várias espécies. 

Uma vez concluída a obra, o estuário volta a ser conectado ao mar, mas com uma diminuição importante da altura entre picos da maré, alterações no “ritmo maregráfico” e no gradiente salino, que é reduzido, afetando a vida marinha local. 

Vista artística da central maremotriz de Sihwa (Coreia do Sul)
http://ucplant.adfeel.net/bbs/board.php?bo_table=gallery_eng&wr_id=36&page=0&page=0

Para evitar polêmicas ecológicas e tornar as usinas maremotrizes socialmente mais aceitáveis, lagos artificiais foram concebidos. A ideia é criar “atóis” separados dos estuários, sob forma de diques circulares formando reservatórios, que, alternadamente se enchem e se esvaziam, ao sabor das marés. 

Este artifício é uma das soluções que a engenharia britânica considera para explorar a energia maremotriz nas proximidades do estuário de Severn, entre a Inglaterra e o País de Gales. 

No entanto, essa alternativa exige um alto investimento que, necessariamente, requer subsídios governamentais e concessões que assegurem rentabilidade no longo prazo. 

Outros projetos de barragens em estuários ou lagos artificiais – em países como Reino Unido, Rússia, Canadá, Coreia do Sul, China, Índia, etc. – tem se mostrado extremamente custosos e, por isso mesmo, encontram-se em compasso de espera. 

Em um futuro próximo, o mais viável para se explorar a energia maremotriz é instalar usinas em diques ou barragens pré-existentes, onde os custos de construção e impactos ambientais são menores. É o caso da central de Sihwa, na Coreia do Sul (imagem). 

Fonte: Le Journal des Énergies Renouvelables No 223, setembro-outubro 2014

2 comentários:

  1. No Brasil há falta de credibilidade em qualquer projeto que possa surgir na área de energia. Os nossos governantes, mal escolhidos, não apoiam nada que possa ser brasileiro. Eles se preocupam com, o que podem ganhar e, assim, apoiam o que vem de fora do Brasil mesmo que seja inferior ao que um brasileiro ofereça. As universidades viram as costas para qualquer pessoa que venha lhe pedir orientação e ajuda. O medo de ser ofuscado por uma ideia brilhante, às vezes, faz com que as academias descartem o que um brasileiro crie. É triste mas é verdade, pois eu mesmo tenho recebido "portas fechadas" quando procuro essas instituições. As universidades são intocáveis em matéria de apoio às ideias. Tem que ter títulos de doutores para ter crédito e,muitas vezes, perdem-se chances de ter equipamentos como os que criei, fui menosprezado, e agora são fabricados no exterior e vendidos no Brasil. As ideias estão em todas as cabeças, porém poucos sabem disso.

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  2. Porque não utilizar as reaberturas dos Canais do Linguado em São Francisco do Sul com essa finalidade, pois 80 anos se passaram e milhões de vidas marinhas foram extintas BURRAMENTE!
    José Guilherme Schossland
    Joinville SC

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