quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sertão da Paraíba, 40 graus...

João Garcia – ou “Jão”, autor da tirinha acima – é jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, atual Coordenador de Imprensa do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo e pioneiro do humor gráfico em ciência e tecnologia no Brasil. “Tio Lerd” é um dos personagens da série Os Cientistas, criada por Jão e publicada diariamente no Correio Popular de Campinas, no interior paulista, de 1994 a 2002. Atualmente Os Cientistas saem na Folhinha – suplemento semanal da Folha de S. Paulo –, no boletim Telescópio, da Estação Ciência da USP, nos boletins eletrônicos ComCiência, do Laboratório de Jornalismo da Unicamp (Labjor), e Pro-Scientiae, do Núcleo José Reis de Divulgação Científica da ECA/USP e no Jornal da Unesp. A tirinha “Sertão da Paraíba, 40 graus...” foi produzida com base na idéia do projeto do LES/UFPB. Publicada na Folhinha em 1/3/2008.

Frio Solar

Laboratório da UFPB desenvolve pesquisa para produzir frio com a luz do sol

Pesquisadores obtiveram financiamento do MCT para realizar projeto de um ar condicionado solar

O Laboratório de Energia Solar (LES) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sediado em João Pessoa, está desenvolvendo um projeto pioneiro no Brasil: uma central de ar condicionado a energia solar.

Para garantir o funcionamento do equipamento sob qualquer condição de céu – aberto, nublado ou chuvoso – o equipamento foi projetado para operar também com gás natural. A central fornecerá ar refrigerado para quatro salas de laboratório do LES, substituindo os tradicionais “aparelhos de janela” que consomem grandes quantidades de energia elétrica.

Cerca de R$ 500 mil foram aprovados para este projeto (para o período de 2006 a 2010), oriundos do Fundo Setorial de Petróleo e Gás do MCT – administrado pelo CNPq –, dos quais 45% já foram liberados e o restante estará disponível a partir deste ano. O projeto foi recentemente apresentado por pesquisadores do LES numa conferência mundial sobre ar condicionado solar, realizada na Espanha, que reuniu cientistas de vários países.

Produzir frio a partir da luz solar tem sido objeto de pesquisa mundo afora desde os anos 80, mas ganhou força nos últimos anos com as projeções alarmantes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para as alterações do clima em escala planetária.

Ar condicionado e efeito estufa
Em termos globais, para cada "unidade de frio" produzida por equipamentos convencionais, uma quantidade equivalente de energia é consumida em usinas termoelétricas. Isto significa despejar na atmosfera do planeta uma quantidade importante de gás carbônico (CO2), que, quantitativamente, é o principal gás responsável pelo efeito estufa.

Os chamados “gases de efeito estufa” (CO2, CH4 e NO2, entre outros) – emitidos por chaminés de fábricas, queimadas, escapamentos de veículos e atividades agropecuárias – impedem a Terra de dissipar o calor gerado pelos raios do sol, provocando, assim, um aumento de temperatura na sua superfície.

Fazendo uma analogia com uma situação corriqueira, efeito estufa é o que acontece dentro de um carro parado no sol com os vidros fechados. Neste caso, é o vidro o causador do efeito estufa; ele deixa entrar a luz solar, mas impede que o calor absorvido pelo estofamento saia de dentro do carro. Resultado: aquele calor sufocante que sentimos ao entrar no carro.

Efeito estufa: o gás carbônico (CO2) retém o calor
gerado pela luz do sol
A situação no Brasil
Embora em nosso país a energia consumida em equipamentos de refrigeração e ar condicionado seja principalmente de origem hidráulica, as usinas termoelétricas devem aumentar sua importância, na medida em que a capacidade hidráulica instalada é limitada e o consumo de eletricidade – insumo básico da atividade econômica – cresce.

De acordo com o coordenador do projeto do LES/UFPB, o professor Antonio Pralon, cerca de 75% da energia consumida em supermercados e shoppings brasileiros é usada para refrigerar produtos e esfriar o ar. Nos hotéis e na indústria têxtil esse percentual também é considerável: 40%. Metade da energia consumida nos aeroportos do país é usada em equipamentos de ar condicionado, diz o pesquisador.

Assim, a energia usada para produzir frio adquire uma dimensão relevante na matriz energética brasileira, afirma Pralon. Para o pesquisador, “nossas necessidades de ar condicionado são grandes porque temos muito sol o ano inteiro e praticamente em todo território nacional. Então, nada mais adequado do que utilizar a energia solar para refrigerar o ar e também – especialmente em localidades não eletrificadas – produtos perecíveis, como alimentos, remédios e vacinas”.

O projeto do LES
A central de ar condicionado solar em desenvolvimento no LES baseia-se num processo comumente usado na indústria química – adsorção – que é a interação física entre um material sólido e um fluido. "Para que o sólido (um meio poroso) tenha sua capacidade de adsorção renovada, ele precisa ser aquecido, liberando, assim, o fluido que estava impregnado em seu interior. É aí que entra a luz do sol. Ela é usada como fonte de calor para aquecer o dispositivo onde está confinado o material adsorvente", explica Pralon.

A idéia de construir um ar condicionado baseado nesse princípio surgiu após os testes – feitos pelo mesmo grupo de pesquisadores do LES – com um refrigerador solar para fabricação de gelo, usando um coletor solar de 1 m2, diz o o professor. Os resultados obtidos em dia de céu limpo superaram as expectativas. Foram extraídos 6 kg de gelo, valor comparável à quantidade média de gelo obtida com refrigeradores solares testados por pesquisadores franceses – pioneiros mundiais da refrigeração solar – em clima semelhante, usando o mesmo tamanho de coletor, mas outro tipo de tecnologia solar.

Máquina de gelo solar: precursora da central de
ar condicionado solar do LES (FOTO: Antonio Pralon)
Parcerias internacionais
O LES mantém parceria com duas instituições mundialmente renomadas na área de refrigeração e ar condicionado solar: o Instituto Francês do Frio Industrial (IFFI), de Paris, França, e o Instituto de Energia Solar Fraunhofer (ISE), de Freiburg, Alemanha – um dos maiores centros de pesquisa aplicada em energia solar do mundo.

Um dos pesquisadores do projeto do ar condicionado solar – Douglas Bressan Riffel, aluno do Programa de Pós- Graduação em Engenharia Mecânica da UFPB – realiza estágio de pesquisa no ISE, como parte de um doutorado financiado pelo MEC. “Esse investimento do governo brasileiro trará uma contribuição importante para as pesquisas realizadas no LES há quase 10 anos, visando uma tecnologia de ar condicionado solar que seja técnica e economicamente viável”, conclui o professor Antonio Pralon, orientador de Riffel.

Publicado em Fevereiro de 2008, em www.radarsertanejo.com

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Preconceito ideológico emperra uso medicinal da maconha

"Não há nada de científico, e sim de ideológico, na proibição do uso médico da maconha." Elisaldo Carlini, médico e especialista em psicofarmacologia, professor da Escola Paulista de Medicina (da Unifesp) desde 1970.

Prof. Elisaldo Carlini
Apesar de classificada pela ONU como droga particularmente perigosa - em Convenção assinada por mais de 200 países, inclusive o Brasil - a maconha é matéria prima de medicamentos nos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra. Marinol e Sativex são os nomes comerciais desses remédios.

Ambos utilizam o princípio ativo da planta Cannabis sativa: o delta-9-THC. São usados para reduzir dores neuropáticas, náusea e vômito provocados pela quimioterapia do câncer, no tratamento de esclerose múltipla, entre outras doenças graves.

Cannabis sativa
Mais sofisticado que o Marinol, o Sativex é fruto de duas cepas de maconha, cujos princípios ativos - misturados em doses adequadas - geram no paciente menor ansiedade e um efeito mais prolongado.

A obtenção dessa qualidade de medicamento se deve muito às pesquisas realizadas nas décadas de 1970 e 1980, na EPM/Unifesp, pela equipe do Dr. Elisaldo Carlini, quem pioneiramente comprovou a melhoria do efeito terapêutico da maconha, ao se mesclar substâncias produzidas por diferentes cepas da planta. "Mas nunca conseguimos tirar nada de positivo desses trabalhos aqui no Brasil para gerar algum produto", lamenta o professor Carlini.

Décadas de pesquisa brasileira, de dedicação de nossos melhores cérebros em psicofarmacologia, para comprovar que a maconha pode gerar produtos importantes para a medicina, diz o especialista. E nenhum resultado prático para o país. Apenas para a indústria farmacêutica de países ricos.

Segundo o Dr. Carlini, são os próprios médicos que tem impedido o licenciamento do delta-9-THC como medicamento para combater os efeitos colaterais da quimioterapia e para aliviar dores em pacientes terminais. Para o professor e pesquisador da Unifesp, um passo importante para destravar essa resistência seria o Brasil conseguir retirar a maconha da lista de drogas malditas da ONU.

FONTE: Revista Pesquisa FAPESP, Fevereiro 2010 No 168.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Cultura é...

"... o boneco de barro feito pelos artistas, seus irmãos do povo, como cultura também é a obra de um grande escultor, de um grande pintor, de um grande místico, ou de um pensador. Cultura é a poesia dos poetas letrados de seu país, como também a poesia de seu cancioneiro popular. Cultura é toda criação humana. Todos os povos tem cultura porque trabalham, porque transformam o mundo e, ao transformá-lo, se transformam. A dança do povo é cultura. A música do povo é cultura, como cultura é também a forma como o povo cultiva a terra. Cultura é também a maneira que o povo tem de andar, de sorrir, de falar, de cantar enquanto trabalha. Cultura são os instrumentos que o povo usa para produzir. Cultura é a forma como o povo entende e expressa o seu mundo e como o povo se compreende nas suas relações com o seu mundo. Cultura é o tambor que soa pela noite adentro. Cultura é o ritmo do tambor. Cultura é a ginga dos corpos do povo ao ritmo dos tambores." Paulo Freire (1921-1997), educador.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Amor & Comunicação

Reflexões à luz de Até que ponto, de fato, nos comunicamos?, de Ciro Marcondes Filho (São Paulo: Paulus, 2004)

Moacyr Scliar, em palestra na última Feira do Livro de Porto Alegre, afirmou que os três escritores que marcaram a literatura do século XX foram Joyce, Kafka e Proust. Com referência à obra desse último, entre outros, é que Marcondes Filho discorre sobre a relação entre amor e comunicação.

Assim, conforme o autor de Até que ponto, em Proust “o amor evidencia o desespero da incomunicabilidade e, quando a dualidade se transforma em unidade, não há mais comunicação no amor”. Finda a comunicação, o resultado da relação amorosa seria o tédio. Para Marcondes, o diálogo entre duas pessoas também se extingue “quando o abismo entre elas é muito estreito para tornar possível uma mediação lingüística”.

De acordo com Marcondes, para o autor de Em busca do tempo perdido a reciprocidade, “a comunicação íntima e profunda” entre duas pessoas é mera ilusão; o que há é a incomunicabilidade gerada pela solidão e pelo mistério, ambos catalisadores da paixão. Ora, se mais adiante assegura Marcondes que a concretização da mulher desejada, por aproximação e posse, “dissolvem o mistério e instaurariam o tédio”, talvez não na solidão, mas na coisa oculta, no segredo que guarda a mulher amada, no seu enigma enquanto ser é que seja possível haver comunicação.
Marcel Proust (1871-1922)
Recorre ao filósofo alemão Hegel (1770-1831) e ao pensador francês Bataille (1897-1962) para pontuar a comunicação em Proust. Evoca o sentimento ambivalente entre amantes; ao mesmo tempo em que são invadidos pela sensação de vida única, sentem-se separados e, a cada separação concretizada, são inclinados a reconciliar-se, num processo contínuo de divisão-união em busca da unidade ou continuidade perdida. A tal “nostalgia da continuidade perdida”, cuja superação só é possível na relação sexual. Mas cada ser, de corpo e alma, é único e não se fusiona no outro, diz Marcondes Filho. Para ele, na raiz desse dilema – da busca, apesar da impossibilidade, de incorporação plena ao outro – está o ciúme, essa sensação de insegurança causada pela possibilidade da perda, que confirma tanto a fragilidade do relacionamento quanto a perseverança da paixão.

Conclui Marcondes Filho seu ensaio sobre comunicação, paixão e ser humano questionando Proust sobre a impossibilidade da comunicação no amor. Ele afirma que em situações peculiares há, de fato, comunicação entre amantes “por procedimentos indiretos, paralelos, mesmo subterrâneos”. O autor de A produção social da loucura vai buscar em romance de Goethe (1749-1832) contra-exemplos a Proust de comunicação na paixão: na leitura conjunta de um livro quando “nossos corações pulsam como um só”, ou em várias outras circunstâncias quando “exprimimos nossos sentimentos sobre o comportamento de outra pessoa”.

Por mais que a literatura, clássica ou contemporânea, nos dê exemplos de incomunicabilidade no amor, os contra-exemplos são muitos, porque a arte imita a vida. E parece não haver dúvida de que a vida é comunicação. Mas o amor seria fruto da comunicação? Ou seria meio de comunicação, como defendia o sociólogo alemão Luhmann (1927-1998)? De acordo com ele, os sentimentos de amor representariam um código simbólico referenciado num contexto histórico-social bem definido. Ou seria o amor uma construção altamente personalizada da comunicação? Certo é que várias são as formas possíveis de comunicar-se no amor, seja na dualidade ou na unidade; mesmo no silêncio, no diálogo não verbal, pode-se esperar comunicação entre amantes.

Aquecimento de água com energia solar

Revista Edificar No 2 Jan. 2010

Por Rogério Pinheiro Klüppel

Foi na Paraíba, onde o Sol nasce primeiro, que se realizaram os pioneiros estudos científicos sobre o aproveitamento da energia solar no Brasil. As pesquisas universitárias iniciadas em 1972 ajudaram a consolidar a indústria nacional de aquecedores, hoje com vários milhões de m2 de coletor solar instalados pelos telhados do Brasil.

Hoje em dia, instalar um aquecedor solar de água é a contribuição mais fácil que alguém pode dar ao esforço comum para exorcizar o fantasma do aquecimento global. Num país onde 6% da energia elétrica produzida era destinada ao chuveiro, cada metro quadrado de coletor solar instalado num telhado libera 56 m² de área de represas para gerar eletricidade para outros usos. Já se falarmos de aquecimento a gás, cada metro quadrado de placa coletora permite a economia anual de 55 kg de gás.




Coletores solares planos para aquecimento doméstico                                 (FOTO: Antonio Pralon)




Além das vantagens ambientais o aquecimento solar tem importantes atrativos econômicos, pois segundo a ANEEL, um aquecedor doméstico permite reduzir a conta de energia elétrica em mais de 25% nas residências classe A, enquanto pode chegar até 50%, no segmento de baixa renda. A economia com eletricidade permite o retorno do investimento feito na instalação num prazo inferior a três anos. Como um bom aquecedor solar tem uma vida útil bem superior a dez anos...
Piscinas residenciais ou de uso comunitário também podem ser aquecidas com energia solar. Se bem que o aquecimento de piscinas possa parecer um tanto supérfluo em cidades do litoral como J. Pessoa e Natal, em locais como Campina Grande, Gravatá, Caruarú, Areia e outros, isso se torna uma necessidade para permitir o uso da piscina durante o inverno.

Mas não só os moradores de casas podem usar aquecedores solares. Os condomínios verticais, hospitais e clínicas além dos setores de hotelaria e restauração também podem se beneficiar com o aquecimento solar para a água de banho e cozinha. O aquecedor solar do Restaurante Universitário da UFPB, instalado em janeiro de 2005 economizou ao longo daquele ano uma quantidade de óleo combustível equivalente ao seu custo. Esse é um exemplo do que o setor público tem a ganhar com a modernização dos equipamentos de uso comunitário como hospitais creches e escolas.

É de olho nessa economia de energia que a maioria dos municípios está contemplando o aquecimento solar nos projetos do novo plano habitacional “Minha Casa Minha Vida”.

O preço final de um aquecedor solar residencial varia entre R$ 2.000,00 e R$ 6.000,00 dependendo do tamanho, que varia com o número de usuários e também da qualidade do equipamento. Ao escolher um sistema é bom não esquecer que aqui, como em toda a construção civil, o investimento em durabilidade é amplamente compensado.

O Brasil, com sua enorme extensão de território sob clima tropical, tem muito a lucrar com a difusão do aquecimento solar. No Nordeste esse lucro vem mais rápido, pois aqui um metro quadrado de coletor solar aquece quase o dobro da água que poderia aquecer se fosse instalado num local como Curitiba, ou São Paulo. Na Paraíba, com quase 3.000 horas de sol anuais, um sistema de aquecimento solar pode trabalhar de graça o ano inteiro sem nunca usar o aquecedor de apoio.

Rogério Pinheiro Klüppel é Engenheiro Mecânico formado pela UFPB, com mestrado na PUC/RJ e doutorado no Departement d`Heliophysique da Université de Provence, na França. Foi professor universitário e coordenador do Laboratório de Energia Solar da UFPB. Atualmente, é empresário do setor de energia renovável

“Instalar um aquecedor solar de água é a contribuição mais fácil que alguém pode dar ao esforço comum para exorcizar o fantasma do aquecimento global”

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

CANUDO EM DEBATE - Observatório da Imprensa

PEC deve restabelecer a exigência de diploma 

Por Antonio Pralon, em 18/8/2009

A argumentação que serviu de base para o Supremo Tribunal Federal (STF) votar favorável à não obrigatoriedade do diploma para exercício da profissão de jornalista tem premissas contestáveis que abrem caminho para que uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), visando a reverter a situação, seja aprovada no Congresso Nacional.

Protestos de diversas entidades profissionais ligadas ao jornalismo contra a decisão do STF ecoaram por todo o país. Respaldado por essas manifestações, o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) apresentou no último dia 1º de julho uma PEC que restabelece a obrigatoriedade do diploma, mas torna facultativa sua exigência para jornalistas habilitados que já possuam registro no Ministério de Trabalho e Emprego (MTE). A PEC em tramitação faculta também a exigência de diploma para colaboradores, tal como previa o decreto-lei impugnado pelo STF.

Captura e sequestro de CO2

Jornal da Ciência, 7 de janeiro de 2009. 

Captura e sequestro de CO2: desafio para o futuro, artigo de Antonio Pralon
 












“Diante dos altos custos requeridos para a captura, transporte e estocagem de CO2, resta saber até que ponto novos projetos de grande porte participarão do mercado de créditos de carbono, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento sustentável dos países menos poluidores”

Antonio Pralon é professor da Universidade Federal da Paraíba e bolsista Capes em estágio pós-doutoral no Instituto Francês do Frio Industrial, em Paris. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

Uma das alternativas mais promissoras para reduzir as emissões de gás carbônico industrial e de centrais térmicas consiste na sua captura no local de produção e posterior armazenagem em camadas profundas do subsolo ou oceano. As outras são a melhoria do rendimento energético da geração termoelétrica e a substituição de combustíveis com alto teor de carbono (carvão e petróleo) por fontes renováveis de energia.

O CO2 recuperado na fonte de emissão pode ser transportado por gasodutos ou via marítima, mediante sua prévia liquefação, e, então, injetado em reservatórios geológicos (poços mortos de petróleo e aqüíferos salinos) ou oceânicos. Essa última alternativa tem sido objeto de pesquisa – especialmente nos Estados Unidos e no Japão – em razão de possíveis danos à fauna e flora marítimas, resultantes da acidificação da água pelo excesso de CO2. A capacidade total de estocagem geológica e oceânica é estimada entre 800 e 12.000 bilhões de toneladas.














 Nos países mais industrializados, os principais emissores de CO2 são usinas termoelétricas, siderúrgicas, refinarias e fábricas de cimento. Na Polônia, cerca de 95% da eletricidade é produzida a partir da queima de carvão, e em vários outros países esse índice é alto, como na Alemanha (~60%) e Estados Unidos (~50%).

As técnicas disponíveis e em desenvolvimento

As diferentes técnicas de captura existentes são elegíveis basicamente em função do tipo da fonte emissora e podem ser enquadradas em três grandes grupos: pós-combustão (captação do CO2 na fumaça após a queima do combustível), oxi-combustão (injeção de oxigênio para aumentar a concentração de CO2) e pré-combustão (principalmente na produção de gás de síntese).

A captura de CO2 requer procedimentos complexos devido, entre outros fatores, à sua baixa concentração nos efluentes gasosos. O gás carbônico é um dos produtos da combustão, além do vapor d’água, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio e outros gases. A integração tecnológica e energética do processo de captação na fonte de emissão de CO2 tem sido objeto de pesquisa em vários países, visando reduzir custos operacionais e de investimento.












As principais técnicas em desenvolvimento são a absorção físico-química (lavagem dos gases pós-combustão com solventes orgânicos), a separação (uso de membranas minerais ou orgânicas) e a adsorção (uso de materiais adsorventes tais como o carvão ativado e a zeolita).

Atualmente, a técnica mais empregada é a da absorção com solventes a base de aminas, devido à larga experiência industrial com o uso desse procedimento. No entanto, numa escala de captura de CO2 planetária, a simples extrapolação desse método parece econômica e ambientalmente inviável, dada a quantidade de solvente consumida no processo.

Dados do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica, na sigla em francês) revelam que, para uma central de 300 MW, cerca de 6,5 toneladas de amina são consumidas por dia. Por outro lado, a captura de CO2 por separação está longe de tornar-se comercialmente viável, uma vez que as membranas mais eficientes ainda limitam-se aos laboratórios de pesquisa.

Assim, a adsorção apresenta-se como uma alternativa potencialmente viável para capturar CO2 em grande escala. Duas técnicas de adsorção têm sido investigadas: o ciclo térmico (similar ao ciclo de absorção) e o ciclo de pressão. Esse último é análogo ao procedimento usado na produção industrial de hidrogênio e tem a vantagem de não requerer substância auxiliar para o transporte de calor, ou seja, utiliza apenas energia mecânica de compressão.

A França se destaca na pesquisa dessa técnica aplicada à captura de CO2, tanto pelo desenvolvimento de novos materiais como no aprimoramento de ciclos térmicos e de pressão.

As técnicas de sequestro derivam da injeção de CO2, comumente usada na exploração de petróleo – via processo EOR (“Enhanced Oil Recovery”) – para aumento de sua produtividade. No Brasil, a Petrobras desenvolve vários projetos para a estocagem de carbono baseada nessa técnica.

Trabalhos apresentados na 9ª Conferência Internacional sobre Efeito Estufa e Tecnologias de Controle de Gás (GHGT-9, na sigla em inglês), ocorrida em Washington em novembro de 2008, mostram que problemas de logística (da compressão, transporte e injeção do CO2 no local de armazenagem) e de impacto ambiental ainda requerem estudos.

As grandes instalações piloto

Apenas algumas dezenas de instalações de captura e estocagem de carbono (CCS, na sigla em inglês) estão em funcionamento no mundo, mas sua disseminação parece inevitável no contexto da atual regulamentação das emissões de carbono, que deve tornar-se ainda mais restritiva após a próxima convenção mundial do clima, no final do ano em Copenhague.

Desde 1996 a Statoil, maior empresa de petróleo da Noruega, desenvolve projetos de CCS de grande porte, com instalações-piloto em plataformas de petróleo e gás no Mar do Norte, no Mar de Barents e na Argélia.












Em Esbjerg, Dinamarca, foi inaugurada no ano passado a maior instalação de CCS do mundo, financiada pela União Européia, através do projeto CASTOR (CO2 from Capture to Storage).

A empresa francesa Alstom firmou recentemente um acordo com a polonesa PGE para instalar até 2011 em Belchatow, Polônia, uma usina com capacidade para capturar 100 mil toneladas de CO2 por ano. Trata-se de uma tecnologia de captura avançada, baseada no uso de aminas, a custos energéticos bem menores do que as técnicas tradicionais de absorção. Outros três projetos-piloto da Alstom estão em curso na Alemanha, Suécia e Estados Unidos.

Perspectivas futuras

Para Ashleigh Hildebrand e Howard Herzog, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), centrais elétricas equipadas com dispositivos de CCS tem custos iniciais 30 a 60% maiores, além de uma diminuição de eficiência na geração, o que implica num kWh final mais caro. Os dados constam do trabalho “Optimization of Carbon Capture Percentage for Technical and Economic Impact of Near-Term CCS Implementation at Coal-Fired Power Plants”, apresentado na GHGT-9.

Os autores do estudo defendem que a melhor estratégia para viabilizar a implantação em larga escala da tecnologia de CCS é proceder por etapas, o que significa equipar as usinas progressivamente, em termos de capacidade de captura de CO2.

Na ótica dos pesquisadores do MIT, a idéia predominante de que a captação total de CO2 na fonte de emissão torna-se economicamente vantajosa em larga escala está equivocada. Eles afirmam que procedimentos de captura parcial permitem reduzir a emissão de CO2 em centrais a carvão a níveis equivalentes aos de centrais a gás, com custos de investimento bem inferiores e menor perda de eficiência.

Segundo dados da companhia francesa Gaz de France – que opera diversas instalações piloto na Europa – os custos atuais de captura de CO2 para uma central termoelétrica de 500 MW variam entre 30 e 60 euros por tonelada, dependendo da tecnologia adotada.

Considerando que as emissões termoelétricas e industriais respondem por cerca de um terço do total de emissões antrópicas de gás carbônico (~23 bilhões de toneladas por ano), a implantação generalizada de sistemas de CCS representaria cifras econômicas consideráveis. A agência de consultoria global McKinsey estima para 2030 uma redução equivalente a 15% da taxa atual de emissões mundiais, com a implantação em larga escala desses sistemas.

Diante dos altos custos requeridos para a captura, o transporte e a estocagem de CO2, resta saber até que ponto novos projetos de grande porte participarão do mercado de créditos de carbono, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento sustentável dos países menos poluidores.

Mudança do Clima

Jornal da Ciência, 25 de novembro de 2008.

Mudança do clima: polêmica sobre diagnóstico, consenso sobre remédio?, artigo de Antonio Pralon
















“Polêmica a parte, o que importa aos habitantes do planeta são as conseqüências da mudança do clima e como elas podem afetar suas vidas”

Antonio Pralon é professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e bolsista Capes em estágio pós-doutoral no Instituto Francês do Frio Industrial, em Paris. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

Assim como os efeitos da alteração climática, a polêmica sobre as suas causas não tem fronteiras. Eclodiu na França há dois anos, agora reaparece na mídia brasileira. Lá, o estopim foi uma crônica (“Neiges du Kilimandjaro”) publicada no semanário l’Express, de autoria do cientista Claude Allègre.

Allègre questionou a influência decisiva da atividade humana e do efeito estufa sobre a mudança do clima, baseado em um estudo da neve na montanha Kilimanjaro (Tanzânia).

Ele não nega a alteração do clima, a qual “jamais houve igual na história dos homens e na história geológica”, mas não considera o aquecimento global o fenômeno essencial, e sim o aumento da freqüência dos fenômenos extremos, como ondas de calor, invernos rigorosos, tempestades, secas prolongadas e furacões violentos. E, acrescenta, “a distribuição geográfica desses fenômenos parece ser aleatória”.

O geofísico francês afirma que outros parâmetros são mais importantes que o aumento antrópico do teor de CO2 na atmosfera, tais como, o ciclo das águas, com a formação de diversos tipos de nuvens, e os efeitos complexos produzidos por aerossóis industriais ou agrícolas.












Em seu artigo sobre o Kilimanjaro, ele fustiga os partidários de uma “ecologia da impotência e do protesto, que se tornou um negócio bem lucrativo para alguns”.

A crítica dirigia-se ao GIEC (Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Evolução do Clima), que publicara um relatório afirmando ser impossível explicar a mudança do clima nos últimos cinqüenta anos sem levar em conta o aumento do efeito estufa causado por emissões antrópicas.

A polêmica atual no Brasil

Recentemente, a controvérsia em torno das previsões do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) foi protagonizada por eminentes figuras do meio acadêmico nacional. Um dos adeptos do “consenso” sobre a principal causa da mudança do clima saiu em defesa dos modelos climáticos, cuja validade foi questionada por um “dissidente”.

Claude Allègre, o protagonista da polêmica de 2006 na França, afirma ser impossível prever a longo termo a evolução do clima, porque ele depende da lógica de fenômenos caóticos. Mesmo ponto de vista de alguns pesquisadores brasileiros, que questionam a validade dos modelos usados para determinar a temperatura global do planeta. Um deles cita o matemático Norbert Weiner – o “pai da cibernética” – que afirmara ser impossível modelar o clima. Este interlocutor inclina-se pela idéia de que o clima na Terra é controlado pelo Sol, através da radiação cósmica incidente.

No campo do IPCC, argumenta-se que a atmosfera, apesar de constituir um sistema caótico, pode ser tratada estatisticamente para prever o clima em longo prazo. Os modelos climatológicos parecem ser as ferramentas mais importantes para prever o clima das próximas décadas, ou haveria outras?
















A metodologia básica consiste em dividir a atmosfera em malhas de 100 por 100 km (na França, de 60 por 60 km) e levar em conta suas interações com os continentes, os oceanos e os glaciais. Os programas são executados em supercomputadores e são constantemente ajustados, com base na observação do clima de períodos passados e do clima presente.

No entanto, alguns especialistas – como o físico e doutor em meteorologia Luiz Carlos Molion – defendem que, para serem de fato representativos, os modelos de clima global precisam ser “parametrizados”. Isto significa incluir os fenômenos que se desenvolvem em escalas inferiores às dimensões das malhas, como o processo de formação e cobertura de nuvens, precipitação e processos físicos envolvendo aerossóis. Molion afirma em um artigo recente que a parametrização “normalmente depende da intuição física do modelador” e, portanto, pode não representar o fenômeno, constituindo uma ferramenta duvidosa.

Afinal, a culpa é do homem ou da natureza?

O primeiro a anunciar que a queima de carvão pelo homem iria produzir o aquecimento do planeta – através de um efeito estufa adicional – foi August Arrhenius, químico sueco Prêmio Nobel em 1913.

Estudos publicados em dois artigos da revista Nature (maio de 2008), revelam que os atuais teores de gás carbônico e metano – principais gases de efeito estufa depois do vapor d’água – são maiores do que aqueles existentes nos últimos 800 mil anos.









Efeito Oásis

Jornal da Ciência, 5 de novembro de 2008.

Efeito oásis para mitigar ilhas de calor, artigo de Antonio Pralon













 “Em termos de legislação, ainda temos muito chão pela frente, até que a energia solar receba os devidos incentivos para uso em larga escala”

Antonio Pralon é professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e bolsista Capes em estágio pós-doutoral no Instituto Francês do Frio Industrial. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

“Efeito oásis” é um conceito defendido pelo cientista francês Francis Meunier – membro do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) e Diretor do Instituto Francês do Frio Industrial, sediado em Paris – para amenizar “ondas térmicas” em áreas urbanas, geradas por “ilhas de calor”.

Para se obter o efeito oásis, o pesquisador francês propõe duas alternativas tecnológicas aos equipamentos convencionais de ar condicionado (A/C), que são responsáveis, em boa medida, pela intensificação das ilhas de calor.

A primeira, é transferir para o subsolo ou para cursos naturais de água (rios, lençóis freáticos, etc) o calor rejeitado dos aparelhos de A/C, principalmente das grandes instalações. A segunda, é usar sistemas de A/C movidos a energia solar (térmica ou fotovoltaica); os raios solares captados nesses equipamentos não estariam mais aquecendo o ar ambiente, mas sim contribuindo para refrigerar espaços fechados.

Para o cientista, se as alternativas acima fossem implementadas em larga escala simultaneamente ao uso de materiais de construção termicamente apropriados, a edificações de baixo consumo energético e ao uso de veículos elétricos, seria possível criar um efeito oásis: áreas urbanas mais frias do que áreas periféricas rurais.











 

Efeito ilha de calor

Parece não haver dúvida nos meios científicos que a atividade humana tem alterado o clima de áreas urbanas, produzindo o chamado “efeito ilha de calor”, cuja conseqüência é o aumento da temperatura do ar ambiente.

Entre os diversos fatores relacionados à atividade humana responsáveis pelo fenômeno ilha de calor, destacam-se:

a) rejeitos térmicos, decorrentes do consumo antropogênico de energia, incluindo transportes;

b) redução do “albedo” – parcela da radiação solar transmitida de volta ao espaço – pelo uso de materiais de construção (concreto, pavimento de ruas, telhados) que absorvem os raios solares;

c) o chamado “efeito canyon radiativo”, provocado pelas trocas de energia entre os telhados das edificações e o céu, que resulta em aumento da energia solar absorvida;

d) redução das superfícies naturais de evaporação e vegetação, causada pelo processo de urbanização;

e) aumento do efeito estufa, devido à emissão de gases resultantes da atividade industrial e dos meios de transporte.

Em decorrência do aumento de temperatura provocado por uma ilha de calor, um aumento na energia consumida pelas edificações torna-se inevitável. Quanto maior a temperatura do ar ambiente, maior a energia consumida nos equipamentos de A/C, uma vez que estes sofrem uma queda de eficiência proporcional à diferença de temperatura entre o ar externo e o espaço a climatizar.

Energia solar térmica ou fotovoltaica?

A análise comparativa do professor Meunier, entre essas duas possibilidades de uso da energia solar para acionar sistemas de A/C, considera tecnologias de refrigeração distintas: um ciclo baseado em sorção, acionado por um coletor solar (CS); e um ciclo a compressão, acionado por um painel fotovoltaico (PV). Nos dois casos, considera-se que o calor retirado do recinto é dissipado no subsolo.

As eficiências de conversão energética adotadas são de 40% para o CS, e de 15% para o PV, valores compatíveis com os equipamentos comerciais disponíveis atualmente. As parcelas da energia solar perdidas por reflexão e radiação do CS e do PV são de 30% e 25%, respectivamente. Tais valores, segundo o autor, são da mesma ordem de grandeza que o albedo médio estimado para áreas não urbanizadas. Porém, como se explica mais adiante, em ambos os casos, a energia solar liberada no ambiente, na forma de calor, é menor do que aquela oriunda da incidência da radiação solar no meio rural.

A análise do balanço de energia nos respectivos ciclos de refrigeração (sorção e compressão) revela que a quantidade de calor liberado no subsolo é praticamente a mesma nos dois casos. Para o sistema PV/compressão, a carga de resfriamento (energia retirada do recinto) é quase duas vezes maior do que no sistema CS/sorção, o que significa um desempenho global melhor da primeira opção tecnológica.

Entretanto, para o sistema CS/sorção, a razão entre o calor liberado para o subsolo e o calor retirado do recinto é duas vezes maior, o que torna este sistema uma opção mais eficiente para mitigar o efeito ilha de calor. Essa vantagem do sistema CS/sorção, em relação ao sistema PV/compressão, resulta dos respectivos valores de “albedo aparente”: 0,7 no primeiro caso, contra 0,4 no segundo.

Isto equivale dizer que o sistema termossolar transfere para o ar ambiente 30% da radiação incidente, enquanto que o fotovoltaico, 60%. O albedo aparente é a soma da fração da radiação solar incidente que é perdida – por reflexão e trocas radiativas – com a eficiência de conversão energética.

Ambas as tecnologias consideradas na análise – CS/sorção e PV/compressão – contribuem para o “efeito oásis” preconizado pelo autor, uma vez que atenuam o efeito da radiação solar sobre a temperatura do ar ambiente, isto é, propiciam albedos maiores que o albedo global médio, e muito superiores ao albedo local (de aglomerações urbanas).

Nova legislação facilita

As proposições do professor Meunier estão em absoluta consonância com as medidas aprovadas pelo parlamento francês no último dia 21, baseadas nos estudos do grupo de trabalho Grenelle Ambiental. O projeto de lei aprovado reafirma o chamado “Fator 4” (redução em 75% das emissões de gases de efeito estufa da França até 2050), e contempla, entre outros, os seguintes pontos:

i) reforço às energias renováveis (geração eólica, principalmente), passando de 20 a 23% a proporção dessas fontes em relação ao consumo de energia primária, até 2020;

ii) generalização de edificações de baixo consumo em 2012, com a renovação (implementação de novos materiais isolantes) de 400 mil unidades por ano, a partir de 2013;

iii) proibição da venda de lâmpadas incandescentes, a partir de 2010;

iv) prioridade ao uso de transporte alternativo (em relação às estradas de rodagem) e ao transporte coletivo (modernização da infra-estrutura ferroviária e criação de 2.000 km de novas linhas até 2020; veículos adquiridos pelo Estado, com emissões de CO2 inferiores a 130 g/km).

Realidade brasileira

Evidentemente, as propostas do professor Meunier não podem ser aplicadas irrestritamente ao Brasil, por diversas razões, embora as alternativas tecnológicas para A/C descritas acima sejam pertinentes a nossa realidade.

A energia consumida por equipamentos de ar condicionado é relevante na matriz energética nacional, conforme indicam alguns dados: na indústria têxtil e em prédios comerciais os sistemas de A/C respondem por 40% do total de energia elétrica consumida; nos aeroportos esse número chega a 50%; em supermercados, centros comerciais (shoppings) e bancos o consumo de energia na climatização supera os 70% do total. O faturamento do setor de A/C em 2007 foi de quase R$ 4 bilhões.

Assim, o uso de sumidouros naturais (subsolo, ou água), além de contribuir para mitigar ilhas de calor nos grandes centros urbanos de nosso país, propicia melhores desempenhos dos sistemas de A/C e, portanto, menores consumos de eletricidade.

Por outro lado, o uso de energia solar para acionar A/C pode ser uma alternativa interessante, especialmente em regiões ensolaradas (Norte e Nordeste), onde a demanda de climatização é alta. A escolha da tecnologia solar, no entanto, deve levar em conta outros fatores, além da eficiência de conversão energética; por exemplo, os custos por metro quadrado, bem como sua disponibilidade no mercado brasileiro.

Obviamente, em termos de legislação, ainda temos muito chão pela frente, até que a energia solar receba os devidos incentivos para uso em larga escala. Enquanto isso, que prossigam as pesquisas aplicadas em ar condicionado solar!