terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Como é a vida nas profundezas da Terra?

Esqueça os ETs, é hora de conhecer os seres intraterrestres

Rocha vulcânica com sinais de atividade microbiana, extraída de um monte submarino na costa do Havaí, EUA (Woods Hole Oceanographic Institution)
http://www.sciencenews.org/view/access/id/337939/title/deeplife_rock.jpg

Enquanto as chances de algum sinal de vida fora da Terra se asseveram cada vez mais pífias, nas profundezas de nossos oceanos há um mundo habitado por alienígenas, ainda bem pouco conhecido dos cientistas.

É grande a diversidade de criaturas estranhas que habita o fundo oceânico; elas podem ser encontradas desde alguns metros além do limite das águas até centenas de metros abaixo, alcançando o interior de rochas. 

A ciência está apenas engatinhando na investigação desse mundo subaquático. No meio do Pacífico Sul, pesquisadores detectaram a presença de bactérias em sedimentos sufocantes e pobres em nutrientes. Já no fundo do Atlântico, descobriram organismos que não se assemelham a qualquer dos seres marinhos conhecidos.

Estas incipientes descobertas são passos importantes, que poderão levar a ciência a mapear o ecossistema do fundo oceânico. O conhecimento da gênese deste tipo de vida pode, ainda, contribuir para uma melhor compreensão da origem da vida na Terra. Ou até, quem sabe, abrir caminho para se obter algum conhecimento consistente sobre eventuais seres extraterrestres, já que os intraterrestres são exemplos de vida em ambientes extremos.

Uma vez que os oceanos cobrem a maior parte do globo, ainda vai demorar muito para se ter uma ideia completa da vida que pulsa na lama e nas rochas abaixo das águas. Alguns especialistas estimam que este bioma (o fundo oceânico) abriga um terço da biomassa do planeta. 

Uma grande população de micróbios e bactérias suboceânicas sobrevive de nutrientes provenientes das águas, como restos de plâncton. Outros organismos são capazes de existir em verdadeiros desertos oceânicos, longe de qualquer terra firme onde haja matéria orgânica.

Pesquisadores coletaram amostras do fundo de oceanos em zonas remotas para estudar a vida sedimentar nos ambientes mais extremos. Descobriram que os micróbios sobrevivem na lama graças à formação de gigantescos turbilhões (do tamanho de continentes) no meio de oceanos, que transportam nutrientes das costas, que por sua vez vão se depositando no solo subaquático,  levando oxigênio a uma profundidade de até 80 metros. 

Como a quantidade de oxigênio detectada foi mínima, os biólogos deduzem que a respiração dos micróbios é bastante lenta, o que surpreendeu o meio científico. Outra hipótese aventada é que os micróbios utilizem como fonte de energia a radioatividade natural liberada por certos elementos presentes nas lamas e rochas. Por este mecanismo, moléculas de água (H2O) são quebradas, e o oxigênio liberado é, então, consumido pelos micróbios.

Antrópode Plutomurus ortobalaganensis, descoberto a 1.980 m abaixo da superfície do mar
(IMAGEM: Rafael Jordana e Henrique Baquero)
http://www.newscientist.com/blogs/shortsharpscience/2012/02/worlds-deepest-land-animal-dis.html

Em 2010, pesquisadores da Universidade de Aveiro (Portugal) e do Museu de História Natural de Valência (Espanha) descobriram quatro espécies intraterrestres, as quais foram classificadas como "colêmbolos" - um tipo de inseto primitivo sem asas (foto).

São seres sem olhos, já que vivem na escuridão total - a cerca de 2 km de profundidade - em uma caverna (Krubera-Voronja) próxima ao Mar Negro, na Geórgia, considerada a mais profunda do mundo.

Outra pesquisa em andamento é a exploração de uma área (distante milhares de quilômetros de um turbilhão) de uma montanha submersa na convergência de placas tectônicas, próxima da costa do estado americano de Washington. 

Os dados são monitorados por uma rede de estações de observação (conhecidas como CORKs), que consistem basicamente de buracos profundos no assoalho oceânico, dotados de vários instrumentos de medição e coleta de material. Esses dados servirão para revelar organismos, modos de vida e alterações populacionais.

Mesmo que os resultados desses estudos não ajudem a desvendar alguma vida extraterrestre, com certeza representam um passo importante para se chegar a um inventário completo dos seres vivos de nossa biosfera. 

Fonte: http://www.sciencenews.org/view/feature/id/337918/title/Deep_Life

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