sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Mundo Multipolar: nova moeda para comércio entre países do BRICS simboliza estabilidade e ética, diz filósofo europeu

Para Marc Luyckx, estrutura do bloco foi concebida para impedir dominação de um Estado sobre outro

Composições do G7 e do BRICS, com novos países membros a partir de 2024. https://www.statista.com/chart/30672/brics-expansion-map/

Em entrevista ao canal YouTube Uneek24 no último dia 28, o filósofo belga e PhD em Teologias Russa e Grega, Marc Luyckx Ghisi, analisa o fim da hegemonia do dólar -como moeda exclusiva do comércio internacional- preconizado pelo bloco formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS).

“Uma moeda é um símbolo que possibilita trocas; ela pode representar segurança, como o dólar no âmbito do Bretton Woods -acordo que instaurou o sistema monetário baseado na moeda americana com lastro em ouro e vigorou entre 1945 e 1975-, mas também pode simbolizar dominação, como o que veio em seguida, com a imposição [pelos EUA] do ‘petrodólar’ como única moeda que os países podiam usar para importar petróleo”, explica Luyckx.

Chefes de estado que não aceitavam esta imposição eram assassinados e seus países destruídos por guerras, abrindo caminho para a dominação do resto do mundo pelos Estados Unidos, complementa o filósofo.

“Agora, entramos numa terceira fase, em que a Rússia, China, Índia, [Brasil] e, ao que tudo indica, dezenas de novos Estados, como Arábia Saudita, Irã, Venezuela, Argentina e alguns países africanos, optam por uma nova moeda, que mais uma vez representa estabilidade, mas também simboliza ética”, diz Luyckx.

De fato, durante a cúpula dos BRICS realizada recentemente em Johanesburgo (África do Sul) mais 6 países ingressaram no bloco econômico: Arábia Saudita, Emirados Árabes, Irã, Egito, Etiópia e Argentina.

“Eles anunciam um mundo multipolar, cuja estrutura foi pensada de tal modo que nenhum país possa dominar, o que remete a uma imagem totalmente diferente [da supremacia exercida pelos EUA até então]. Se eles vão conseguir, não sei, mas pelo menos é uma tentativa de criar uma moeda que, ao invés de simbolizar dominação, remete à justiça”, afirma o teólogo.

Para Luyckx, trata-se de uma proposta baseada em uma “lógica horizontal”, em que o dólar e “seu apêndice euro” tornam-se “periféricos” diante do novo sistema monetário em gestação. “O dólar e o euro perderam a batalha”, conclui.

“A moeda atualmente em vigor é criada a partir do nada; o banco central oferece 1 milhão ao cliente, mas ele tem que pagar em 30 anos. Este modelo, inventado pelos Estados Unidos, é um sistema que purga o dinheiro do cidadão para enriquecer os bancos”, afirma Luyckx.

Autor de The knowledge society – A breakthrough toward genuine sustainability (livro publicado em 2008, com acesso livre na Internet), Luyckx constata que a Rússia -apoiada pela China, Índia e um número crescente de outros países mundo afora- interrompeu aquele sistema.

“De certo modo, assim como a guerra na Ucrânia, começamos a nos dar conta de que [no jogo da geopolítica mundial] o ocidente ‘perdeu a mão’; o dólar e o euro perderam seu domínio e o mundo caminha para algo novo”, diz Luyckx.

Ele lembra as tentativas frustradas e trágicas de chefes de estado que tentaram impor uma nova moeda para suas trocas, especialmente o comércio de petróleo: Kadafi, ex-presidente da Líbia assassinado em 2011, tentou criar uma moeda panafricana lastreada em ouro, e Saddam Hussein, ex-presidente do Iraque assassinado em 2006, também ousou questionar o petrodólar.

A boa nova, segundo Luyckx, é que, na atual realidade, é muito difícil eliminar Putin ou Xi Jinping. “Nós perdemos”, afirma categórico. E acrescenta que a nova moeda abrange três quartos da população mundial, o que não é “algo menor”; trata-se da maioria dos habitantes do planeta, que se beneficiará do novo sistema monetário.

“Como vai funcionar, quais os riscos implicados? Isto ninguém sabe. Na política não se podem prever essas coisas. Mas o que se sabe é que o euro e o dólar perderam a batalha”, diz.

Ex-consultor de presidentes da Comissão Europeia por quase 10 anos (1990-1999), Marc Luyckx lembra que foram os europeus que criaram o sistema de pagamentos a distância, em vigência desde as Cruzadas. “Nós dominamos o sistema monetário mundial há 10 séculos e é esta primazia que agora se termina para sempre. É algo grandioso!”

Ele esclarece que a nova moeda será lastreada em ouro e matérias primas (commodities), como o petróleo; “é um símbolo monetário que remete à estabilidade”. Para Luyckx, é possível que haja um processo de anulação de dívidas, uma mudança profunda no sistema de taxação (os impostos serão reduzidos) e um aumento progressivo da renda do trabalho, gerando mais prosperidade.

“Se de fato o sistema monetário mundial vigente é dominado por banqueiros bilionários, como JP Morgan, Rockfeller e Rothschild, os russos, chineses e indianos estão serrando o galho sobre o qual eles estão sentados”, diz Luyckx.

Enquanto a moeda atual representa dominação e desapropriação, a nova moeda dos BRICS traz uma mensagem de estabilidade, defende Marc Luyckx. Ironicamente, ele finaliza: “me desculpe por anunciar boas notícias, mas estamos realmente vivendo um processo em que emerge um novo paradigma monetário mundial.”

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=qJPfjYOe49Y&t=24s 

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