segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Geoengenharia: manipulação do clima para conter aquecimento do planeta?

Técnicas para gerenciar radiação solar e reduzir CO2 são citadas em relatório do IPCC, mas com ‘baixo grau de confiança’

Três propostas da geoengenharia para conter o aquecimento climático: 1) instalação de refletores espaciais na órbita terrestre; 2) injeção de aerossóis na atmosfera; 3) refletores terrestres para aumentar o albedo (parcela da radiação solar refletida)
Adaptado de http://actu-chemtrails.over-blog.com/article-le-cfr-parle-geo-ingenierie-61804646.html

A geoengenharia foi sem dúvida o tema mais polêmico tratado na primeira parte do relatório do painel da ONU sobre mudança climática (IPCC), divulgado na última sexta-feira. 

Ela envolve técnicas que visam resfriar artificialmente a Terra; ainda restritas a laboratórios, inspiram projetos dignos da ficção científica.

Como era de se esperar, os cientistas do IPCC reforçaram a ideia de que o clima está cada vez mais a mercê das atividades humanas. 

Afirmam ‘com mais de 95% de certeza’ que é o homem o maior responsável pela mudança climática e pela intensificação de fenômenos extremos que ameaçam o planeta. No relatório anterior (de 2007) esta convicção era de 90%. 

É verdade que nos últimos 15 anos o aquecimento vem ocorrendo em doses muito pequenas (0,05ºC por década), num ritmo bem menor do que o observado nos últimos 70 anos, quando a temperatura global aumentou em média 0,12ºC por década. O degelo e o nível do mar também não param de crescer, no pior cenário, deve subir quase 1 metro até 2100. 

Mas será que para combater os inelutáveis mecanismos de “retroação” (efeitos da mudança climática agindo como suas próprias causas) identificados pela ciência a manipulação deliberada do clima ajudaria? 

A chamada geoengenharia pretende, por um lado, desenvolver dispositivos gigantescos que permitam reduzir a radiação incidente, refletindo os raios de sol de volta ao espaço antes que atinjam a atmosfera. 

Por outro lado, vislumbra técnicas que possibilitem retirar CO2 do ar e armazená-lo em reservatórios oceânicos, no subsolo ou em forma de biomassa, reduzindo assim o efeito estufa causador do aquecimento atmosférico. 

“Precisamos avaliar os fundamentos dessas tecnologias e seu efeito sobre o ciclo do carbono; considerando a escassez de literatura sobre o tema, optamos por indicar um baixo grau de confiança para o conjunto dos resultados disponíveis”, declarou (em entrevista ao jornal francês Libération) Philippe Ciais, um dos 259 autores do 1º volume do relatório IPCC. 

Apesar do ceticismo do conjunto de cientistas do Painel da ONU, experiências de geoengenharia em escala laboratorial se multiplicam, com apoio governamental, principalmente nos Estados Unidos. 

O pai da Boma H e árduo defensor do projeto “guerra nas estrelas”, Edward Teller, já preconizava em 1997 a instalação de “canhões de aerossóis” em torno da Terra, para simular o efeito semelhante ao de erupções vulcânicas, fazendo refletir os raios solares e, assim, reduzir a temperatura global. 

Essa técnica, no entanto, pode engendrar como efeito colateral chuvas ácidas, adverte o climatólogo francês Hervé le Traut. “O sistema climático é muito complexo e frágil; o recurso à injeção de aerossóis causaria aquecimento localizado em certas regiões durante o inverno, e resfriamento em outras”, explica le Traut. 

Além de desequilíbrios locais no clima, essas partículas artificiais poderiam prejudicar a saúde humana. Na química dos aerossóis, estão produtos altamente tóxicos como o alumínio e o bário, que podem causar diversos distúrbios orgânicos e doenças (mal de Alzheimer, arritmias, hipertensão arterial, problemas digestivos, etc.). 

Outra possibilidade da geoengenharia, para reduzir a quantidade de radiação solar que atinge a atmosfera, seria colocar em torno da órbita terrestre megaparassóis, aparatos refletores da luz solar. Imaginem o tamanho de uma “engenhoca” dessas, como seria o seu controle, o custo estratosférico de um tal projeto... 

Na seara de redução do gás carbônico, um dos mecanismos propostos pela geoengenharia é injetar nos oceanos fertilizantes à base de ferro, para intensificar a reprodução de fitoplanctons, principal sumidouro de CO2. Segundo especialistas, esta técnica provocaria alterações no ciclo das águas e poderia aumentar a acidificação dos oceanos, ameaçando a vida marinha.

Em qualquer dos casos, a geoengenharia global, em escala planetária, por ora representa apenas concepções que incitam muito mais dúvidas do que certezas, acerca dos efeitos colaterais e de sua eficácia sobre o frágil ecossistema terrestre.

Um comentário:

  1. Fica muito mais barato e eficaz planejar uma politica energética e indiustrial.

    ResponderExcluir