Graças
à drástica redução do desmatamento entre 2004 e 2012, a participação do Brasil nas
emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) caiu de 6,2% para 2,9%.
Mas, de acordo com o Observatório do Clima – uma rede de 35 ONGs –, o período de queda
de nossas emissões poluentes estaria no fim, dando lugar a uma tendência de alta.
O maior vilão do crescimento das emissões brasileiras de GEE no período 2004-2012 foi o setor de energia, que ampliou suas emissões em 126%.
A
taxa de desflorestação da Amazônia caiu 70% no mesmo período, fazendo com que as
emissões relativas à Mudança do Uso da Terra diminuíssem consideravelmente (42%). Mas
não o suficiente para compensar o avanço no ritmo das emissões de outros
setores, como Agropecuária e Energia.
Este
último, que representava 11% das emissões em 2004, saltou para 30% do total emitido em 2012. Desmatamento, agropecuária e energia respondem juntos por cerca
de 90% de nossas emissões totais.
No
setor de Processos Industriais, o avanço foi de 65% e no de Resíduos 64%, de
2004 a 2012. Já no setor de Agropecuária, as emissões cresceram 45% no período.
Os
gráficos abaixo mostram a evolução das emissões nos quatro setores mais
poluidores, no período de 1990 a 2012, em milhões de toneladas de dióxido de
carbono equivalente (MtCO2e).
Nos
anos 90, mudanças do uso da terra (principalmente queimadas) respondiam por 70%
de todas as emissões nacionais. No final de 2012, sua participação era de 34%,
próxima à da agropecuária e à da energia (com 30%, cada).
A
crise econômica global, eclodida em 2008, explica a queda das emissões em 2009,
nas áreas industrial e de energia. Em 2010, essas emissões voltaram a crescer,
dando prosseguimento a uma tendência de alta até 2012.
O
Documento de Análise do Observatório do Clima aponta o setor agropecuário como
principal fonte de emissões de GEE no Brasil, respondendo por 64% do total.
Pouco
mais da metade dessas emissões se deve à transformação de florestas em
pasto e áreas agrícolas. Outra parcela provém de atividades diretas da
agropecuária (fermentação e manejo de solos); uma parcela menor vem do
consumo de energia e de processos industriais ligados ao agronegócio.
A
indústria vem em segundo lugar, com 19% das emissões totais, sendo a maior parte
oriunda da produção e do consumo de energia e dos processos industriais; uma
pequena parcela provém de resíduos.
O
setor de transportes é o terceiro mais poluidor, com 14% do total
de emissões, graças a dois vilões: caminhões e veículos individuais
(carros e motos). Os primeiros emitem 5 vezes mais que aviões, trens e
hidrobarcas. Os últimos poluem 3 vezes mais que ônibus.
Agropecuária,
indústria e transporte respondem por 97% das emissões totais brasileiras; o
restante é atribuído aos setores residencial e de serviços.
“As
estimativas geradas apontam uma clara tendência de crescimento nas emissões de GEE; elas ainda não captam o aumento do desmatamento da Amazônia em
2013, [o que indica] que podemos chegar a 2020 com emissões em ascensão”, diz o
Observatório do Clima.
“O
Brasil deverá cumprir a meta voluntária de redução de emissões fixada em 2010
para 2020, mas é provável que nos próximos anos reduções adicionais do
desmatamento sejam menores que o avanço de emissões nos demais setores”, alerta
Tasso Azevedo, coordenador do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissão de GEE).
Por
outro lado, as taxas de crescimento econômico bem abaixo da projeção oficial
devem ajudar a reduzir nossas emissões, cujas metas “foram definidas em 2010 com
base em um crescimento anual médio da economia de 4% a 5%, bem distante da
realidade de nossa matriz energética”, diz Azevedo.
De
1990 a 2012, as emissões nacionais brutas de GEE avançaram 7%, ante um aumento
das emissões planetárias de 37%, colocando o país na 7ª posição do ranking de
maiores emissores.
O
Brasil precisa reduzir suas emissões a níveis bem abaixo dos atuais, o que
implica em promover um novo modelo de desenvolvimento, voltado a uma economia
de baixo carbono, adverte o fórum (OC).
O
esforço do país deve ser compatível com sua responsabilidade sobre a qualidade
do clima e sua capacidade de contribuir para limitar o aquecimento atmosférico,
conforme a meta fixada pelo IPCC.
Entre
as principais medidas apontadas pelo OC estão: i) zerar as emissões por
desmatamento, ii) neutralizar as emissões na agropecuária, iii) intensificar o
uso de fontes renováveis na matriz energética, iv) recuperar áreas degradadas e
desmatadas para ampliar a captura de carbono e, v) universalizar o tratamento biológico
de resíduos sólidos e esgoto, aproveitando o biogás e materiais recicláveis.
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