quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Emissões poluentes: 1% dos mais ricos respondem pelo dobro do CO2 emitido por 50% dos mais pobres

De 1990 a 2015, as emissões antrópicas de carbono cresceram 60%; entre 1% das pessoas mais ricas, as emissões aumentaram três vezes mais do que entre metade das mais pobres

13,5 milhões de brasileiros vivem na miséria com renda mensal de até R$ 145 (~ 25 US dólares)
https://observatorio3setor.org.br/noticias/135-milhoes-de-brasileiros-vivem-na-miseria-com-renda-de-ate-r-145/

A riqueza do planeta está cada vez mais concentrada nas mãos de um pequeno número de pessoas. Os mais ricos consomem muito mais bens e serviços à custa de energia fóssil e, portanto, respondem por emissões de carbono bem maiores do que os mais pobres.

A conclusão de um estudo da Oxfam e o Stockholm Environment Institute, divulgado no último dia 21, é que uma pessoa do grupo dos 1% mais ricos emite mais CO2 do que cem pessoas do grupo dos 50% mais pobres do mundo.

Com base em dados de 1990 a 2015, as instituições autoras do estudo advertem que o “orçamento carbono” -um teto de emissões toleradas para manter a temperatura global abaixo de um limite de segurança fixado pela ciência- está se exaurindo rapidamente.

Além de levar o planeta à beira de uma catástrofe climática, a concentração das emissões de CO2 nas mãos dos mais ricos significa uma incapacidade de melhorar a vida de bilhões de pessoas, diz Tim Gore, responsável pela política, advocacia e pesquisa da Oxfam Internacional.

“O orçamento global de carbono foi desperdiçado, porque ao invés de melhorar a qualidade de vida da humanidade, foi usado para expandir o consumo daqueles que já eram ricos”, declara Gore ao jornal britânico The Guardian. Ele explica que uma quantidade de carbono limitada poderá ser adicionada à atmosfera se quisermos evitar os piores impactos da crise climática.

Os 10% mais ricos da população mundial, cerca de 630 milhões de pessoas -número de habitantes dos EUA, Brasil e Turquia somados- responderam por 52% das emissões totais de carbono no período de 25 anos (1990-2015). Globalmente, os 10% mais ricos são aqueles com renda per capita anual acima de 35 mil US dólares; os 1% mais ricos tem uma renda anual maior que 100 mil US dólares.

O carbono emitido por atividades humanas vai se acumulando na atmosfera, contribuindo para seu aquecimento. Uma elevação de temperatura acima de 1,5 oC, em relação ao nível da era pré-industrial, causaria danos generalizados aos sistemas naturais e um aumento da ocorrência de fenômenos extremos.

Este acúmulo da concentração de CO2 atmosférico impõe um limite ao orçamento de carbono. Mantido o atual ritmo de emissões, o orçamento de carbono se esgotará em uma década, advertem os cientistas do clima.

Segundo o relatório da Oxfam/Stockholm Environmental Institute, se nos próximos dez anos as emissões oriundas do consumo dos 10% mais ricos não forem controladas, mesmo que o restante da população mundial reduza suas emissões para zero, a temperatura do planeta deve aumentar 1,5 oC.

Enquanto o mundo investe na transição energética em prol de fontes renováveis, as emissões de carbono inevitáveis neste período deveriam representar prioritariamente ações para melhorar as condições de vida da maioria dos habitantes do planeta, argumenta a Oxfam.

O setor de transportes é apontado como um dos principais impulsionadores do aumento das emissões; nos países ricos as pessoas tendem a usar mais carros poluidores e a fazer mais viagens de avião, que é uma outra fonte importante de emissões de carbono.

A Oxfam defende a cobrança de impostos maiores sobre artigos de luxo e serviços com alto teor de carbono, como taxar os passageiros frequentes das companhias aéreas, e investir estes recursos em alternativas de baixo carbono e para melhorar a qualidade vida dos mais pobres.

“Não se trata de taxar pessoas que viajam de férias em família uma vez por ano, mas sim de sobretaxar aqueles que fazem viagens intercontinentais todo mês”, explica Tim Gore.

Ele diz que, embora a pandemia de coronavírus tenha temporariamente reduzido as emissões, é muito provável que seu impacto sobre o orçamento de carbono seja insignificante, já que as emissões voltaram a crescer em todo o mundo após o relaxamento das medidas de bloqueio e isolamento social.

A Oxfam acredita que a experiência de lidar com a pandemia torne as pessoas mais conscientes da necessidade de se evitar uma catástrofe futura.

Como disse a deputada do Partido Verde britânico, Caroline Lucas, “[a situação atual] é uma ilustração emblemática da profunda injustiça no coração da crise climática; os mais expostos e vulneráveis ao seu efeito são os que menos emitem gases de efeito estufa, que são a sua causa”.

Fonte: https://www.theguardian.com/environment/2020/sep/21/worlds-richest-1-cause-double-co2-emissions-of-poorest-50-says-oxfam

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