quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Estudo global correlaciona 15% das mortes por COVID-19 à poluição do ar

Cenário de pandemia sob atmosfera poluída explicaria excesso de mortalidade potencialmente evitável, dizem pesquisadores

https://impakter.com/covid-19-link-with-air-pollution-italys-and-chinas-experience/

A ciência comprovou recentemente que a poluição atmosférica é bem mais prejudicial à saúde humana do que se imaginava. “Um flagelo que se soma à pandemia de Covid-19, mais devastador que a malária, a AIDS ou o tabagismo”, como escreveu Nathalie Mayer, jornalista divulgadora de ciência.

Agora, um novo estudo estima que três em cada vinte mortes por Covid-19 no mundo podem estar associadas à exposição prolongada dos pacientes ao ar poluído.

Os resultados da pesquisa estão no artigo Regional and global contributions of air pollution to risk of death from COVID-19, de autoria de alemães e cipriotas, publicado no journal Cardiovascular Research no último dia 27.

Os pesquisadores analisaram dados relativos à poluição do ar, pacientes de Covid-19 e SARS, uma doença respiratória similar àquela causada pelo novo coronavírus. E combinaram esses dados com aqueles da exposição de partículas microscópicas capturados por satélite e dados de redes de monitoramento de poluição no solo, para avaliar a influência da poluição atmosférica nas mortes por Covid-19.

Coordenado pelo professor Jos Lelieveld do Instituto de Química Max Planck, de Mainz (Alemanha), o estudo revelou os seguintes percentuais dos óbitos de pacientes de Covid-19 relacionados à poluição do ar, por região geográfica: Leste Asiático 27%, Europa 19%, América do Norte 17%, Sul Asiático 15%, América do Sul 9%, Oeste Asiático 8%, África 7%, Oceania 3%.

Para os autores, “esses percentuais de óbitos atribuídos à Covid-19 em atmosferas poluídas poderiam ser evitados, caso a população respirasse um ar com menor concentração de poluentes derivados de combustíveis fósseis e de outras atividades antrópicas”, como escrevem no artigo.

Eles esclarecem que “os percentuais atribuídos não implicam em uma relação direta de causa e efeito entre poluição atmosférica e mortalidade por Covid-19, mas indicam que o agravamento de comorbidades pela má qualidade do ar pode levar à morte pacientes infectados por coronavírus”.

“Se a exposição de longo prazo à poluição do ar e a infecção viral se sobrepõem, o paciente pode ter o seu coração e os vasos sanguíneos comprometidos”, diz um dos autores do artigo, Thomas Münzel, do Centro de Pesquisas Cardiovasculares da Alemanha.

Os dados epidemiológicos que embasaram o estudo foram coletados até a terceira semana de junho; para os pesquisadores, uma avaliação mais abrangente necessitaria a coleta de dados até que a pandemia seja amenizada.

Na Europa, 2/3 do percentual (19%) de óbitos por Covid-19 associados à poluição do ar corresponde a emissões poluentes de origem fóssil. A República Tcheca, Alemanha e Suíça registram os maiores percentuais, com 27%, 22% e 21% respectivamente. Com valores intermediários, Suécia (16%), Itália (15%) e Reino Unido (14%); e com percentual baixo, Portugal (8%).

Na América do Sul, 1/3 da fração atribuída (9%) deve-se às emissões ligadas ao uso de fontes não renováveis. O Brasil responde com 12%. Em termos globais, pouco mais da metade (8%) -da fração de mortes por Covid-19 relacionadas à má qualidade do ar (15%)- se deve às emissões decorrentes de combustíveis fósseis.

Esta abordagem, distinguindo a fonte de emissões resultante do uso de energia fóssil de outras de origem humana, confere ineditismo ao trabalho conjunto de alemães e cipriotas.

Como as mortes por Covid-19 não param de crescer, é impossível saber qual a quantidade de pessoas cujo óbito pode ser associado à poluição atmosférica. A título de exemplo, na data de publicação do estudo (27/10), o Reino Unido registrava um número de mortes superior a 44 mil. Isto significa que mais de 6.100 pacientes que morreram de Covid-19 tiveram sua condição clínica agravada pela poluição do ar.

“Quando as pessoas inalam ar poluído, partículas poluentes muito pequenas migram dos pulmões para os vasos sanguíneos, causando inflamação e estresse oxidativo severo que provocam estreitamento e enrijecimento das artérias. Pelo mesmo mecanismo, o vírus SARS-CoV-2 age no organismo, causando uma disfunção endotelial.”, explica o professor Münzel.

Os autores do estudo afirmam que sem uma mudança fundamental na forma como as cidades se abastecem, incluindo uma transição energética em prol de fontes renováveis, a poluição do ar continuaria matando muitas pessoas, mesmo após uma atenuação da pandemia.

“A pandemia termina com a vacinação da população ou a imunidade rebanho. No entanto, não existem vacinas contra a má qualidade do ar e a mudança climática. O remédio é mitigar as emissões poluentes”, escrevem os autores.

“A transição para uma economia verde, com fontes de energia limpa e renovável irá promover saúde pública e ambiental localmente, mediante a melhoria da qualidade do ar, e globalmente, pela mitigação da mudança climática”, concluem.

Fonte: https://www.escardio.org/The-ESC/Press-Office/Press-releases/study-estimates-exposure-to-air-pollution-increases-covid-19-deaths-by-15-world

https://academic.oup.com/cardiovascres/advance-article/doi/10.1093/cvr/cvaa288/5940460#209598733

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