Impulsionado por queimadas na Amazônia, aumento de gases estufa reflete desmonte de políticas ambientais patrocinado pelo governo federal
Desde 2010, quando a
Política Nacional sobre Mudança Climática foi regulamentada, o Brasil elevou
suas emissões atmosféricas de gases poluentes em 28,2%. O aumento registrado só em 2019 representa 1/3 do incremento total das emissões em dez anos: 9,6%.
A conclusão é do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). No ano passado, o país despejou na atmosfera 2,17 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2), ante 1,98 bilhão em 2018.
Confrontando o aumento das emissões com a produção de riquezas (PIB) no mesmo ano, não é difícil constatar que o Brasil vai na contramão dos países mais ricos do mundo, que poluem a atmosfera mais ou menos na mesma medida em que suas economias crescem.
De acordo com os dados do
SEEG, a quantidade de gases de efeito estufa (GEE) lançados na atmosfera
brasileira em 2019 teve a seguinte distribuição: uso da terra (44%), agropecuária
(28%), energia (19%), processos industriais (5%) e resíduos (4%).
Comparando esses dados com
os de 2018, observa-se que o aumento se deu principalmente em “mudanças de uso
da terra”, que engloba desmatamento -principalmente por fogo e especialmente na
Amazônia- para expandir fronteiras agrícolas, visando basicamente o fomento do
agronegócio.
Enquanto o setor de uso da
terra respondeu por um aumento de 23% na quantidade de CO2 equivalente emitido
no ano passado em relação a 2018, o de agropecuária avançou 1,1%. De 2010 a
2019, a expansão do rebanho acumula uma elevação de 7% em suas emissões de GEE,
enquanto aquelas decorrentes das mudanças de uso da terra cresceram 64% no
período.
Já as emissões do setor de
energia, impulsionadas por uma maior geração com termelétricas a gás,
avançaram pouco em 2019, graças à recuperação do consumo de etanol -que retomou
seu nível de antes da crise de 2012- e ao aumento progressivo do uso de
biodiesel no transporte de carga e de passageiros.
Apenas “processos
industriais e uso de produtos” apresentou redução (2%) em suas emissões no ano
passado, basicamente devido à desaceleração da atividade siderúrgica, decorrente
de uma retração do setor industrial. Este foi o setor com menor crescimento das emissões de GEE no período 2010-2019, que foi de 3,7%; já o de resíduos, avançou
22,8% no período e 1,3% em 2019.
Sem considerar as mudanças
de uso da terra, as emissões brasileiras tiveram um crescimento médio anual de
9,2%, desde 2010. As emissões brutas por habitante (emissões per capita) no
Brasil foram quase 50% maiores do que a média mundial, colocando o país como
o 6º maior emissor, ou 5º, se excluímos do ranking o bloco europeu de 28
países.
O desmatamento tem um peso
crucial nas emissões brutas brasileiras; se considerarmos estados amazônicos,
como Mato Grosso, Rondônia e Roraima, a emissão per capita supera de 3 a 6 vezes
a dos EUA. Já nossas emissões per capita líquidas se aproximam da média mundial:
7,5 tCO2 contra 7,1 tCO2.
Uma aceleração do desmatamento como o verificado em 2019 explica o aumento anual de 3% na “intensidade de carbono” da economia nacional.
Em outras palavras, estamos produzindo menos
riqueza para cada tonelada de carbono emitido. De 1990 a 2018, o Brasil registrou
uma queda de 692 para 291 tCO2 emitido para cada R$ 1 milhão de PIB produzido. Mas em
2019 subiu para 300 tCO2.
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