quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Clima: emissões brasileiras aumentaram quase 10% em 2019, com PIB 1,1% maior

Impulsionado por queimadas na Amazônia, aumento de gases estufa reflete desmonte de políticas ambientais patrocinado pelo governo federal

Imagem aérea da região de Candeias do Jamari, próxima de Porto Velho (RO), em 24 de agosto de 2019. FOTO: Victor Moriyama/Greenpeace/AFP

Desde 2010, quando a Política Nacional sobre Mudança Climática foi regulamentada, o Brasil elevou suas emissões atmosféricas de gases poluentes em 28,2%. O aumento registrado só em 2019 representa 1/3 do incremento total das emissões em dez anos: 9,6%.

A conclusão é do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). No ano passado, o país despejou na atmosfera 2,17 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2), ante 1,98 bilhão em 2018.

Confrontando o aumento das emissões com a produção de riquezas (PIB) no mesmo ano, não é difícil constatar que o Brasil vai na contramão dos países mais ricos do mundo, que poluem a atmosfera mais ou menos na mesma medida em que suas economias crescem.

De acordo com os dados do SEEG, a quantidade de gases de efeito estufa (GEE) lançados na atmosfera brasileira em 2019 teve a seguinte distribuição: uso da terra (44%), agropecuária (28%), energia (19%), processos industriais (5%) e resíduos (4%).

Comparando esses dados com os de 2018, observa-se que o aumento se deu principalmente em “mudanças de uso da terra”, que engloba desmatamento -principalmente por fogo e especialmente na Amazônia- para expandir fronteiras agrícolas, visando basicamente o fomento do agronegócio.

Enquanto o setor de uso da terra respondeu por um aumento de 23% na quantidade de CO2 equivalente emitido no ano passado em relação a 2018, o de agropecuária avançou 1,1%. De 2010 a 2019, a expansão do rebanho acumula uma elevação de 7% em suas emissões de GEE, enquanto aquelas decorrentes das mudanças de uso da terra cresceram 64% no período.

Já as emissões do setor de energia, impulsionadas por uma maior geração com termelétricas a gás, avançaram pouco em 2019, graças à recuperação do consumo de etanol -que retomou seu nível de antes da crise de 2012- e ao aumento progressivo do uso de biodiesel no transporte de carga e de passageiros.

Apenas “processos industriais e uso de produtos” apresentou redução (2%) em suas emissões no ano passado, basicamente devido à desaceleração da atividade siderúrgica, decorrente de uma retração do setor industrial. Este foi o setor com menor crescimento das emissões de GEE no período 2010-2019, que foi de 3,7%; já o de resíduos, avançou 22,8% no período e 1,3% em 2019.

Sem considerar as mudanças de uso da terra, as emissões brasileiras tiveram um crescimento médio anual de 9,2%, desde 2010. As emissões brutas por habitante (emissões per capita) no Brasil foram quase 50% maiores do que a média mundial, colocando o país como o 6º maior emissor, ou 5º, se excluímos do ranking o bloco europeu de 28 países.

O desmatamento tem um peso crucial nas emissões brutas brasileiras; se considerarmos estados amazônicos, como Mato Grosso, Rondônia e Roraima, a emissão per capita supera de 3 a 6 vezes a dos EUA. Já nossas emissões per capita líquidas se aproximam da média mundial: 7,5 tCO2 contra 7,1 tCO2.

Uma aceleração do desmatamento como o verificado em 2019 explica o aumento anual de 3% na “intensidade de carbono” da economia nacional.

Em outras palavras, estamos produzindo menos riqueza para cada tonelada de carbono emitido. De 1990 a 2018, o Brasil registrou uma queda de 692 para 291 tCO2 emitido para cada R$ 1 milhão de PIB produzido. Mas em 2019 subiu para 300 tCO2.

Fonte: https://seeg-br.s3.amazonaws.com/Documentos%20Analiticos/SEEG_8/SEEG8_DOC_ANALITICO_SINTESE_1990-2019.pdf

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