quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Mudança climática está custando trilhões ao mundo e países mais pobres pagam maior parte da conta

Aquecimento global pode ter gerado custos que beiram 30 trilhões de dólares em 20 anos; nações menos desenvolvidas ficam com alta fração do prejuízo

Enchente em Jakarta, Indonésia, após chuvas torrenciais em fevereiro de 2021. FOTO: Dita Alangkara/Associated Press

Uma pesquisa, publicada em 28 de outubro deste ano na revista Science Advances, estima que a economia global perdeu entre 5 e 29,3 trilhões de dólares (de 28 a 164 trilhões de reais, ao câmbio de hoje), em consequência do aumento da temperatura planetária, no período de 1992 a 2013.

Só que a distribuição dos danos financeiros não foi nada proporcional à quantidade de gases de efeito estufa emitida por cada país. Proporcionalmente à quantidade de suas emissões, os países mais desenvolvidos e ricos pagaram pouco.

Segundo o estudo, os efeitos da crise climática causaram uma redução de 6,7% na remuneração média da população de países tropicais de baixa renda, enquanto os países de alta renda per capita tiveram uma redução de apenas 1,5%.

A título de comparação, um estudo de 2014 avaliou que os Estados Unidos deveriam desembolsar 1 trilhão de dólares até 2100, para bancar os prejuízos decorrentes da mudança climática em suas áreas costeiras, que incluem a elevação do nível do mar e a ocorrência de ciclones tropicais.

O estudo “A economia das mudanças climáticas”, do Swiss Re Institute, publicado em abril de 2021, mostrou que os efeitos do aquecimento planetário devem reduzir de 11% a 14% a produção econômica global até 2050 – comparada àquela isenta da ocorrência de fenômenos meteorológicos extremos –, o que equivale a um prejuízo de 23 trilhões de dólares.

Já o estudo recente, publicado na Science Advances sob o título Globally unequal effect of extreme heat on economic growth (“Efeito globalmente desigual do calor extremo no crescimento econômico”), alerta para a necessidade da aplicação efetiva de políticas climáticas que reduzam as injustiças ambientais.

Os resultados desta pesquisa “devem nortear as discussões sobre perdas e danos, que estarão na COP27”, diz Kai Kornhuber, cientista climático da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA).

O impacto desigual do aquecimento global é “algo sobre o qual já se falou bastante em termos qualitativos”, diz Vikki Thompson, pesquisadora climatologista da Universidade de Bristol, Reino Unido. “Mas agora temos uma análise que realmente conseguiu quantificar esta desigualdade”, conclui Thompson.

Para estimar o calor extremo causado pelos gases de efeito estufa, os cientistas alimentaram modelos computacionais climáticos com dados de temperatura média anual, considerando os cinco dias mais quentes do ano em cada país, de 1992 a 2013.

“Sabemos que dias extremamente quentes destroem as colheitas, reduzem a produtividade do trabalho e provocam mais problemas de saúde nos locais de trabalho”, diz Christopher Callahan, um dos autores da publicação.

Callahan e Justin Mankin, professores do Dartmouth College de Hanover (EUA) e autores do estudo, analisaram a dependência entre ondas de calor e tendências econômicas, em escala global e nacional. Eles constataram que os países de baixa renda e clima quente sofrem mais com o aumento de temperatura, embora suas emissões poluentes sejam muitas vezes menores que aquelas dos países de maior renda e desenvolvimento.

Países como Brasil, Venezuela e Mali estão entre os mais atingidos por ondas de calor, que causaram uma redução média do PIB per capita de cerca de 5% ao ano, em relação a projeções de produção de riquezas sem o impacto dos fenômenos extremos, decorrentes de emissões antrópicas. Em contrapartida, países como Canadá e Finlândia tiveram uma redução de apenas 1%.

Globalmente, países tropicais e pobres tiveram uma redução de seus rendimentos 4 vezes maior que a dos países ricos e mais emissores de gases deletérios ao clima, em consequência da ocorrência de ondas de calor. Assim, o trabalho de Callahan e Mankin pode ajudar na implementação das estratégias de adaptação aos países mais impactados pelo calor extremo ou chuvas torrenciais. 

“O fato de termos identificado os efeitos dos cinco dias mais quentes de cada ano mostram que estes poucos dias exercem grande influência sobre as economias locais. Assim, os investimentos para mitigar a mudança climática nos períodos de altas temperaturas poderiam gerar grandes retornos econômicos”, explica Callahan.

A pesquisa também enfatiza a necessidade de os países mais ricos pagarem equitativamente sua parte da enorme conta gerada pela crise climática, como defende Erich Fischer, cientista do clima do Instituto Tecnológico Federal da Suíça, em Zurique.

“Dado o fardo desigual e seu histórico de emissões, o norte global precisa apoiar os países do hemisfério sul nas soluções para lidar com os efeitos perversos da mudança climática”, conclui Fischer.

Fontes: https://www.nature.com/articles/d41586-022-03573-z?utm_source=Nature%20Briefing&utm_campaign=d804b04c5c-briefing-dy-20221108&utm_medium=email&utm_term=0_c9dfd39373-d804b04c5c-45258394&fbclid=IwAR2EUBzog_kB5l2iSrKn43hwmvthFwxGcqUyjp-v8suk9jkgrxfChcGbt6I

https://www.science.org/content/article/climate-change-could-cost-us-coasts-1-trillion-2100

https://www.swissre.com/institute/research/topics-and-risk-dialogues/climate-and-natural-catastrophe-risk/expertise-publication-economics-of-climate-change.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário