Aquecimento
global pode ter gerado custos que beiram 30 trilhões de dólares em 20 anos; nações menos desenvolvidas ficam com alta fração do prejuízo
Uma
pesquisa, publicada em 28 de outubro deste ano na revista Science Advances,
estima que a economia global perdeu entre 5 e 29,3 trilhões de dólares (de 28 a
164 trilhões de reais, ao câmbio de hoje), em consequência do aumento da
temperatura planetária, no período de 1992 a 2013.
Só que a distribuição dos danos financeiros não foi nada proporcional à quantidade de gases de efeito estufa emitida por cada país. Proporcionalmente à quantidade de suas emissões, os países mais desenvolvidos e ricos pagaram pouco.
Segundo o
estudo, os efeitos da crise climática causaram uma redução de 6,7% na
remuneração média da população de países tropicais de baixa renda, enquanto os
países de alta renda per capita tiveram uma redução de apenas 1,5%.
A título
de comparação, um estudo de 2014 avaliou que os Estados Unidos deveriam desembolsar
1 trilhão de dólares até 2100, para bancar os prejuízos decorrentes da mudança
climática em suas áreas costeiras, que incluem a elevação do nível do mar e a ocorrência
de ciclones tropicais.
O estudo “A
economia das mudanças climáticas”, do Swiss Re Institute, publicado em abril de 2021, mostrou que os efeitos do aquecimento planetário devem reduzir de 11% a 14%
a produção econômica global até 2050 – comparada àquela isenta da ocorrência de
fenômenos meteorológicos extremos –, o que equivale a um prejuízo de 23
trilhões de dólares.
Já o estudo recente, publicado na Science Advances sob o título Globally unequal
effect of extreme heat on economic growth (“Efeito globalmente desigual do
calor extremo no crescimento econômico”), alerta para a necessidade da aplicação efetiva de políticas climáticas que reduzam as injustiças ambientais.
Os
resultados desta pesquisa “devem nortear as discussões sobre perdas e danos,
que estarão na COP27”, diz Kai Kornhuber, cientista climático da Universidade
de Columbia, em Nova York (EUA).
O impacto
desigual do aquecimento global é “algo sobre o qual já se falou bastante em
termos qualitativos”, diz Vikki Thompson, pesquisadora climatologista da
Universidade de Bristol, Reino Unido. “Mas agora temos uma análise que realmente
conseguiu quantificar esta desigualdade”, conclui Thompson.
Para
estimar o calor extremo causado pelos gases de efeito estufa, os cientistas alimentaram
modelos computacionais climáticos com dados de temperatura média anual, considerando
os cinco dias mais quentes do ano em cada país, de 1992 a 2013.
“Sabemos
que dias extremamente quentes destroem as colheitas, reduzem a produtividade do
trabalho e provocam mais problemas de saúde nos locais de trabalho”, diz Christopher
Callahan, um dos autores da publicação.
Callahan e Justin Mankin, professores do Dartmouth College de Hanover (EUA) e autores do estudo, analisaram a dependência entre ondas de calor e tendências econômicas, em escala global e nacional. Eles constataram que os países de baixa renda e clima quente sofrem mais com o aumento de temperatura, embora suas emissões poluentes sejam muitas vezes menores que aquelas dos países de maior renda e desenvolvimento.
Países
como Brasil, Venezuela e Mali estão entre os mais atingidos por ondas de calor,
que causaram uma redução média do PIB per capita de cerca de 5% ao ano, em
relação a projeções de produção de riquezas sem o impacto dos fenômenos
extremos, decorrentes de emissões antrópicas. Em contrapartida, países como
Canadá e Finlândia tiveram uma redução de apenas 1%.
Globalmente, países tropicais e pobres tiveram uma redução de seus rendimentos 4 vezes maior que a dos países ricos e mais emissores de gases deletérios ao clima, em consequência da ocorrência de ondas de calor. Assim, o trabalho de Callahan e Mankin pode ajudar na implementação das estratégias de adaptação aos países mais impactados pelo calor extremo ou chuvas torrenciais.
“O fato
de termos identificado os efeitos dos cinco dias mais quentes de cada ano mostram
que estes poucos dias exercem grande influência sobre as economias locais.
Assim, os investimentos para mitigar a mudança climática nos períodos de altas temperaturas poderiam gerar grandes retornos econômicos”, explica Callahan.
A
pesquisa também enfatiza a necessidade de os países mais ricos pagarem equitativamente
sua parte da enorme conta gerada pela crise climática, como defende Erich Fischer,
cientista do clima do Instituto Tecnológico Federal da Suíça, em Zurique.
“Dado o
fardo desigual e seu histórico de emissões, o norte global precisa apoiar os
países do hemisfério sul nas soluções para lidar com os efeitos perversos da
mudança climática”, conclui Fischer.
https://www.science.org/content/article/climate-change-could-cost-us-coasts-1-trillion-2100
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