segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Butanol “Made in Scotland”: combustível renovável à base de resíduos de uísque

Startup escocesa aposta alto no biocarburante extraído de dejetos da fabricação do produto emblemático do país

Martin Tangney, fundador da Celtic Renewables - startup escocesa, pioneira na Europa em P&D em biobutanol (FOTO: Ashley Coombes Epic Scotland Ltda/Celtic Renewables). Journal des Énergies Renouvelables, No 228 (2015)

Em breve, os “wisky tours” oferecidos aos visitantes da Escócia poderão incluir um passeio de carro movido a butanol oriundo da produção do famoso destilado de cereais. 

Isto se a aposta da Celtic Renewables neste biocombustível alternativo der certo.

Em parceria com a Universidade Napier, a startup sediada em Edimburgo investiu pesado em P&D com vistas à produção de biobutanol a partir de resíduos da fabricação do uísque. 

Nos últimos 10 anos, as vendas do produto emblema da Escócia praticamente dobraram, graças ao know-how comercial de grandes grupos que abarcaram dezenas de destilarias país afora. 

Com o aumento da produção, a gestão de dejetos tornou-se ainda mais problemática. Isto porque são resíduos orgânicos com alto teor de umidade, ou seja, voluminosos e pesados, o que engendra altos custos de transporte. 

Tradicionalmente, uma boa parte desses dejetos é usada como complemento nutritivo para a pecuária escocesa e de outros países do Reino Unido. 

Na ilha de Islay, no oeste da Escócia – onde oito destilarias produzem uísque “turfado” – os dejetos do processo final de destilação são simplesmente jogados no mar, em uma área com predominância de correntes fortes. 

A primeira experiência com o uso do butanol como carburante foi nos Estados Unidos, em 2005. O vinicultor David Ramey atravessou o país em um carro movido exclusivamente a biobutanol. 

Mais tarde, a BP e a Dupont criaram uma empresa para desenvolvimento do butanol renovável. Até então, poucos detinham conhecimentos sobre este combustível. 

“Se apenas 10% dos insumos de uma destilaria se transforma em uísque, podemos ter um grande peixe numa pequena lagoa”, declara Martin Tangney, fundador da Celtic Renewables e diretor do Centro de Pesquisa em Biocarburantes da Universidade Napier. 

Ampliando sua visão sobre as possibilidades de se produzir butanol a partir de resíduos do uísque, Tangney pensa em outros grandes produtores mundiais da bebida (EUA, Canadá, Japão e Índia) e dispara: “a lagoa talvez não seja tão pequena”. 

A grande vantagem do uso de dejetos da fabricação do uísque para produzir butanol é o baixo custo dessa matéria prima. Na China, as usinas de butanol utilizam grãos como insumo, cujo cultivo representa de 70 a 90% do custo de produção, explica Tangney. 

A Celtic Renewables readaptou um processo de fermentação usado há mais de 100 anos para fabricar o biocarburante, o acetona-butanol-etanol. 

Diferentemente do procedimento original – cujo produto principal era a acetona, usada para fabricar explosivos durante a 1ª guerra mundial – a startup escocesa utiliza um processo de fermentação anaeróbico para extrair o butanol. 

“Ninguém antes havia usado matéria prima que não contivesse açúcares ‘fáceis’ na produção do biocarburante”, conta Tangney. Atualmente, a Celtic domina o processo em laboratório e também produz o butanol renovável em uma instalação experimental na Bélgica. 

A empresa está captando 35 milhões de euros para investir em uma usina piloto de grande porte, capaz de produzir 1 milhão de litros de biobutanol por ano. 

Outras fontes de resíduos biológicos com grande potencial para a produção de butanol estão na mira da startup, como rejeitos da celulose, legumes e cerveja (restos de lúpulo). 

E até de dejetos da produção de vinho podem ser utilizados como insumo, o que abre um amplo horizonte para o desenvolvimento do biobutanol na França. 

Fonte: Journal des Énergies Renouvelables, No 228, julho-agosto de 2015

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