Martin
Tangney, fundador da Celtic Renewables - startup escocesa, pioneira na Europa
em P&D em biobutanol (FOTO: Ashley Coombes Epic Scotland Ltda/Celtic
Renewables). Journal des Énergies
Renouvelables, No 228 (2015)
Em
breve, os “wisky tours” oferecidos aos visitantes da Escócia poderão incluir um
passeio de carro movido a butanol oriundo da produção do famoso destilado de
cereais.
Isto
se a aposta da Celtic Renewables neste biocombustível alternativo der certo.
Em
parceria com a Universidade Napier, a startup sediada em Edimburgo investiu
pesado em P&D com vistas à produção de biobutanol a partir de resíduos da
fabricação do uísque.
Nos
últimos 10 anos, as vendas do produto emblema da Escócia praticamente dobraram,
graças ao know-how comercial de grandes grupos que abarcaram dezenas de
destilarias país afora.
Com
o aumento da produção, a gestão de dejetos tornou-se ainda mais problemática.
Isto porque são resíduos orgânicos com alto teor de umidade, ou seja,
voluminosos e pesados, o que engendra altos custos de transporte.
Tradicionalmente,
uma boa parte desses dejetos é usada como complemento nutritivo para a pecuária
escocesa e de outros países do Reino Unido.
Na
ilha de Islay, no oeste da Escócia – onde oito destilarias produzem uísque
“turfado” – os dejetos do processo final de destilação são simplesmente jogados
no mar, em uma área com predominância de correntes fortes.
A
primeira experiência com o uso do butanol como carburante foi nos Estados
Unidos, em 2005. O vinicultor David Ramey atravessou o país em um carro movido
exclusivamente a biobutanol.
Mais
tarde, a BP e a Dupont criaram uma empresa para desenvolvimento do butanol
renovável. Até então, poucos detinham conhecimentos sobre este combustível.
“Se
apenas 10% dos insumos de uma destilaria se transforma em uísque, podemos ter
um grande peixe numa pequena lagoa”, declara Martin Tangney, fundador da Celtic
Renewables e diretor do Centro de Pesquisa em Biocarburantes da Universidade
Napier.
Ampliando
sua visão sobre as possibilidades de se produzir butanol a partir de resíduos do
uísque, Tangney pensa em outros grandes produtores mundiais da bebida (EUA, Canadá,
Japão e Índia) e dispara: “a lagoa talvez não seja tão pequena”.
A
grande vantagem do uso de dejetos da fabricação do uísque para produzir butanol
é o baixo custo dessa matéria prima. Na China, as usinas de butanol utilizam grãos
como insumo, cujo cultivo representa de 70 a 90% do custo de produção, explica
Tangney.
A
Celtic Renewables readaptou um processo de fermentação usado há mais de 100
anos para fabricar o biocarburante, o acetona-butanol-etanol.
Diferentemente
do procedimento original – cujo produto principal era a acetona, usada para
fabricar explosivos durante a 1ª guerra mundial – a startup escocesa utiliza um
processo de fermentação anaeróbico para extrair o butanol.
“Ninguém
antes havia usado matéria prima que não contivesse açúcares ‘fáceis’ na
produção do biocarburante”, conta Tangney. Atualmente,
a Celtic domina o processo em laboratório e também produz o butanol renovável
em uma instalação experimental na Bélgica.
A
empresa está captando 35 milhões de euros para investir em uma usina piloto de
grande porte, capaz de produzir 1 milhão de litros de biobutanol por ano.
Outras
fontes de resíduos biológicos com grande potencial para a produção de butanol
estão na mira da startup, como rejeitos da celulose, legumes e cerveja (restos
de lúpulo).
E
até de dejetos da produção de vinho podem ser utilizados como insumo, o que abre um amplo horizonte para o desenvolvimento
do biobutanol na França.
Fonte: Journal des Énergies Renouvelables, No 228, julho-agosto de 2015
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