‘Parem de cavar nossas próprias covas, salvem nosso futuro!’, conclama o secretário-geral da ONU aos chefes de Estado, na abertura da 26ª Conferência das Partes em Glasgow
Efusivo, o dirigente
máximo da Organização das Nações Unidas, Antonio Guterres, fez um apelo na inauguração
da COP26, para que “parem de brutalizar a biodiversidade, de queimar [nossas
florestas], de extrair cada vez mais [do que a natureza pode repor]”. O tom certo
para o momento de urgência climática que vivemos.
Enquanto isso, o representante do país que abriga o maior bioma tropical do planeta, ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anuncia uma meta de redução de emissões “mais ambiciosa” para 2030, com vistas à neutralidade de carbono em 2050. “Promessa vazia”, reagem os especialistas.
Na prática, nem o governo,
nem o que é previsto no Projeto de Lei aprovado no último dia 20, permite que o
país avance em suas metas, como fizeram os principais emissores em 2020, quando
os países renovaram as metas assumidas no Acordo de Paris em 2015.
Quarto maior emissor de
gases de efeito estufa, o Brasil foi um dos raros países que regrediu em suas
metas, permitindo emissões anuais excedentes de 400 milhões de toneladas de CO2
equivalente, em relação ao compromisso original assumido na COP21 na França, ao
que se chamou de “pedalada climática”.
No documento que o governo brasileiro apresentou à ONU em 2020, é prevista uma redução das emissões em 37% até 2025 e 43% em 2030. Em 2021, um projeto de lei prevê que as emissões diminuam 43% em 2025 e 50% até 2030. Foi o que anunciou ontem Joaquim Leite. O ex-presidente do INPE Ricardo Galvão reagiu com ceticismo: “tenho dúvidas se é crível”.
“O governo atual não tem
credibilidade aceita internacionalmente. Nos últimos anos, o Brasil aumentou a
emissão de CO2 na atmosfera. A Amazônia está deixando de ser uma ‘sequestradora
de carbono’ para ser uma ‘emissora de carbono’”, disse Galvão.
Acusado de estar “a
serviço de alguma ONG”, Ricardo Galvão -PhD pelo MIT, professor titular da USP
e pesquisador premiado internacionalmente- foi exonerado da presidência do Inpe por Bolsonaro, após o instituto ter divulgado dados científicos alarmantes
sobre o desmatamento da Amazônia.
“Não faltará empenho do
governo federal para chegarmos num resultado positivo para o Brasil e o mundo”,
disse o ministro durante o anúncio da nova meta climática. Blá blá blá... Desde
o início do governo Bolsonaro, o desmatamento da Amazônia cresceu 47%. Em 2019,
a quantidade de CO2 emitida no Brasil foi a maior em 13 anos, desde 2006.
“O governo não explica
como será a base de cálculo da redução de emissões. A mudança da base de
cálculo pode fazer com que se permita mais emissões que nas metas passadas”,
afirma Fabiana Alves, coordenadora de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil. Ela
adverte que essa artimanha oficial pode propiciar uma nova “pedalada climática”.
Atrás dos Estados Unidos,
China e Rússia, o Brasil está em 4º lugar no ranking dos maiores emissores de
gases poluentes desde 1850, feita pela think tank Carbon Brief.
Esta é a mais recente avaliação de emissões, que inclui pela primeira vez o CO2
liberado por desmatamento. Em 5º lugar está a Indonésia, onde fica a segunda
maior floresta tropical do mundo.
A destruição da floresta
Amazônica e atividades agropecuárias são as maiores fontes de gases de efeito
estufa no Brasil e respondem juntas por quase 70% das emissões totais do país,
quantificadas em CO2 equivalente.
Para o Greenpeace Brasil, a
preconizada neutralidade de carbono em 2050 anunciada na COP26 “é mais uma
promessa de um governo que avança com uma agenda anti ambiental e traz falsas
soluções”, nos distanciando de um esforço internacional que deve ser feito para
limitar o aquecimento global.
Para a ONG, o país precisa
de uma “agenda de mudança sistêmica” em vez de aceitar a prática de compensação
de emissões por mecanismos como o “mercado de carbono”, defendida pelo agronegócio
exportador com apoio governamental. É preciso “focar em mecanismos de não
mercado para pensar o financiamento de um mundo habitável para as novas
gerações”, diz a organização ambientalista.
Se as forças
que governam o Brasil atualmente se estenderem (pelo voto ou não) para além de
2022, a melhor solução para reduzir as emissões de carbono na Amazônia seria
vincular toda e qualquer ajuda financeira externa à criação de uma “força
internacional”, que, junto com autoridades nacionais, possam efetivamente coibir
o desmatamento criminoso, uma prática corriqueira e amplamente intensificada a partir de 2019.
Além disso, entre ouras medidas, seria preciso
taxar fortemente a exportação de carne, como forma de reduzir progressivamente a
criação de gado, inibindo assim a expansão da fronteira agrícola na Amazônia
para fins de pastagem. A pecuária produz uma enorme quantidade de metano, um
gás com alto poder de efeito estufa, que contribui para a mudança climática.
Fontes: https://www.greenpeace.org/brasil/blog/cop26-o-brasil-e-parte-da-solucao-bolsonaro-e-o-problema/
https://www.nature.com/immersive/d41586-021-02815-w/index.html
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