terça-feira, 2 de novembro de 2021

Conferência Mundial do Clima: começa a tão aguardada COP26, considerada um divisor de águas para a humanidade

‘Parem de cavar nossas próprias covas, salvem nosso futuro!’, conclama o secretário-geral da ONU aos chefes de Estado, na abertura da 26ª Conferência das Partes em Glasgow

FOTO: Guglielmo Mangiapane/Reuters https://www.nature.com/immersive/d41586-021-02815-w/index.html

Efusivo, o dirigente máximo da Organização das Nações Unidas, Antonio Guterres, fez um apelo na inauguração da COP26, para que “parem de brutalizar a biodiversidade, de queimar [nossas florestas], de extrair cada vez mais [do que a natureza pode repor]”. O tom certo para o momento de urgência climática que vivemos.

Enquanto isso, o representante do país que abriga o maior bioma tropical do planeta, ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anuncia uma meta de redução de emissões “mais ambiciosa” para 2030, com vistas à neutralidade de carbono em 2050. “Promessa vazia”, reagem os especialistas.

Na prática, nem o governo, nem o que é previsto no Projeto de Lei aprovado no último dia 20, permite que o país avance em suas metas, como fizeram os principais emissores em 2020, quando os países renovaram as metas assumidas no Acordo de Paris em 2015.

Quarto maior emissor de gases de efeito estufa, o Brasil foi um dos raros países que regrediu em suas metas, permitindo emissões anuais excedentes de 400 milhões de toneladas de CO2 equivalente, em relação ao compromisso original assumido na COP21 na França, ao que se chamou de “pedalada climática”.

No documento que o governo brasileiro apresentou à ONU em 2020, é prevista uma redução das emissões em 37% até 2025 e 43% em 2030. Em 2021, um projeto de lei prevê que as emissões diminuam 43% em 2025 e 50% até 2030. Foi o que anunciou ontem Joaquim Leite. O ex-presidente do INPE Ricardo Galvão reagiu com ceticismo: “tenho dúvidas se é crível”.

“O governo atual não tem credibilidade aceita internacionalmente. Nos últimos anos, o Brasil aumentou a emissão de CO2 na atmosfera. A Amazônia está deixando de ser uma ‘sequestradora de carbono’ para ser uma ‘emissora de carbono’”, disse Galvão.  

Acusado de estar “a serviço de alguma ONG”, Ricardo Galvão -PhD pelo MIT, professor titular da USP e pesquisador premiado internacionalmente- foi exonerado da presidência do Inpe por Bolsonaro, após o instituto ter divulgado dados científicos alarmantes sobre o desmatamento da Amazônia.

“Não faltará empenho do governo federal para chegarmos num resultado positivo para o Brasil e o mundo”, disse o ministro durante o anúncio da nova meta climática. Blá blá blá... Desde o início do governo Bolsonaro, o desmatamento da Amazônia cresceu 47%. Em 2019, a quantidade de CO2 emitida no Brasil foi a maior em 13 anos, desde 2006.

“O governo não explica como será a base de cálculo da redução de emissões. A mudança da base de cálculo pode fazer com que se permita mais emissões que nas metas passadas”, afirma Fabiana Alves, coordenadora de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil. Ela adverte que essa artimanha oficial pode propiciar uma nova “pedalada climática”.

Atrás dos Estados Unidos, China e Rússia, o Brasil está em 4º lugar no ranking dos maiores emissores de gases poluentes desde 1850, feita pela think tank Carbon Brief. Esta é a mais recente avaliação de emissões, que inclui pela primeira vez o CO2 liberado por desmatamento. Em 5º lugar está a Indonésia, onde fica a segunda maior floresta tropical do mundo.

A destruição da floresta Amazônica e atividades agropecuárias são as maiores fontes de gases de efeito estufa no Brasil e respondem juntas por quase 70% das emissões totais do país, quantificadas em CO2 equivalente.

Para o Greenpeace Brasil, a preconizada neutralidade de carbono em 2050 anunciada na COP26 “é mais uma promessa de um governo que avança com uma agenda anti ambiental e traz falsas soluções”, nos distanciando de um esforço internacional que deve ser feito para limitar o aquecimento global.

Para a ONG, o país precisa de uma “agenda de mudança sistêmica” em vez de aceitar a prática de compensação de emissões por mecanismos como o “mercado de carbono”, defendida pelo agronegócio exportador com apoio governamental. É preciso “focar em mecanismos de não mercado para pensar o financiamento de um mundo habitável para as novas gerações”, diz a organização ambientalista.

Se as forças que governam o Brasil atualmente se estenderem (pelo voto ou não) para além de 2022, a melhor solução para reduzir as emissões de carbono na Amazônia seria vincular toda e qualquer ajuda financeira externa à criação de uma “força internacional”, que, junto com autoridades nacionais, possam efetivamente coibir o desmatamento criminoso, uma prática corriqueira e amplamente intensificada a partir de 2019.

Além disso, entre ouras medidas, seria preciso taxar fortemente a exportação de carne, como forma de reduzir progressivamente a criação de gado, inibindo assim a expansão da fronteira agrícola na Amazônia para fins de pastagem. A pecuária produz uma enorme quantidade de metano, um gás com alto poder de efeito estufa, que contribui para a mudança climática.

Fontes: https://www.greenpeace.org/brasil/blog/cop26-o-brasil-e-parte-da-solucao-bolsonaro-e-o-problema/

https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2021/11/01/e-crivel-tenho-duvidas-diz-ex-diretor-do-inpe-sobre-meta-do-brasil-na-cop.htm

https://www.nature.com/immersive/d41586-021-02815-w/index.html

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