sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Destruição da floresta Amazônica pode gerar calor extremo para metade dos habitantes da região, diz estudo

Pesquisadores simulam savanização do maior bioma tropical do planeta ao horizonte de 2100; resultados são catastróficos para saúde humana e clima global

https://www.dw.com/pt-br/processo-de-savaniza%C3%A7%C3%A3o-da-amaz%C3%B4nia-j%C3%A1-come%C3%A7ou/a-58809139

Mais de 11 milhões de pessoas que vivem na Amazônia Legal, ou cerca de 50% de sua população, podem ser afetadas pelo calor extremo gerado pelo desmatamento.

É o que diz o estudo Deforestion and climate change are projected to increase heat stress risk in the Brazilian Amazon, publicado hoje na revista Nature, de autoria dos brasileiros Beatriz Oliveira, Marcus Bottino, Paulo Nobre e Carlos Nobre.

O estudo mostra que o uso da terra e o desmatamento podem influenciar a temperatura local e o clima. Usando um “modelo acoplado oceano-atmosfera”, os pesquisadores simularam o processo de savanização da Bacia Amazônica, e concluíram que a temperatura na região pode aumentar de 7,5 oC a 11,5 oC, conforme o cenário avaliado, até o final do século.

Para chegar a esses números, os autores do estudo tomaram como base o limite de aumento da temperatura atmosférica global de 1,5 oC a 2 oC, em relação à era pré-industrial, conforme preconizado no Acordo de Paris, em 2015.

Os cientistas lembram no artigo que esta meta só será factível “se os países industrializados zerarem suas emissões poluentes até 2050 e o resto do mundo até 2100, desde que sejam preservados os sumidouros naturais de carbono [como a Floresta Amazônica], algo que não tem sido observado nos últimos anos”, dizem.

“A destruição da floresta em 2020 foi muito maior do que a meta estabelecida pela Política Nacional Brasileira, que previa uma redução de 80% do desmatamento em relação ao período 1996-2005, ou seja, não deveria superar 3.925 km2. Só que ao final de 2020 a área devastada somou 11.022 km2.”, diz o texto em sua introdução.

No período de agosto de 2020 a julho de 2021, a área de floresta destruída foi de 8,712 km2, próxima ao recorde registrado nos 12 meses precedentes, de 9.126 km2. Nos mil dias de governo Bolsonaro, o desmatamento da Amazônia cresceu 74% em relação ao mesmo período antes de 1o de janeiro de 2019.

De acordo com o estudo publicado hoje, a combinação aquecimento global/savanização pode levar ao estresse térmico cerca de 30 milhões de pessoas, ou 16% dos habitantes dos 5.565 municípios brasileiros, colocando em risco de exposição ao calor extremo quase 40% dessa população, especialmente a parcela socialmente mais vulnerável.

Os pesquisadores advertem que “os impactos potenciais do desmatamento e do aquecimento global na saúde humana exigem a formulação de políticas relacionadas à mitigação de riscos e vulnerabilidade”.

Na modelagem utilizada, eles substituíram as características originais da floresta por uma savana -vegetação típica da África, com árvores mais espaçadas e com menos folhas- e concluíram que estamos nos aproximando de um “ponto de ruptura”, em que a savanização torna-se inevitável e irreversível.

Ocupando uma área de 6,5 milhões de km2, a Bacia Amazônica se estende por nove países da América do Sul e representa 5% da superfície terrestre. É um bioma vital para o planeta e a humanidade. Constitui um reservatório de biodiversidade excepcional, abrigando mais da metade de todas as espécies animais e vegetais do planeta.

É um gigantesco sumidouro natural de CO2, que exerce um papel essencial na estabilidade do clima global. Estima-se que a Amazônia tenha uma capacidade de capturar anualmente entre 80 e 120 bilhões de toneladas de carbono.

Fontes: https://www.nature.com/articles/s43247-021-00275-8?fbclid=IwAR1zdfgZPIk6QPrK_opXN9SBT76I2Ohj6niYE0Py59MaPKTAZJB5q9jzj6g

https://www.greenpeace.fr/amazonie-un-inestimable-patrimoine-ecologique-en-danger/?fbclid=IwAR1uY9wOJvGIH7obH68hMLulTIXvybEpVMxWOIBu19UjhWMfjiv3IWeHASg

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