Atividade humana está mudando o clima de modo sem precedente e algumas vezes irreversível, diz o aguardado informe científico da ONU
O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), coordenado pela ONU, divulgou hoje o seu mais importante relatório científico desde 2014: o 6º Relatório de Avaliação (AR6 Climate Change 2021: The Physical Science Basis).
Aprovado por 234 autores e 195 governos, é indiscutivelmente o trabalho de maior abrangência e consistência que o IPCC já produziu. Uma contribuição do Grupo de Trabalho I, que traz os últimos avanços da ciência climática, combinando múltiplas linhas de evidências do paleoclima, observações, processos de compreensão e simulações climáticas global e regional.
As principais mensagens-chave do AR6 são: 1) a temperatura média global cresceu 1,09 ºC na última década, em relação àquela do período 1850-1900; 2) nos últimos 5 anos, a temperatura atingiu níveis máximos, desde 1850; 3) o nível do mar alcançou recentemente quase três vezes aquele registrado no período 1901-1971; 4) a influência humana “muito provavelmente” (90%) é a principal causa da redução global das geleiras e particularmente no Ártico; 5) é “praticamente certo” que temperaturas extremas e ondas de calor ocorram com maior frequência e que eventos de frio intenso sejam menos frequentes, em relação à década de 1950.
Os autores do relatório AR6 estimam que a temperatura global deve aumentar 1,5 ºC até 2040, em todos os cenários projetados, confirmando a previsão do IPCC divulgada em um relatório especial em 2018.
Desde o seu primeiro
relatório de avaliação, em 1990, a compreensão do IPCC sobre mudanças
climáticas melhorou significativamente. Hoje o painel afirma com grau de
certeza superior a 95% que a causa predominante do aquecimento global,
observado desde meados do século XX, é a atividade humana.
A probabilidade de
ocorrência de fenômenos meteorológicos e climáticos extremos é “quase certa”,
segundo o relatório publicado neste dia 9 de agosto. O AR6 inclui também os
impactos presentes e futuros da mudança climática, suas consequências em nível
regional e as ações de mitigação necessárias.
“Já estamos vivendo as consequências da mudança climática em todos os lugares, mas vamos sofrer efeitos adicionais e simultâneos à medida em que o aquecimento aumenta”, diz Carolina Vera, vice-diretora do grupo de trabalho do IPCC que produziu o AR6. E o que pode ser feito, então?
Apesar da mensagem clara e melhor embasada do atual trabalho dos cientistas, há um consenso entre eles de que é possível interromper a até reverter a trajetória de aquecimento climático se as emissões de carbono globais foram cortadas pela metade até 2030, zerando as emissões líquidas até meados do século. É preciso evitar um “ponto de ruptura”, quando parte do sistema climático sofre uma alteração abrupta em resposta a um aquecimento global contínuo.
“A mudança climática está piorando. E percebemos isso de várias formas. Eu diria que é um caminho sem volta e precisamos decidir hoje o nosso futuro. O relatório é claro ao afirmar que estamos vivendo um aquecimento global sem precedentes há pelo menos 2 mil anos e que a década 2010-2019 é provavelmente a mais quente há pelo menos 100 mil anos. É inequívoco que a atividade humana é a causa da mudança climática observada nos últimos 150 anos.”, alerta Christophe Cassou, diretor do CNRS (França) e um dos autores do AR6.
O 6º Relatório de
Avaliação do IPCC constitui um inventário enfático e atualizado do conhecimento
científico sobre mudança climática. Ele inclui um relatório-síntese
destinado a dirigentes governamentais, o chamado “resumo para formuladores de
políticas”, e servirá de base para a COP 26 que acontece em Novembro em Glasgow (Escócia).
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