Potenciais
efeitos da mudança climática global incluem: incêndios florestais com maior
frequência, regiões com períodos de seca mais longos e aumento do número, da
duração e da intensidade de tempestades tropicais. IMAGEM:
Mellimage/Shutterstock.com (esquerda), Montree Hanlue/Shutterstock.com (centro),
NASA (direita)
Apesar do
fosso entre os compromissos assumidos pelas partes na última conferência sobre
o clima (COP 25) e o que reivindica a ciência para salvar o planeta, inúmeros
veículos de mídia de diferentes países europeus não renunciam à pauta ambiental
e apontam avanços e desafios para a continuidade do combate.
Os
comentários que seguem foram extraídos de portais jornalísticos da Suécia,
Finlândia, Dinamarca, Itália, Alemanha, Espanha, Irlanda, Suíça e Bélgica.
1. Aftonbladet
(Suécia)
Uma vontade
de mudança sem precedentes
Apesar de ter
sido uma conferência decepcionante, o jornal sueco enumera algumas razões para
se manter a esperança:
“A igualdade
entre os sexos nas medidas de proteção ao clima foi consolidada. Cada país foi evocado
a rever suas metas em prol do clima à luz dos mais recentes conhecimentos
científicos. Para além da COP 25, obtiveram-se alguns progressos; a título de
exemplo, muitas empresas que operam em nível internacional têm assumido maior
responsabilidade quanto à proteção do clima. Nos Estados Unidos, vários Estados
federados e muitas cidades decidiram respeitar o Acordo de Paris (2015), apesar
da falta de apoio de Donald Trump. O Banco Mundial, o FMI e a União Europeia
tomam importantes medidas para limitar o uso de combustível fóssil. Em todo o
mundo, há uma efervescência visível e a vontade de mudar está presente.”
2. Keskisuomalainen
(Finândia)
O papel dos
Estados está superestimado
O Keskisuomalainen
também estima que a deserção de vários Estados não comprometerá a luta contra o
aquecimento global:
“Nem todas
as medidas de redução de emissões dependem dos Estados e de suas decisões
políticas. A emissão de gases nocivos ao clima também é da responsabilidade de
empresas, municípios e cidadãos, mas igualmente depende de inovações
tecnológicas e dos mercados. Os Estados e os compromissos multilaterais têm grande
ascensão sobre esses protagonistas, mas especialmente nos países democráticos é
possível obter avanços mesmo sem o apoio do Estado.”
3. Politiken
(Dinamarca)
A emulação
como exemplo
O
dinamarquês Politiken conclama os países dispostos a agir a não baixar
os braços:
“É claro que
devemos endossar campanhas pela adoção de soluções e acordos globais. Ao mesmo
tempo, seja em nível nacional ou europeu, devemos apoiar causas comuns a outros
países que compartilham das mesmas convicções e que se deram conta da gravidade
da situação. Os chamados ‘princípios de São José’, pelos quais se define um
sistema de cotas [no comércio de créditos de carbono], tornaram-se um marco no
movimento em prol do clima. A Dinamarca e outros 30 países aderiram a este
sistema, quando a conferência de Madri já era considerada um fracasso. Não podemos
resolver a crise climática sozinhos, mas, a exemplo da rigorosa lei que
aprovamos em nosso país, podemos exercer pressão sobre os países
recalcitrantes.”
4. Corriere
dela Sera (Itália)
O clima só
tem solução com apoio dos EUA e da China
No jornal
italiano, o economista Stefano Agnoli aposta todas suas fichas na derrota de
Trump nas próximas eleições:
“As eleições
deste ano nos Estados Unidos se tornam ainda mais cruciais. Isto por causa das
posições caprichosas do governo norte-americano em relação à China, como vimos
na questão dos direitos alfandegários; uma reeleição de Trump seria um desastre
para os acordos sobre mudanças climáticas. Ora, a política ambiental só pode
dar certo com a participação dos Estados Unidos e da China, já que somente
esses dois países têm o poder de negociar regras de funcionamento do mercado de
carbono.”
5. Die
Welt (Alemanha)
As Nações
Unidas não são o melhor formato
Pela leitura
do jornal alemão sobre a Conferência de Madri:
“Encontrar
um denominador comum entre quase 200 países é muito complicado. Que os Estados
que levam a sério a proteção do clima deem o exemplo, com toda a honestidade
para si e para os outros. Não é preciso dizer que reduzir emissões de carbono é
a princípio uma tarefa tão difícil quanto onerosa. Mas se, mesmo com seus
engenheiros qualificados, seus sistemas de seguridade social e suas riquezas,
os países ocidentais são incapazes de preservar as decisões do Acordo de Paris
(2015), qual país será capaz de cumpri-lo? O lema da conferência climática de
Madri nos lembrou que era hora de agir. Não foi em vão.”
6. El
Mundo (Espanha)
Sem os
grandes Estados não há credibilidade
O periódico
espanhol, por sua vez, faz pouco caso de uma proteção climática “de vanguarda”:
“Existe uma
hipocrisia insuportável, que é a de pedir ao cidadão comum que se esforce para
reduzir o consumo do diesel e para reciclar. Isto sem que a comunidade
internacional se dê os meios, realistas e pragmáticos, para conter a crise
climática de nossos ecossistemas. E assumir os custos da transição ecológica e
da reconversão da economia e da indústria impactados por esta crise. Agora que
temos a prova científica de que a mudança climática é causada pelo homem, a neutralidade
em carbono até 2050 torna-se uma meta viável. Isto impõe um engajamento assíduo
dos 200 Estados; em particular dos Estados Unidos, China, Índia e Rússia, que
são os principais emissores de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso.”
7. The
Irish Times (Irlanda)
Dirigentes surdos
aos apelos dos cidadãos
Os egoísmos nacionais
prevaleceram uma vez mais, avalia o The Irish Times:
“O resultado
[da COP 25] evidencia o crescente abismo entre políticos e cidadãos do mundo
todo, que clamam por uma resposta urgente ao agravamento da crise climática. Consenso
e solidariedade estavam na ordem do dia... Muitos dirigentes políticos terão que
pagar o preço por suas respostas totalmente inadequadas, especialmente líderes
de países que são grandes emissores de CO2, como Brasil, Estados Unidos e
Austrália. Por sua obstinação no ceticismo climático e pela intensificação de
suas emissões de carbono, via combustíveis fósseis (e queimadas de biomas),
tais países merecem permanecer no ostracismo.”
8. Tages-Anzeiger
(Suíça)
Uma última
sacudida nos estados refratários
Estados que
persistem na dependência de fontes de energia fóssil encontram-se fragilizados,
avalia o Tages-Anzeiger:
“Aparentemente,
os Estados ‘fósseis’ jogam suas últimas cartas para se rebelar contra a mudança
de era. Já não exercem grande influência há um bom tempo. O número de países
que persistem em macular a ciência e que se recusam a reduzir suas emissões de
carbono é cada vez menor. É verdade que foi essa minoria que bloqueou o avanço
das negociações na Conferência de Madri. Mas não se pode dizer que tiveram sucesso,
o que significaria terem assumido um compromisso às avessas [perante a urgência
climática]. A comunidade mundial mostrou força para impedir a descaracterização
dos ganhos previstos no Acordo de Paris (2015), por decisões contraproducentes.
Deste ponto de vista, o fracasso [da reunião] de Madri pode ter sido positivo.”
9. La Libre
Belgique (Bélgica)
Pouco
produtiva, mas necessária
Para La
Libre Belgique, conferências climáticas como a de Madri serão sempre
necessárias, apesar de seus balanços decepcionantes:
“Por mais
que seja desestimulante uma conferência dessas, não há surpresa. Ela apenas
reflete o estado atual da geopolítica mundial, em que grandes países optaram deliberadamente
por uma relação de poder voltada muito mais ao nacionalismo em detrimento da
cooperação internacional e o multilateralismo. São equilíbrios geopolíticos em
movimento, que continuarão a evoluir para o bem ou para o mal. Como o desafio
climático é por definição um problema global, essas conferências permanecem
imprescindíveis, pelo menos como forma de evitar uma espiral de conflitos em
que cada um aja por si.”
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