Parque
eólico de Walney Extension (Reino Unido): o maior do mundo em operação, com
potência de 659 MW, gerada por 80 turbinas distribuídas em 145 km2. FOTO: Reuters
Paradoxalmente, o atraso da França na exploração marítima da energia dos ventos pode beneficiar o país com a experiência de seus vizinhos, como Reino Unido, Alemanha e Dinamarca, na implementação de projetos com impacto ambiental mínimo.
Para atingir sua meta em relação à transição energética, que é dispor de uma matriz elétrica com 40% de fontes renováveis até 2030, a França precisa dobrar sua capacidade eólica instalada na próxima década.
Assim como aplicado às instalações terrestres, a implantação de turbinas eólicas no mar deve seguir a lógica de “evitar, reduzir, compensar”, uma doutrina nacional francesa visando minimizar seu impacto sobre o meio ambiente.
“Atualmente,
há uma verdadeira tomada de consciência dos responsáveis pelos projetos, através
do seu compromisso com o desenvolvimento de dispositivos que impactem minimamente
[os sistemas ecológicos] e de novos conhecimentos na área”, diz Sylvain Michel,
da Agência Francesa para a Biodiversidade (AFB).
Um
consórcio liderado pela Énergie de France (EDF) Renováveis deverá lançar em
2022 o primeiro projeto de parque eólico marítimo da França, nas proximidades
do litoral de Saint-Nazaire e La Baule.
A
capacidade total prevista é de 480 MW, potência que será fornecida por 80 aerogeradores
instalados ao longo de 78 km e suficiente para atender a 20% da demanda de
energia elétrica da região da Loire-Atlantique.
Desde
o início do projeto, a EDF Renováveis trabalha em parceria com associações ambientais
locais, para enfrentar os limites ecológicos com base em estudos que permitam uma escolha adequada da implantação de turbinas eólicas no mar.
“Prosseguimos
de forma contínua a busca pela melhoria do conhecimento sobre os ecossistemas
marinhos, via programas de observação de pássaros e de pesquisas sobre a fauna
e a flora subaquáticas”, diz o comunicado da empresa.
Mesmo
se as maiores restrições legais em termos de proteção ambiental referem-se às
instalações terrestres, o Código Ambiental francês determina, por exemplo, a
proibição de parques eólicos offshore a menos de 10 km da costa, de modo a minimizar
o impacto sobre a paisagem, a pesca e a navegação.
O
apoio técnico aos agentes do Estado na expertise e instrução dos diferentes
projetos é garantido pela Agência Francesa para a Biodiversidade.
A
AFB analisa as demandas de autorização e emite recomendações, conforme as
disposições legais, garantindo que elas sejam respeitadas. Ela monitora todos
os impactos que possam degradar e afetar as espécies animais e vegetais durante
a fase de construção e ao longo de um prazo de 20 a 25 anos de funcionamento do
parque eólico.
“A
fundação de uma torre eólica de 7 metros de diâmetro, por exemplo, pode provocar
uma alteração no habitat natural em um raio de cerca de 30 metros”, explica
Sylvain Michel, da AFB.
Uma
vez o projeto autorizado, o acompanhamento dos impactos ambientais é
obrigatório, e cada responsável de projeto deve produzir relatórios para a AFB,
que pode definir as seguintes modalidades de monitoramento: observações por
avião ou barco, instalação de hidro fones para acompanhar os sons dos
mamíferos, ruído das máquinas e avaliação do nível de perturbação no ecossistema.
Uma
atenção especial é destinada ao monitoramento dos pássaros, já que as
pás da turbina são bem maiores que as de aerogeradores terrestres, com
envergaduras medindo entre 75 e 100 metros. “As
pás representam riscos de colisão, mas também podem modificar ecossistemas,
áreas de repouso e fontes de alimentos”, explica Véronique de Billy, doutora em
ecologia marítima da AFB.
Outro
impacto letal a que estão sujeitos aves e morcegos é o chamado “barotraumatismo”,
que causa a explosão de órgãos de animais de pequeno porte, devido à diferença de
pressão decorrente do giro das pás.
Enfim,
as possibilidades de impacto ambiental de turbinas eólicas offshore tem sido
incluídas nos projetos pioneiros que a França desenvolve para exploração marítima
da energia do vento.
Com
a interação de conhecimentos na elaboração dos projetos, aliada à experiência
acumulada por países europeus que há anos exploram a energia eólica no mar, soluções
tecnológicas para mitigar eventuais prejuízos aos ecossistemas aquáticos vem
sendo adotadas nos projetos e monitoradas por organismos do Estado francês.
No
momento em que a França está prestes a ingressar na era da energia
eólica offshore, com onze projetos em andamento, entre os quais quatro parques
flutuantes pilotos (pioneiros na Europa), a AFB coordena estudos sobre os riscos
ambientais do futuro parque de Dunkerque, com 600 MW de potência gerada por 45
turbinas.
A luta contra o aquecimento climático passa obrigatoriamente pela transição energética
em prol de fontes renováveis. Mas não se pode sacrificar ainda mais os
ecossistemas marinhos, que já sofrem com a contaminação causada por lixo humano.
Estima-se
que são lançados em mares e oceanos 8 milhões de toneladas de lixo a cada ano,
sendo 80% desses dejetos matéria plástica. De acordo com estudos da Fundação
Ellen McArthur, em 2050 haverá mais plástico do que peixes nas águas do
planeta.
Assim,
a experiência de países que já exploram e energia do vento com instalações eólicas offshore, especialmente na Europa, torna-se preciosa para balizar novos
projetos, que respeitem o equilíbrio da vida marinha. Os projetos em desenvolvimento na França podem ser
considerados um marco na concepção ecológica de uma tecnologia de energia
renovável.
Fonte:
Le Journal de l’Éolien - Onshore & Offshore, outubro-novembro-dezembro de
2019, No 36
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