A
luz amarela está acesa no semáforo da transição energética em prol de fontes
renováveis. Após quase duas décadas de forte expansão anual, a capacidade adicional
de geração de energia limpa ficou estável de 2017 a 2018.
Esta
interrupção da expansão da capacidade anual instalada com base em fontes
renováveis ameaça as metas de longo prazo para mitigar os efeitos deletérios da
mudança climática.
A
transição energética de fontes emissoras de CO2 para fontes limpas é crucial no combate ao aquecimento global. Para alcançar a meta
fixada para 2030 na Conferência das Partes de Paris (COP21, de 2015), a
capacidade de renováveis precisa crescer 300 GW a cada ano.
Em
2017, a capacidade adicional instalada com fontes limpas somou 180 GW e em 2018
idem. Essa potência elétrica nova disponível está, portanto, 40% abaixo da necessária para
atender o objetivo da COP21, segundo o Cenário de Desenvolvimento Sustentável
da Agência Internacional de Energia (AIE) até 2030.
A
expansão insuficiente registrada no ano passado é preocupante, já que em 2018
as emissões de CO2 na produção elétrica somaram 33 gigatoneladas. Um aumento de
1,7% em relação a 2017, apesar do avanço de 7% na geração de energia limpa.
Desde
2001 que capacidade global instalada com energia solar, eólica, hídrica e
biomassa vinha crescendo ano a ano, como é mostrado no gráfico levantado com dados
da AIE (imagem).
Expansão
anual da capacidade instalada no mundo com fontes de energia renovável
(2000-2018).
“O
mundo não pode se dar ao luxo de frear a expansão das energias renováveis, e os
governos precisam corrigir rapidamente este desvio de rota, para acelerar o
fluxo de novos projetos”, disse o diretor executivo da AIE Fatih Birol.
Entre
as principais fontes limpas, a energia solar foi a que mais impulsionou a
transição energética global entre 2016 e 2018, seguida da eólica - que nos
últimos 4 anos liderou a expansão apenas em 2015 -, da hídrica e da biomassa
(imagem).
Expansão
da capacidade instalada adicional, por tecnologia, entre 2015 e 2018.
Mas
o avanço da capacidade solar fotovoltaica (FV) estagnou-se entre 2017 e 2018,
enquanto a da eólica e da bioenergia cresceram levemente e a da fonte hídrica
teve uma pequena queda, de um ano para outro.
A
expansão anual da geração fotovoltaica ficou abaixo do esperado para 2018, que
era a marca emblemática de 100 GW. Foi de apenas 97 GW, reflexo da mudança na
política de incentivos da China, que priorizou os investimentos na integração da
rede elétrica, em detrimento da produção de painéis fotovoltaicos.
A
estagnação do avanço mundial das renováveis foi também uma consequência da
fraca expansão da eólica na União Europeia e na Índia.
Entre
os principais países investidores em projetos de geração de energia renovável,
a China liderou com folga a taxa de expansão da capacidade instalada, tendo
sofrido uma leve queda de 2017 para 2018, assim como a União Europeia, Índia e
Japão (imagem).
Evolução
anual da capacidade instalada nova de energias renováveis
nos principais
países, blocos ou regiões.
Apesar
da menor taxa de expansão registrada em 2018, a China respondeu por quase 45%
da capacidade global de eletricidade renovável no ano passado.
Na
contramão da tendência registrada pela União Europeia, Índia e Japão, os Estados Unidos registraram uma pequena expansão
em novas instalações, mas ainda distante daquela verificada em 2016, quando
agregou à sua potência de energia limpa quase 25 GW. O avanço em 2018 foi
impulsionado pela expansão da eólica, enquanto a solar fotovoltaica permaneceu
estável.
Já
o conjunto de “outros países” – que inclui Brasil, Canadá, México e Austrália –
teve um avanço considerável em 2018, acrescentando à sua capacidade instalada cerca de
28 GW, mesmo patamar registrado em 2016.
Em
muitas economias emergentes e países em desenvolvimento, especialmente na Ásia,
Oriente Médio e Norte da África, houve uma aceleração da expansão da capacidade
renovável instalada, o que não deixa de ser um bom sinal.
Mas
é preciso que os maiores PIB do planeta adotem uma postura mais agressiva em prol
da transição energética, para acelerar o aumento da produção de eletricidade
limpa.
É
urgente que esses países adotem conjuntamente políticas eficazes que reduzam incertezas
no mercado de energia renovável, criando condições perenes para fomentar o
investimento e garantir a integração dos sistemas de energia eólica e solar na
rede de geração elétrica.
É
preciso reverter a tendência revelada nos dados de expansão das energias
renováveis em 2018, considerados profundamente preocupantes pela AIE.
As
diretrizes da AIE são amparadas pela quase totalidade do mundo científico,
que há anos alerta sobre a urgência de se enfrentar o aquecimento
climático pela aceleração do investimento em tecnologias de energia limpa,
eficiência energética e sistemas de captura de CO2.
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