Descaso com floresta Amazônica põe país na berlinda em Cúpula de Líderes sobre o Clima
https://climainfo.org.br/2020/06/26/junho-registra-o-maior-numero-de-queimadas-na-amazonia-desde-2007/
40 líderes mundiais participam
de discussões online nos próximos dias 22 e 23 para tratar de questões climáticas, com foco
nos gargalos para cumprimento do Acordo de Paris pelos países mais poluidores. O
evento é uma preparação para a próxima Conferência das Partes (COP26), a ser
realizada em Glasgow (Escócia) em novembro.
Não bastasse a tragédia humanitária causada pelo negacionismo e omissões do governo federal no combate à pandemia de Covid-19, o Brasil é destaque internacional também pela desastrosa política ambiental inaugurada em 2019, responsável pela destruição acelerada da maior floresta tropical do planeta.
No começo do ano, 9
ex-ministros brasileiros do Meio Ambiente encaminharam um documento à Alemanha,
França e Noruega, denunciando a devastação na Amazônia causada pela “dupla
calamidade pública, ambiental e de saúde”. Os três países europeus mantêm o
Fundo Amazônia, sendo a Noruega o principal doador, com 94% dos recursos.
Uma alta porcentagem das emissões
brasileiras de carbono são oriundas de queimadas. Segundo o relatório “Análise
da Emissões Brasileiras de Gases de Efeito Estufa e suas implicações para as Metas
de Clima no Brasil”, divulgado no mês passado, 50% das emissões de CO2 causadas
por queimadas em 2019 são oriundas de incêndios atípicos no bioma amazônico. O
estudo foi elaborado com dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de
Efeito Estufa (SEEG).
Dados de 2018 sobre
emissões por estado mostram que o Pará responde por 18,4% do total de emissões
nacionais, seguido por Mato Grosso (10,6%) e Amazonas (6,8%). Ou seja, estes
estados amazônicos juntos respondem por quase 36% das emissões totais
brasileiras.
O Brasil faz parte de um
grupo de 17 países que, juntos, respondem por 80% das emissões globais de gases
de efeito estufa. O “recado” da ONU aos países negligentes com os compromissos
assumidos em 2015 na COP21 ou aqueles que apresentaram em 2020 metas “pouco ambiciosas”,
como o Brasil, é claro: revejam suas metas!
O objetivo ideal preconizado
pelo Acordo de Paris, de limitar a elevação da temperatura global em 1,5 oC
até 2100, está longe de ser alcançado, como diz o relatório sobre ações climáticas
da ONU, publicado em 26 de fevereiro de 2021.
Se o grupo de países responsável
por 30% das emissões totais de carbono, Brasil incluído, cumprir os planos apresentados
no ano passado, as emissões globais em 2030 seriam apenas 1% menores que
aquelas registradas em 2010.
Só que, para limitar o aquecimento
a 1,5 oC até o final do século, as emissões antrópicas precisariam
ser reduzidas nos próximos 10 anos em 45%! E, para limitar a temperatura abaixo de 2 oC,
os países em questão devem cortar 1/4 de suas emissões.
De acordo com o relatório
do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), publicado em
dezembro de 2020, para limitar o aquecimento global a 1,5 oC, a
produção mundial de combustíveis fósseis deve ser reduzida em 6% ao ano até
2030 e se manter neste patamar até 2100. Mas os países produtores planejam aumentar
em mais de 12% sua produção anual no período.
A balança dos
investimentos para relançar a economia, deprimida pela pandemia de Covid-19, mostra-se
desfavorável ao equilíbrio climático: líderes do G20 destinaram 230 bilhões de
dólares para produção e consumo de combustível fóssil, contra 150 bilhões para energias
renováveis. É evidente que é preciso reequilibrar esta balança.
Para isto, as principais
economias precisam seguir políticas governamentais de outros países, como
China, Japão e Coreia do Sul, que, mesmo no contexto da pandemia, se comprometem
a zerar suas emissões líquidas de carbono, lembra a diretora executiva do
Pnuma, Inger Andersen.
Ao mesmo tempo em que
reduzam suas demandas de combustíveis fósseis, os países mais ricos devem ajudar
aqueles que ainda dependem do consumo de energia poluente, defende um dos principais
autores do relatório do Pnuma, Michael Lazarus.
Até 2030, a produção
mundial de carbono, petróleo e gás deve diminuir de 11%, 4% e 3%, respectivamente,
para garantir uma trajetória de emissões compatível com a meta de uma elevação máxima de temperatura a 1,5 oC, diz o relatório do Pnuma.
Se por um lado o Brasil
dispõe de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, já que 70% de sua energia elétrica é de origem hídrica e boa parte do transporte
individual utiliza biocombustível, emissões amazônicas crescentes significam a
destruição acelerada de um bioma vital para o equilíbrio climático global.
O estudo realizado com
dados do SEEG e divulgado recentemente confirma que o Brasil não cumprirá sua
meta de reduzir o desmatamento da Amazônia em 80%, muito menos conseguirá cortar 40% das emissões de carbono na região, no período de 2010 a 2020.
A meta assumida pelo país no Acordo de Paris, de limitar as emissões brutas em 2,06 bilhões de toneladas de CO2 até 2020, foi superada em 2019, de acordo com o Observatório do Clima.
Com dados do sistema Prodes, o INPE avalia que o desmatamento no ano passado superou 11
mil km2, o que é mais que o dobro da meta fixada pela Política
Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).
A nova meta assumida pelo Brasil em dezembro passado prevê um desmatamento da Amazônia 78% maior que em 2018 e 20% maior que em 2020.
Com a volta dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, o anfitrião da Cúpula de Líderes, presidente Joe Biden, deverá, a justo título, pressionar o governo brasileiro a rever suas metas ambientais.
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