terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Mudança do Clima

Jornal da Ciência, 25 de novembro de 2008.

Mudança do clima: polêmica sobre diagnóstico, consenso sobre remédio?, artigo de Antonio Pralon
















“Polêmica a parte, o que importa aos habitantes do planeta são as conseqüências da mudança do clima e como elas podem afetar suas vidas”

Antonio Pralon é professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e bolsista Capes em estágio pós-doutoral no Instituto Francês do Frio Industrial, em Paris. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

Assim como os efeitos da alteração climática, a polêmica sobre as suas causas não tem fronteiras. Eclodiu na França há dois anos, agora reaparece na mídia brasileira. Lá, o estopim foi uma crônica (“Neiges du Kilimandjaro”) publicada no semanário l’Express, de autoria do cientista Claude Allègre.

Allègre questionou a influência decisiva da atividade humana e do efeito estufa sobre a mudança do clima, baseado em um estudo da neve na montanha Kilimanjaro (Tanzânia).

Ele não nega a alteração do clima, a qual “jamais houve igual na história dos homens e na história geológica”, mas não considera o aquecimento global o fenômeno essencial, e sim o aumento da freqüência dos fenômenos extremos, como ondas de calor, invernos rigorosos, tempestades, secas prolongadas e furacões violentos. E, acrescenta, “a distribuição geográfica desses fenômenos parece ser aleatória”.

O geofísico francês afirma que outros parâmetros são mais importantes que o aumento antrópico do teor de CO2 na atmosfera, tais como, o ciclo das águas, com a formação de diversos tipos de nuvens, e os efeitos complexos produzidos por aerossóis industriais ou agrícolas.












Em seu artigo sobre o Kilimanjaro, ele fustiga os partidários de uma “ecologia da impotência e do protesto, que se tornou um negócio bem lucrativo para alguns”.

A crítica dirigia-se ao GIEC (Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Evolução do Clima), que publicara um relatório afirmando ser impossível explicar a mudança do clima nos últimos cinqüenta anos sem levar em conta o aumento do efeito estufa causado por emissões antrópicas.

A polêmica atual no Brasil

Recentemente, a controvérsia em torno das previsões do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) foi protagonizada por eminentes figuras do meio acadêmico nacional. Um dos adeptos do “consenso” sobre a principal causa da mudança do clima saiu em defesa dos modelos climáticos, cuja validade foi questionada por um “dissidente”.

Claude Allègre, o protagonista da polêmica de 2006 na França, afirma ser impossível prever a longo termo a evolução do clima, porque ele depende da lógica de fenômenos caóticos. Mesmo ponto de vista de alguns pesquisadores brasileiros, que questionam a validade dos modelos usados para determinar a temperatura global do planeta. Um deles cita o matemático Norbert Weiner – o “pai da cibernética” – que afirmara ser impossível modelar o clima. Este interlocutor inclina-se pela idéia de que o clima na Terra é controlado pelo Sol, através da radiação cósmica incidente.

No campo do IPCC, argumenta-se que a atmosfera, apesar de constituir um sistema caótico, pode ser tratada estatisticamente para prever o clima em longo prazo. Os modelos climatológicos parecem ser as ferramentas mais importantes para prever o clima das próximas décadas, ou haveria outras?
















A metodologia básica consiste em dividir a atmosfera em malhas de 100 por 100 km (na França, de 60 por 60 km) e levar em conta suas interações com os continentes, os oceanos e os glaciais. Os programas são executados em supercomputadores e são constantemente ajustados, com base na observação do clima de períodos passados e do clima presente.

No entanto, alguns especialistas – como o físico e doutor em meteorologia Luiz Carlos Molion – defendem que, para serem de fato representativos, os modelos de clima global precisam ser “parametrizados”. Isto significa incluir os fenômenos que se desenvolvem em escalas inferiores às dimensões das malhas, como o processo de formação e cobertura de nuvens, precipitação e processos físicos envolvendo aerossóis. Molion afirma em um artigo recente que a parametrização “normalmente depende da intuição física do modelador” e, portanto, pode não representar o fenômeno, constituindo uma ferramenta duvidosa.

Afinal, a culpa é do homem ou da natureza?

O primeiro a anunciar que a queima de carvão pelo homem iria produzir o aquecimento do planeta – através de um efeito estufa adicional – foi August Arrhenius, químico sueco Prêmio Nobel em 1913.

Estudos publicados em dois artigos da revista Nature (maio de 2008), revelam que os atuais teores de gás carbônico e metano – principais gases de efeito estufa depois do vapor d’água – são maiores do que aqueles existentes nos últimos 800 mil anos.









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