Em reunião preparatória para a COP26, vice-presidente da Comissão Europeia diz que ‘melhor estratégia para enfrentar mudança climática é reduzir rapidamente emissões globais de CH4’
Em escala secular, o gás
metano (CH4) tem um poder de aquecimento atmosférico quase 30 vezes maior que o
CO2. Responde por 1/3 do chamado “efeito estufa” natural e 17% das emissões
antrópicas, ante 65% do CO2.
No mês passado, um conjunto de países responsáveis pela maior parte do CH4 liberado na atmosfera se comprometeu em reduzir as emissões deste gás.
Em reunião da Comissão Europeia preparatória para a COP26 realizada no último dia 11, as adesões se ampliaram e 24 países vão aportar 200 milhões de dólares para bancar suas ações.
Depois do CO2, o CH4 é o gás que mais contribui com a “forçagem radiativa”, uma grandeza física expressa em unidades de energia/tempo x área (W/m2), que designa o desequilíbrio entre a energia solar que entra na atmosfera e a energia dissipada da atmosfera, fenômeno responsável pelo aquecimento global.
Os gases e aerossóis que
causam efeito estufa, liberados pela indústria, transporte, agricultura,
produção de energia e outras atividades representaram um aumento da forçagem
radiativa de 29% entre 1990 e 2010 (figura). E esta não para de crescer.
O metano seria responsável
por cerca de metade dos 1,1 oC de aumento da temperatura atmosférica desde a
década de 1850. Entre os 24 países que se comprometeram em reduzir suas
emissões de metano estão os 9 maiores emissores, que respondem juntos por 30%
do total. Caso se concretize a redução de emissões de CH4 anunciada, a
temperatura planetária poderia recuar 0,2 oC até 2050.
Como o metano permanece na
atmosfera por menos tempo que o dióxido de carbono -que se mantém no ar por
centenas a milhares de anos-, uma diminuição de sua concentração teria um
impacto mais imediato, dizem os cientistas.
Mesmo uma pequena redução
do aquecimento global já seria importante, tendo em vista as pressões negativas
para o cumprimento do Acordo de Paris (2015) -que visa limitar o aumento de
temperatura a 1,5 oC até 2100-, avalia Frans Timmermans, chairman da reunião de
Compromisso Global de Metano ocorrida em 11 de outubro.
O compromisso conjunto
anunciado pelos Estados Unidos e União Europeia no mês passado, em reunião do
Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima, prevê uma redução das emissões globais
de CH4 de no mínimo 30% até 2030 em relação aos níveis de 2020.
No entanto, a promessa
global tem pela frente grandes obstáculos, que
passam pela falta de dados precisos e de um monitoramento eficaz para
determinar os locais exatos onde há atividades que promovem a liberação deste
gás.
Para enfrentar este
desafio, a União Europeia está trabalhando com o Programa Ambiental da ONU para
estabelecer um observatório internacional de emissões de metano, informa Timmermans.
Um outro problema a ser
enfrentado é a falta de mecanismos de fiscalização e o estabelecimento de metas
específicas para o setor ou metas nacionais, o que pode dificultar a
responsabilização dos países.
Além do apoio inicial de Argentina,
Indonésia, Iraque, México, Itália e Reino Unido, de países altamente emissores de CH4 como a Nigéria e o Paquistão, e de outros mais vulneráveis aos impactos da
mudança climática, o total de nações que aderiram à iniciativa chega a 32 mais
a União Europeia.
Até o início da Conferência
das Partes (COP26) que se realizará em Glasgow no final de outubro, o
vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans e o representante do
Estados Unidos John Kerry esperam que a adesão aos compromissos de metano
supere os 100 países. Mesmo sem o apoio dos três maiores emissores: China, Rússia
e Índia.
O emissário russo para questões
climáticas Ruslan Edelgeriev declarou ontem que seu país apoia um esforço
conjunto de monitoramento para lidar com as incertezas em torno das emissões de
metano.
O Brasil, por exemplo, com
mais cabeças de gado (214,7 milhões contabilizadas em 2019) do que gente,
detentor do segundo maior rebanho do mundo, é provavelmente um dos maiores emissores
de CH4 do planeta. Quase 1/3 das emissões antrópicas globais desse gás provém de
animais, do esterco e de liberações gastroentéricas.
Sem falar das emissões por
decomposição de matéria orgânica ligadas à derrubada de floresta nativa,
especialmente na Amazônia, para dar lugar a pasto. Qual a quantidade exata de
metano que nosso país despeja anualmente na atmosfera?
Por sua vez, Timmermans destacou progressos registrados por alguns países, como os Estados Unidos, que
reduziu as emissões de combustíveis fósseis em 65% nos últimos 30 anos e está
elaborando uma legislação para diminuir a liberação de CH4 em sua cadeia
produtiva.
O Canadá planeja introduzir
regulamentações para reduzir as emissões de metano no setor de petróleo e gás
em pelo menos 75% até 2030 em relação ao nível de 2012. As metas climáticas
mais recentes da Nigéria incluem uma redução das emissões de CH4 em 60% até
2031.
O uso de combustíveis fósseis
para produção de energia e agricultura é a maior fonte de emissões
antrópicas de metano. Mas já há tecnologia disponível para reduzi-las em 1/3,
segundo avaliação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e
da Climate & Clean Air Coalition.
Já o CH4 gerado pelas indústrias poderia ser mitigado com a instalação de dispositivos de captura, afirma José Henrique Martins Neto, professor titular e colaborador do Mestrado em Engenharia Mecânica do CEFET de Minas Gerais.
“O metano é o principal componente do gás natural e poderia ser queimado, gerando vapor de água e CO2, este último podendo ser capturado na saída da câmara de combustão”, explica Martins Neto.
https://www.futura-sciences.com/planete/definitions/climatologie-forcage-radiatif-10242/
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