sábado, 8 de outubro de 2011

Cinema argentino: mais um filme retrata desaparecidos e adoção ilegal durante a ditadura

Em “O dia em que eu não nasci”, ‘sexto sentido’ leva protagonista a desvendar suas origens

“Das Lied in mir”, título original de “O dia em que eu não nasci” (2010, 94 min)
http://cinema.uol.com.br/album/o_dia_em_que_eu_nao_nasci_2010_album.jhtm#fotoNav=2

O filme germânico-portenho, que estreou em São Paulo semana passada, mostra a pior face da ditadura mais sanguinária da história recente da América do Sul. É mais um, entre tantos outros, que traz à tona um tema tão sensível e caro aos argentinos. 

Enquanto no Brasil a Comissão da Verdade – criada para investigar violações aos direitos humanos no período ditatorial (1964-85) – não sai do papel, na Argentina os tribunais não param de colocar na cadeia os executores ou cúmplices das atrocidades cometidas durante a ditadura. Até hoje, 262 foram condenados e 802 são alvos de processos. E o cinema argentino tem refletido bem esta realidade, desde o crepúsculo daquele período sombrio.

A ditadura argentina (1976-83) vitimou 30 mil civis e deixou um sem número de órfãos de prisioneiros ou desaparecidos, muitos deles adotados ilegalmente por algozes de seus próprios pais ou por colaboradores do regime. 

Este é justamente o mote de “O dia em que eu não nasci”, dirigido pelo alemão Florian Micoud Cossen e premiado como melhor filme no Festival de Zurique. A protagonista (Maria) é uma cidadã alemã, interpretada por Jessica Schwarz, que, durante uma viagem ao Chile, é obrigada a fazer uma escala em Buenos Aires. 

Enquanto espera seu voo de conexão, Maria reconhece uma canção de ninar entoada por uma mulher com um bebê no colo, que está ao seu lado. O detalhe é que a música é cantada em espanhol, idioma que Maria desconhece completamente. Perturbada pelo inexplicável, ela perde o voo e se hospeda em um hotel na capital argentina, onde vai reencontrar um passado que lhe escapa à memória. 

Ela telefona para seu pai, na Alemanha, e lhe conta sua experiência sensorial. Ele vai ao seu encontro e lhe revela que ela fora adotada durante a ditadura, quando ele trabalhava para uma empresa alemã sediada em Buenos Aires. Mas só lhe conta parcialmente as circunstâncias que cercaram a sua adoção.

Por ironia do destino, Maria se envolve com um policial – ciente da responsabilidade de sua corporação durante o regime militar – que se torna o interlocutor dela com o seu  passado, sua família biológica. "Pessoas como Anton Falkenmayer (seu pai adotivo) estão na cadeia", ela ouve de um de seus parentes argentinos. Mas no final, seu dramático dilema é resolvido; a relação afetiva entre Maria e seu pai se sobrepõe ao desejo de justiça evocado por seus laços de sangue.

As cenas de Buenos Aires, captadas de forma original ao som de uma trilha sublime, descrevem com maestria o ambiente fugaz em que a protagonista vive sua epifania. Um belo filme!

Nenhum comentário:

Postar um comentário