‘A França está
atrasada [na sua meta para energias renováveis]’
Apesar de ter aumentado a participação de fontes renováveis em sua matriz energética em 64%, de 2007 a 2017, a França está distante de cumprir sua meta para o final da década.
Face ao objetivo fixado em 2008 pelos 28 Estados membros da União Europeia (UE-28), de 20% de renováveis no consumo final de energia até 2020; 11 países já atingiram este patamar, entre eles a República Checa, Dinamarca e Itália.
Remando
contra a maré, a França está cada vez mais longe da meta fixada para o ano que
vem, de 23%, apesar de ter avançado, de 2008 a 2016, de 11,4% para 16,7% na
participação de renováveis no mix elétrico
do país.
Se
o atraso já era previsível no final de 2017, de lá pra cá novos atores entraram
em cena, entre eles o plano para reduzir a geração nuclear, tornando cada vez mais
remoto o objetivo em termos de fontes renováveis para 2020.
De
fato, há 1 ano e meio o governo francês anunciava o que seria uma das
principais metas da “lei de transição energética”: uma redução de 75% a 50% da
participação nuclear na produção elétrica do país até 2035. Parte dessa redução
deveria ser ocupada por fontes renováveis não convencionais.
Em
2017, a França registrava que a parte nuclear na produção elétrica nacional era
de 71,6%, uma queda de 5 pontos em relação a 2015. Para atender à meta mais
modesta fixada (50%) para 2035, será preciso desativar 14 dos 58 reatores em
atividade.
Neste
sentido, ante a necessidade de desativar reatores sem comprometer a oferta de
energia, está prevista a instalação de reatores de última geração EPR (European Pressurized Reactor), com maior
capacidade de produção, a um custo 10% menor e um kWh 20% mais barato do que aquele
oriundo de usinas à gás, e uma duração de vida de 60 anos (contra 40 anos dos antigos
reatores).
O
problema que a França enfrenta são os sucessivos atrasos para tornar
operacional seu primeiro reator EPR, na central nuclear de Flamanville, Normandia. Previsto
inicialmente para operar em 2012, vários contratempos na fabricação do EPR
francês levaram a postergar sua entrada em operação, prevista só para 2020.
O entrave não é exclusividade da França. No mundo todo, há 10 projetos de EPR em
andamento (na Finlândia, Reino Unido e China, entre outros), todos com atrasos
consideráveis e apenas um em funcionamento: o da central chinesa de Taishan 1.
Outros
fatores, porém, impactaram o avanço da participação de renováveis nos últimos
anos, contribuindo para que a meta francesa para 2020 esteja fortemente
ameaçada.
Uma
série de políticas voltadas ao fomento da energia solar fotovoltaica,
implementadas desde 2009, nem sempre obtiveram resultados positivos para o
setor.
Diferentes
mecanismos de incentivo foram adotados, com tarifas pré-fixadas, prêmios para o
kWh autoconsumido, subvenções para aquisição de tecnologias de estocagem, entre
outros.
Com
o baixo custo dos painéis fotovoltaicos, produzidos principalmente na China, o
número de projetos de instalações centralizadas e individuais explodiu, criando
no país uma “bolha especulativa”.
Para
mitigar o problema, o governo francês instituiu uma “moratória solar”, provocando
o congelamento de vários projetos, paralisando fortemente o setor entre 2010 e
2013.
Quanto
aos projetos eólicos, a França evoluiu muito lentamente, em relação à dinâmica
seguida pelo país vizinho, a Alemanha, onde o tempo entre a concepção de um
projeto e sua operacionalização é de 4 anos em média, contra 8 anos na França.
Correções
de rota vem sendo implementadas desde 2018, mas os resultados abaixo do
esperado na produção fotovoltaica e eólica refletem a dificuldade de se cumprir
a meta estabelecida para o final da década.
Quando
o “pacote Energia Clima 2020” foi lançado, a meta da França significava um
aumento de 12,6 pontos percentuais em 12 anos, já que o país contava com uma participação
de 11,4% de renováveis no consumo final de energia, ante 10,4% da UE-28 (figura
abaixo).
Evolução da participação de fontes
renováveis na matriz elétrica da França e da EU-28, entre 2008 e 2020
(projeção). FONTE: Analyse Sia Partners
Como indicado na figura, em 2016 o atraso da França já era visível, quando a UE-28 registrava 1 ponto percentual acima. Para 2020, o país galês precisaria avançar 6,3 pontos percentuais; só a Holanda está em situação pior, a 7,4 pontos de sua meta.
Apesar do ritmo de sua transição energética estar abaixo do esperado, a França dispõe de um potencial de produção de energia renovável não convencional bastante diversificado.
O
país possui a maior franja marítima da Europa, tendo, portanto, o maior
potencial eólico offshore, o 2º maior
potencial onshore e o 5º maior
potencial solar. Sem falar de sua capacidade hidrelétrica, que é a maior do
continente.
Embora
a União Europeia esteja somente a 3,3% do objetivo traçado para 2020, em termos
de consumo final de energia, a tendência projetada não se mostra favorável ao
alcance da meta.
A
França teve seu consumo energético, de 2014 a 2017 praticamente estável, enquanto outros 7 países tiveram queda.
Globalmente,
a UE-28 registrou no período um aumento de 5,3%, o que põe em risco a meta estabelecida
para 2020, de 20% de redução em relação ao consumo de energia em 2008.
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