terça-feira, 16 de abril de 2019

França: transição energética em prol de renováveis deve atrasar

Com forte dependência da energia nuclear, país dificilmente atingirá meta fixada para participação de fontes limpas até 2020

A França está atrasada [na sua meta para energias renováveis]’

Apesar de ter aumentado a participação de fontes renováveis em sua matriz energética em 64%, de 2007 a 2017, a França está distante de cumprir sua meta para o final da década.

Face ao objetivo fixado em 2008 pelos 28 Estados membros da União Europeia (UE-28), de 20% de renováveis no consumo final de energia até 2020; 11 países já atingiram este patamar, entre eles a República Checa, Dinamarca e Itália. 

Remando contra a maré, a França está cada vez mais longe da meta fixada para o ano que vem, de 23%, apesar de ter avançado, de 2008 a 2016, de 11,4% para 16,7% na participação de renováveis no mix elétrico do país.

Se o atraso já era previsível no final de 2017, de lá pra cá novos atores entraram em cena, entre eles o plano para reduzir a geração nuclear, tornando cada vez mais remoto o objetivo em termos de fontes renováveis para 2020.

De fato, há 1 ano e meio o governo francês anunciava o que seria uma das principais metas da “lei de transição energética”: uma redução de 75% a 50% da participação nuclear na produção elétrica do país até 2035. Parte dessa redução deveria ser ocupada por fontes renováveis não convencionais.

Em 2017, a França registrava que a parte nuclear na produção elétrica nacional era de 71,6%, uma queda de 5 pontos em relação a 2015. Para atender à meta mais modesta fixada (50%) para 2035, será preciso desativar 14 dos 58 reatores em atividade.

Neste sentido, ante a necessidade de desativar reatores sem comprometer a oferta de energia, está prevista a instalação de reatores de última geração EPR (European Pressurized Reactor), com maior capacidade de produção, a um custo 10% menor e um kWh 20% mais barato do que aquele oriundo de usinas à gás, e uma duração de vida de 60 anos (contra 40 anos dos antigos reatores).

O problema que a França enfrenta são os sucessivos atrasos para tornar operacional seu primeiro reator EPR, na central nuclear de Flamanville, Normandia. Previsto inicialmente para operar em 2012, vários contratempos na fabricação do EPR francês levaram a postergar sua entrada em operação, prevista só para 2020.

O entrave não é exclusividade da França. No mundo todo, há 10 projetos de EPR em andamento (na Finlândia, Reino Unido e China, entre outros), todos com atrasos consideráveis e apenas um em funcionamento: o da central chinesa de Taishan 1.

Outros fatores, porém, impactaram o avanço da participação de renováveis nos últimos anos, contribuindo para que a meta francesa para 2020 esteja fortemente ameaçada.

Uma série de políticas voltadas ao fomento da energia solar fotovoltaica, implementadas desde 2009, nem sempre obtiveram resultados positivos para o setor.

Diferentes mecanismos de incentivo foram adotados, com tarifas pré-fixadas, prêmios para o kWh autoconsumido, subvenções para aquisição de tecnologias de estocagem, entre outros.

Com o baixo custo dos painéis fotovoltaicos, produzidos principalmente na China, o número de projetos de instalações centralizadas e individuais explodiu, criando no país uma “bolha especulativa”.

Para mitigar o problema, o governo francês instituiu uma “moratória solar”, provocando o congelamento de vários projetos, paralisando fortemente o setor entre 2010 e 2013.

Quanto aos projetos eólicos, a França evoluiu muito lentamente, em relação à dinâmica seguida pelo país vizinho, a Alemanha, onde o tempo entre a concepção de um projeto e sua operacionalização é de 4 anos em média, contra 8 anos na França.

Correções de rota vem sendo implementadas desde 2018, mas os resultados abaixo do esperado na produção fotovoltaica e eólica refletem a dificuldade de se cumprir a meta estabelecida para o final da década.

Quando o “pacote Energia Clima 2020” foi lançado, a meta da França significava um aumento de 12,6 pontos percentuais em 12 anos, já que o país contava com uma participação de 11,4% de renováveis no consumo final de energia, ante 10,4% da UE-28 (figura abaixo).

Evolução da participação de fontes renováveis na matriz elétrica da França e da EU-28, entre 2008 e 2020 (projeção). FONTE: Analyse Sia Partners

Como indicado na figura, em 2016 o atraso da França já era visível, quando a UE-28 registrava 1 ponto percentual acima. Para 2020, o país galês precisaria avançar 6,3 pontos percentuais; só a Holanda está em situação pior, a 7,4 pontos de sua meta.

Apesar do ritmo de sua transição energética estar abaixo do esperado, a França dispõe de um potencial de produção de energia renovável não convencional bastante diversificado. 

O país possui a maior franja marítima da Europa, tendo, portanto, o maior potencial eólico offshore, o 2º maior potencial onshore e o 5º maior potencial solar. Sem falar de sua capacidade hidrelétrica, que é a maior do continente.

Embora a União Europeia esteja somente a 3,3% do objetivo traçado para 2020, em termos de consumo final de energia, a tendência projetada não se mostra favorável ao alcance da meta.

A França teve seu consumo energético, de 2014 a 2017 praticamente estável, enquanto outros 7 países tiveram queda.

Globalmente, a UE-28 registrou no período um aumento de 5,3%, o que põe em risco a meta estabelecida para 2020, de 20% de redução em relação ao consumo de energia em 2008.

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