segunda-feira, 25 de março de 2019

Solar fotovoltaico: Europa se prepara para recuperar terreno no setor

Desafio de fabricantes europeus é reconquistar mercado via “Gigafactories”, sem contrariar diretrizes da União Europeia

Projeto da Gigafactory Tesla, em Nevada (EUA), 100% alimentada por energia renovável, prevista para produzir 50 GWh de baterias para 500 mil carros, a partir de 2020
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Desde 2017 que a supremacia do mercado solar fotovoltaico foi para as mãos dos chineses. Os 10 maiores fabricantes mundiais de painéis solares estão na Ásia, 90% deles na China.

Até então campeões da produção de dispositivos fotovoltaicos, os gigantes europeus não param de decretar falência nos últimos dois anos.

No entanto, a Europa continua líder no plano das tecnologias de ponta, sem falar na vantagem de se produzir onde está o mercado consumidor, já que a participação dos custos de transporte na cadeia produtiva tem pesado cada vez mais.

Analistas do setor avaliam que as potenciais vantagens logísticas e econômicas dos fabricantes europeus, aliadas a uma realocação da produção, podem alavancar o setor no velho continente.

Nesse contexto, surgem as Gigafactories, megaconsórcios nacionais ou multinacionais de fabricantes, visando otimizar as diferentes etapas de produção na cadeia de valores do solar fotovoltaico.

O grande desafio é fomentar a criação de Gigafactories, sem contar com subsídios dos Estados europeus. No final de 2018, o ministério da Economia e da Energia da Alemanha anunciou um aporte financeiro de 1 bilhão de euros a uma Gigafactory formada por 16 fabricantes nacionais.

O anúncio deixa uma dúvida crucial no meio de especialistas. Em editorial de sua mais recente publicação do Journal du Photovoltaïque – Rede e Autoconsumo, o Observatoire de Énergies Renouvelables questiona o fato da referida Gigafactory estar voltada exclusivamente para a produção de baterias, ao invés de itens mais nobres da cadeia de valores, como wafers, células e módulos fotovoltaicos.

O mesmo editorial assinala a aparente contradição entre o subsídio do governo alemão e as diretrizes da Comissão Europeia, contrárias à intervenção estatal na economia. E também a falta de um projeto conjunto entre França e Alemanha -dois dos países que mais detém knowhow na área- nos moldes da Gigafactory Tesla (imagem de capa).

As perspectivas do mercado fotovoltaico europeu para os próximos 4 anos não são muito animadoras. Entre o pior cenário e o melhor, parece razoável que em 2022 o setor volte ao nível de 2011 -o melhor da década-, quando a capacidade instalada anual chegou a pouco mais de 22 GW (figura abaixo).

Evolução e perspectivas do mercado fotovoltaico europeu (2018-2022). FONTE: SolarPower Europa, adaptado de Le Journal du Photovoltaïque – Réseau et Autoconsommation, No 30, Janeiro-Fevereiro-Março 2019

Berço do fotovoltaico, a Europa adquiriu múltiplas competências em todos os segmentos da cadeia de valores do setor, as quais lhe permitem retomar uma posição de destaque no mercado global de energia solar.

Entre elas, destaque para sua liderança mundial em matéria prima. A Alemanha, por exemplo, dispõe atualmente de uma capacidade de produção anual de 60 mil toneladas de polisilício, nos sítios de Burghausen e Nünchritz.

A França, por sua vez, detém uma capacidade singular para fabricar lingotes de silício com 98% de monocristalino, via tecnologia CrytalMax.

O fabricante de fornos industriais ECM Greentech, sediado em Grenoble, é capaz de produzir lingotes de até 1.400 kg, com alto grau de silício monocristalino usando a nova tecnologia, o que permite obter wafer monocristalino a um custo similar ao do policristalino.

O wafer é um termo que designa uma fina camada de material semicondutor, geralmente em forma de disco, com espessura de 0,7 mm em média. É um componente básico na fabricação de circuitos integrados (de computadores, p. ex.) e de células para módulos fotovoltaicos.

Já a Itália dispõe da tecnologia de “hétero-junção”, que permite a fabricação de células solares de alto rendimento. A 3SUN-Enel Green Power, com sede em Catânia, Sicília, prevê para 2020 uma capacidade de produção anual de 200 MW de painéis fotovoltaicos com rendimento de 20%.

De acordo com o EurObserv’ER 2018, esses três países juntos acumularam em 2017 uma potência solar fotovoltaica estimada em 70 GW, sendo (em números redondos): 42 GW na Alemanha, 20 GW na Itália e 8 GW na França. São os campeões europeus em capacidade fotovoltaica; a Espanha aparece em quarto lugar, com 5 GW.

Fonte: Le Journal du Photovoltaïque – Réseau et Autoconsommation, No 30, Janeiro-Fevereiro-Março 2019

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