Atividade
pecuária e lixões são fortes emissores de metano; criação de gado responde por
30% das emissões, causadas pela digestão dos ruminantes e a fermentação de seus excrementos. (IMAGENS: Jennifer C./Flickr, CEA)
Menos
midiático que o CO2, o metano (CH4) é um gás bem mais potente em termos de
efeito estufa. Em escala secular, seu poder de aquecimento global é quase 30
vezes maior que o do CO2.
Responsável
por 1/3 do efeito estufa, o CH4 é emitido tanto de forma natural, quanto por
atividades humanas, sendo difícil quantificar cada uma dessas contribuições.
Agora,
um estudo da Universidade de Rochester (EUA) mostra que a concentração
atmosférica desse gás, oriunda de combustíveis fósseis, pecuária, etc é bem maior do que
estudos anteriores indicavam.
Os
pesquisadores americanos conseguiram distinguir quantitativamente as emissões
de metano fóssil daquelas de origem natural, analisando bolhas de ar
aprisionadas em amostras de gelo extraídas da Groenlandia.
O
objetivo do estudo era avaliar a composição deste ar, desde o início do século
XVIII, ou seja, antes da Revolução Industrial, até os dias de hoje. Como
o homem começou a usar em grande escala combustíveis fósseis somente a partir
de meados do século XIX, o metano presente nas bolhas corresponde principalmente às emissões naturais.
Assim,
medidas de carbono-14 comprovaram que até 1870 praticamente todo o CH4 atmosférico
era de origem biológica, e não fóssil. Extrapolando
para o século XXI, a pesquisa revela que a parcela de metano liberado naturalmente
é cerca de dez vezes menor do que apontam estimativas anteriores, o que levou
os cientistas americanos a concluir que a componente antrópica do metano
emitido atualmente é 25 a 40% maior.
A
boa nova é que “se a parcela de metano proveniente de atividades humanas presente
na atmosfera é maior, isto significa que uma redução de emissões pode ter um
real impacto para limitar o aquecimento climático”, explica Benjamin Hmiel,
líder da equipe de pesquisadores da Universidade de Rochester.
Efeito
estufa é um processo natural de aquecimento atmosférico que interfere no
balanço de calor e radiação da Terra. Ele é causado por determinados
componentes da atmosfera, os chamados gases de efeito estufa (GEE). Graças a
este fenômeno, a vida na Terra é possível tal como a conhecemos; sem o efeito
estufa, a temperatura média seria de – 18oC.
Além
do CO2 e do CH4, os principais GEE presentes no ar e que contribuem ao efeito
estufa são o vapor de água (H2O), o dióxido nitroso (NO2) e o ozônio (O3). Em
termos quantitativos, os percentuais da participação de cada um deles são: 60%
de H2O, 34% de CO2, 2% de CH4, 2% de NO2 e 2% de O3.
O
impacto desses gases sobre o aquecimento climático depende do tempo de vida de
cada um deles e da sua capacidade de interferir nos fluxos de energia
provenientes da superfície terrestre.
A
fim de comparar a contribuição das emissões antrópicas de GEE sobre o
aquecimento planetário, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC, na sigla em inglês) criou o índice Potencial de Aquecimento Global (GWP),
definido geralmente para um período de 100 anos, fixando para o CO2 o valor
unitário.
O último relatório técnico do IPCC (2014) indicava, em valores
médios, os seguintes valores de GWP: 28 para o CH4 e 265 para o NO2. Levando em conta
a quantidade de cada um desses gases, suas respectivas contribuições para o
efeito estufa antrópico são de 16% para o CH4 e 6% para o NO2. Já o CO2 tem uma participação de 76% e os gases fluorados
2%.
Desde o final do século passado, a ciência tem constatado
um crescimento da concentração de metano na atmosfera, com forte aceleração nos
últimos 5 anos. Até
então, este aumento das emissões de CH4 era supostamente de origem “biogênica”,
ou seja, relacionado a uma evolução da atividade de microrganismos vivos.
O relatório do Global Carbon Project (2016), que traz um balanço completo e
inédito das emissões de metano, mostra que as fontes naturais de metano
contribuem com cerca de 40% do total, ante 60% das emissões diretamente ligadas a
atividades humanas.
As
causas naturais incluem a “metanogênese” (atividades microbianas em zonas
úmidas e no permafrost ártico) e fontes geológicas, caracterizadas pela liberação
espontânea de metano fóssil aprisionado no subsolo, explica Marielle Saunois, especialista
em física-química atmosférica, que participou do projeto.
“A
concentração de CH4 na atmosfera é atualmente 150% maior do que no início da Revolução
Industrial”, declara Saunois no final de 2016. Uma aceleração dessas emissões começa
em 2007 e se intensifica a partir de 2014, tornando plausível entre os cenários
previstos pelo IPCC apenas o mais pessimista, ou seja, aquele em que a
temperatura pode aumentar 4oC até 2100, afirma a pesquisadora.
Com
os resultados do estudo da Universidade de Rochester, a contribuição de fontes
antrópicas representaria até 84% das emissões de metano, ou 22,4% das emissões totais. Isto quer dizer
que um controle maior das atividades humanas responsáveis pela liberação desse
gás poderia efetivamente ajudar a limitar o aquecimento climático.
Esta
pesquisa é corroborada por fato noticiado recentemente pela Nature, de que os
vazamentos de metano da indústria de petróleo e gás dos Estados Unidos são 60%
maiores que as estimativas oficiais. A conclusão é de um estudo realizado pelo Environmental
Defense Fund, uma ONG com sede em Austin, no Texas.
A
exploração e o transporte de energia fóssil (petróleo, gás natural e carvão)
acarreta a liberação de metano presente no subsolo. Emissões não contabilizadas
de CH4 podem ter impacto significativo sobre o clima e a economia do país, diz
a matéria da jornalista Giorgia Guglielmi. O gás perdido nos campos de petróleo
americanos é avaliado em 2 bilhões de dólares por ano.
Estimada
anteriormente pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA em 8 milhões de
toneladas, a quantidade de metano liberado pela indústria de petróleo americana
(o CH4 é o principal componente do gás natural extraído junto com o óleo cru) foi
avaliada pelo novo estudo em 13 milhões de toneladas.
Essa
discrepância é provavelmente devida aos vazamentos, de equipamentos
defeituosos das instalações de petróleo e gás, não contabilizados na estimativa
da EPA, afirma o químico atmosférico Ramón Alvarez, líder da equipe da ONG
autora do estudo, publicado na Science em 2018.
O
resultado dessa pesquisa levou o governo americano a criar mecanismos
regulatórios para limitar as emissões de metano na produção de energia fóssil,
mas que agora a administração Trump está empenhada em reverter.
https://go.nature.com/2RKfQAz
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