Desenvolvimento
de vacina para conter novo coronavírus avança com rapidez inédita em vários centros
de pesquisa do mundo
Enquanto o mundo caminha para a marca de 2 milhões de casos da doença e 120 mil mortes, 78 projetos de P&D avançam em ritmo acelerado para obter uma vacina contra a Covid-19.
O
panorama da corrida global contra o tempo em busca da vacina é tema do artigo The
COVID-19 vaccine development landscape, publicado no último dia 9 na Nature
e assinado por sete pesquisadores do Coalition for Epidemic Preparedness
Innovations (CEPI) de Oslo, Noruega.
O
sequenciamento genético do SARS-CoV-2, o coronavírus que causa a Covid-19, foi
publicado em 11 de janeiro de 2020, desencadeando uma intensa atividade global
de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para desenvolver uma vacina contra a
doença.
O
brutal impacto humanitário e econômico dessa pandemia tem impulsionado a
avaliação de diversas plataformas tecnológicas inovadoras, visando obter em
tempo recorde uma nova geração de vacinas. O primeiro protótipo de vacina antiCovid-19
foi testado clinicamente em humanos com uma rapidez sem precedentes, em 16 de
março de 2020.
O
recenseamento desses projetos de P&D, feito pela equipe de pesquisadores
noruegueses do CEPI, inclui programas de desenvolvimento de vacinas cadastrados
no banco de dados da OMS, como também outros projetos identificados a partir de
fontes publicamente disponíveis.
O
cenário traçado pelo CEPI apresenta os principais aspectos inovadores da
pesquisa e desenvolvimento de vacinas para Covid-19, cujas informações são
compartilhadas com outros centros de estudos do ecossistema de saúde global. A
ideia é contribuir para que recursos e capacidades globais sejam direcionados
aos projetos mais promissores para obtenção da vacina.
Desde
8 de abril de 2020, o cenário global de P&D de vacinas Covid-19 dispõe de
115 projetos, dos quais 78 foram confirmados como ativos e 37 não confirmados,
por falta de informações de suas equipes ou pela indisponibilidade de dados
públicos.
Os
78 projetos ativos estão distribuídos em quatro continentes, da seguinte forma:
36 (46%) na América do Norte, 28 (36%) na Ásia (14 na China) e Oceania (todos na Austrália),
e 14 (18%) na Europa. 73 encontram-se em execução acelerada, em fase de
exploração ou pré-clínica.
O
perfil dos desenvolvedores dos projetos ativos é o seguinte: 56 (72%) estão no
setor privado (indústria) e os 22 restantes (28%) no setor público, em laboratórios
acadêmicos, centros de pesquisa e outras organizações sem fins lucrativos.
Embora
a indústria farmacêutica multinacional (Janssen, Sanofi, Pfizer e
GlaxoSmithKine) esteja engajada no desenvolvimento de vacinas Covid-19, muitos
dos principais grupos de pesquisa envolvidos são pequenos e/ou inexperientes na
fabricação de vacinas em grande escala. Daí a necessidade de uma coordenação
para garantir uma capacidade de produção que atenda à demanda.
Os
candidatos mais promissores evoluíram recentemente para o desenvolvimento
clínico, baseados em diferentes plataformas tecnológicas, como peptide-based,
replicating viral vector, non-replicating viral vector, recombinant
protein, virus-like particle, entre outras.
Entre
as múltiplas bases tecnológicas que caracterizam o panorama atual de P&D de
vacinas Covid-19, muitas divergem daquelas utilizadas para vacinas licenciadas.
No entanto, outras áreas como a oncologia tem incentivado a exploração de novos
procedimentos, que permitam acelerar o desenvolvimento e a fabricação da
vacina.
A
informação pública sobre antígenos específicos do SARS-CoV-2 usados no
desenvolvimento da vacina é limitada. Os projetos mais promissores, cujas
informações estão disponíveis, objetivam induzir anticorpos neutralizantes da
“proteína Spike (S) viral” (a única proteína da membrana viral responsável pela
entrada nas células), de modo a impedir sua absorção pelo organismo, via
“receptor ACE2”.
Algumas
das plataformas inovadoras usadas na busca da vacina podem ser adequadas apenas
para subtipos de população específicos, como idosos, crianças, mulheres
grávidas e pessoas com baixa imunidade (transplantados e portadores de doenças
autoimunes, por exemplo).
Os
principais desenvolvedores candidatos à vacina Covid-19 estão sediados em 19
países, que juntos representam 75% da população mundial. Não há informação
sobre iniciativas similares no continente africano nem na América Latina,
embora haja nessas regiões capacidade de fabricação e marco regulatório.
Deixando de lado o conteúdo do artigo da Nature, que enseja esta publicação, é preciso informar que o Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (InCor, da USP) está desenvolvendo uma vacina, com base em uma técnica que utiliza proteínas semelhantes ao novo coronavírus. A previsão é de que um primeiro protótipo esteja pronto para testes em animais nos próximos meses, com expectativa de uso em humanos no prazo de até um ano e meio.
Deixando de lado o conteúdo do artigo da Nature, que enseja esta publicação, é preciso informar que o Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (InCor, da USP) está desenvolvendo uma vacina, com base em uma técnica que utiliza proteínas semelhantes ao novo coronavírus. A previsão é de que um primeiro protótipo esteja pronto para testes em animais nos próximos meses, com expectativa de uso em humanos no prazo de até um ano e meio.
A
epidemiologia de Covid-19 pode variar com a geografia, sendo muito provavelmente
necessário, para o controle eficaz da pandemia, uma maior coordenação e envolvimento
do hemisfério sul com o esforço global de P&D da(s) vacina(s).
Um mapeamento das variações genéticas (mutações) do SARS-CoV-2 e suas conexões entre os casos ao redor do mundo identificaram pelo menos três tipos do novo coronavírus. Dito isso, cabe a pergunta: como esta particularidade pode influir no desenvolvimento de uma vacina?
Mutações virais são típicas e dão origem a novas cepas de vírus, mas não devem afetar sua capacidade de contágio nem o modo como ele se espalha. No entanto, esses “erros genéticos” ajudam os cientistas a rastrear a transmissão do vírus em populações humanas. As mutações até agora identificadas no SARS-CoV-2 não parecem muito significativas; sua composição é praticamente a mesma nas diferentes regiões onde ele foi encontrado
“A mutação do novo coronavírus é duas a quatro vezes mais lenta do que a do vírus da gripe”, explica Andrew Rambaut, profesor e pesquisador de biologia molecular da Universidade de Edimburgo (Escócia). Isto significa que uma vacina provavelmente será eficaz no longo prazo, conclui Rambaut.
Um mapeamento das variações genéticas (mutações) do SARS-CoV-2 e suas conexões entre os casos ao redor do mundo identificaram pelo menos três tipos do novo coronavírus. Dito isso, cabe a pergunta: como esta particularidade pode influir no desenvolvimento de uma vacina?
Mutações virais são típicas e dão origem a novas cepas de vírus, mas não devem afetar sua capacidade de contágio nem o modo como ele se espalha. No entanto, esses “erros genéticos” ajudam os cientistas a rastrear a transmissão do vírus em populações humanas. As mutações até agora identificadas no SARS-CoV-2 não parecem muito significativas; sua composição é praticamente a mesma nas diferentes regiões onde ele foi encontrado
“A mutação do novo coronavírus é duas a quatro vezes mais lenta do que a do vírus da gripe”, explica Andrew Rambaut, profesor e pesquisador de biologia molecular da Universidade de Edimburgo (Escócia). Isto significa que uma vacina provavelmente será eficaz no longo prazo, conclui Rambaut.
Na salutar competição que diversos grupos de P&D empreendem para encontrar a
solução “definitiva” contra a Covid-19, muitas são as abordagens tecnológicas
em busca de uma vacina. Mas o inimigo comum é um só: o tempo.
O
esforço mundial em pesquisa e desenvolvimento sobre vacinas para conter a pandemia
de Covid-19 é sem precedentes, em termos de escala e velocidade.
Dado
o imperativo de rapidez, há uma indicação de que a vacina poderia estar
disponível para uso emergencial ou sob protocolos similares até o começo de
2021, o que significaria uma mudança radical na via habitual para se chegar a
uma vacina.
O
desenvolvimento de uma vacina demora em média mais de 10 anos. No caso da vacina
contra o Ebola, excepcionalmente, ela foi obtida em 5 anos. No caso do
SARS-CoV-2, os novos paradigmas de desenvolvimento englobam as fases de avanços
paralelos e adaptativos, protocolos de testes inovadores e capacidade de
fabricação em grande escala.
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