Apesar da pandemia, emissões de gases de efeito estufa expressas em dióxido de carbono alcançaram nível máximo desde o início das medições
A Agência Oceânica e
Atmosférica Americana (NOAA) informou no último dia 7 que a concentração de CO2
na atmosfera atingiu no mês passado seu maior valor desde os primeiros
registros, há 63 anos.
De acordo com dados do Observatório Vulcânico de Mauna Loa, no Havaí (EUA), a taxa média de CO2 atmosférico em maio de 2021 superou 419 ppm (partes por milhão).
No mesmo comunicado, a
agência americana ressalta que “não houve sinal observável de dados de
perturbação econômica global causada pela pandemia de coronavírus”, descartando
a hipótese de um aumento de emissões de carbono não antrópicas.
Se os dados de CO2
atmosférico são relativamente recentes, há várias evidências científicas de que
o novo recorde registrado não era alcançado há milhões de anos. Este nível de
concentração “seria comparável àqueles de 4,1 a 4,5 milhões de anos atrás,
quando o CO2 devia estar próximo ou acima dos 400 ppm”, diz o documento da NOAA.
Diferentes estudos sugerem
que naquele período o nível médio dos oceanos era em torno de 20 metros mais
alto e que várias regiões do continente Ártico eram ocupadas por densas florestas.
“Lançamos na atmosfera cerca
de 40 milhões de toneladas de CO2 a cada ano”, declara Pieter Tans, pesquisador
da agência NOAA. “Para evitar uma mudança climática catastrófica, nossa maior
prioridade deveria ser a de zerar as emissões de CO2 o mais rápido possível”,
acrescenta Tans. O cientista adverte que os gases de efeito estufa permanecem
na atmosfera e nos oceanos por milhares de anos.
Os dados de CO2 registrados
pela NOAA em maio de 2021 tiveram um valor médio mensal de 419,13 ppm, ante 417,31 ppm no mesmo mês em 2020. Foram coletados em Mauna Loa, uma região
subtropical do hemisfério Norte, a 3.400 metros acima do nível do mar. Não
representam, portanto, a concentração média global de CO2 próxima à superfície
terrestre.
O índice ppm (partes por
milhão) representa “uma fração molar de ar seco, definida como o número de
moléculas de CO2 dividido pelo número total de moléculas presentes na
atmosfera, excluindo as de H2O”.
Quando começou a coleta
sistemática de dados no Observatório Vulcânico de Mauna Loa, em 1958, a taxa de
CO2 atmosférico já era de 315 ppm. Em maio de 2013, esta concentração superou os
400 ppm pela primeira vez.
Em menos de dois anos, em
2015, a concentração global de CO2 superava o patamar de 400 ppm. Se a crescente demanda mundial de energia continuar sendo suprida majoritariamente por
combustíveis fósseis, projeta-se que o CO2 atmosférico global alcance 900 ppm
até o final do século.
Os gases de efeito estufa,
como o CO2, tem a propriedade de impedir que o calor gerado na superfície da Terra
(pela incidência dos raios solares, por atividade vulcânica ou por ação do
homem) seja dissipado para o espaço extraterrestre, de modo a manter a temperatura global
média em níveis compatíveis com as formas de vida como conhecemos.
A Agência Espacial
Americana (NASA) e a NOAA publicaram no último dia 15 o artigo Satellite and
Ocean Data Reveal Market Increase in Earth’s Heating Rate no journal Geophysical
Research Letters, no qual concluem que a quantidade de calor na Terra
oriundo do Sol foi duplicada nos últimos 15 anos (de 2005 a 2019).
Isto significa que o
efeito estufa atmosférico foi duplicado neste período, tendo como consequência
um aumento da temperatura média global que, por sua vez, é responsável pela
aceleração do derretimento das calotas polares, elevando o nível do mar, a acidificação
de biomas marinhos e a intensificação da ocorrência de fenômenos climáticos extremos, como ondas
de calor, secas, ciclones, tempestades etc.
Independentemente do ritmo
de redução das emissões de carbono, os impactos devastadores do aquecimento
global sobre a natureza e a humanidade devem se acelerar e serão dolorosamente
palpáveis. É o que diz o IPCC em um próximo relatório especial, antecipado pela
agência de notícias France Press (AFP).
“A vida na Terra pode se
recuperar de grandes mudanças climáticas, evoluindo para novas espécies e criando
novos ecossistemas. A humanidade, não.”, diz o resumo técnico de 137 páginas,
elaborado por centenas de cientistas vinculados ao IPCC, cujo conteúdo oscila entre um
tom apocalíptico e de esperança, exortando à tomada de medidas imediatas e
drásticas para mitigar a mudança climática.
Fontes: https://gml.noaa.gov/ccgg/trends/mlo.html
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