domingo, 27 de junho de 2021

Aquecimento global: agência americana NOAA registra novo recorde de CO2 atmosférico

Apesar da pandemia, emissões de gases de efeito estufa expressas em dióxido de carbono alcançaram nível máximo desde o início das medições

Catarina, primeiro ciclone observado no Atlântico Sul em 2004, é um fenômeno climático extremo. Imagem: NASA/Earth Observations Laboratory

A Agência Oceânica e Atmosférica Americana (NOAA) informou no último dia 7 que a concentração de CO2 na atmosfera atingiu no mês passado seu maior valor desde os primeiros registros, há 63 anos.

De acordo com dados do Observatório Vulcânico de Mauna Loa, no Havaí (EUA), a taxa média de CO2 atmosférico em maio de 2021 superou 419 ppm (partes por milhão).

No mesmo comunicado, a agência americana ressalta que “não houve sinal observável de dados de perturbação econômica global causada pela pandemia de coronavírus”, descartando a hipótese de um aumento de emissões de carbono não antrópicas.

Se os dados de CO2 atmosférico são relativamente recentes, há várias evidências científicas de que o novo recorde registrado não era alcançado há milhões de anos. Este nível de concentração “seria comparável àqueles de 4,1 a 4,5 milhões de anos atrás, quando o CO2 devia estar próximo ou acima dos 400 ppm”, diz o documento da NOAA.

Diferentes estudos sugerem que naquele período o nível médio dos oceanos era em torno de 20 metros mais alto e que várias regiões do continente Ártico eram ocupadas por densas florestas.

“Lançamos na atmosfera cerca de 40 milhões de toneladas de CO2 a cada ano”, declara Pieter Tans, pesquisador da agência NOAA. “Para evitar uma mudança climática catastrófica, nossa maior prioridade deveria ser a de zerar as emissões de CO2 o mais rápido possível”, acrescenta Tans. O cientista adverte que os gases de efeito estufa permanecem na atmosfera e nos oceanos por milhares de anos.

Os dados de CO2 registrados pela NOAA em maio de 2021 tiveram um valor médio mensal de 419,13 ppm, ante 417,31 ppm no mesmo mês em 2020. Foram coletados em Mauna Loa, uma região subtropical do hemisfério Norte, a 3.400 metros acima do nível do mar. Não representam, portanto, a concentração média global de CO2 próxima à superfície terrestre.

O índice ppm (partes por milhão) representa “uma fração molar de ar seco, definida como o número de moléculas de CO2 dividido pelo número total de moléculas presentes na atmosfera, excluindo as de H2O”.

Quando começou a coleta sistemática de dados no Observatório Vulcânico de Mauna Loa, em 1958, a taxa de CO2 atmosférico já era de 315 ppm. Em maio de 2013, esta concentração superou os 400 ppm pela primeira vez.

Em menos de dois anos, em 2015, a concentração global de CO2 superava o patamar de 400 ppm. Se a crescente demanda mundial de energia continuar sendo suprida majoritariamente por combustíveis fósseis, projeta-se que o CO2 atmosférico global alcance 900 ppm até o final do século.

Os gases de efeito estufa, como o CO2, tem a propriedade de impedir que o calor gerado na superfície da Terra (pela incidência dos raios solares, por atividade vulcânica ou por ação do homem) seja dissipado para o espaço extraterrestre, de modo a manter a temperatura global média em níveis compatíveis com as formas de vida como conhecemos.

A Agência Espacial Americana (NASA) e a NOAA publicaram no último dia 15 o artigo Satellite and Ocean Data Reveal Market Increase in Earth’s Heating Rate no journal Geophysical Research Letters, no qual concluem que a quantidade de calor na Terra oriundo do Sol foi duplicada nos últimos 15 anos (de 2005 a 2019).

Isto significa que o efeito estufa atmosférico foi duplicado neste período, tendo como consequência um aumento da temperatura média global que, por sua vez, é responsável pela aceleração do derretimento das calotas polares, elevando o nível do mar, a acidificação de biomas marinhos e a intensificação da ocorrência de fenômenos climáticos extremos, como ondas de calor, secas, ciclones, tempestades etc.

Independentemente do ritmo de redução das emissões de carbono, os impactos devastadores do aquecimento global sobre a natureza e a humanidade devem se acelerar e serão dolorosamente palpáveis. É o que diz o IPCC em um próximo relatório especial, antecipado pela agência de notícias France Press (AFP).

“A vida na Terra pode se recuperar de grandes mudanças climáticas, evoluindo para novas espécies e criando novos ecossistemas. A humanidade, não.”, diz o resumo técnico de 137 páginas, elaborado por centenas de cientistas vinculados ao IPCC, cujo conteúdo oscila entre um tom apocalíptico e de esperança, exortando à tomada de medidas imediatas e drásticas para mitigar a mudança climática.

Fontes: https://gml.noaa.gov/ccgg/trends/mlo.html

https://www.lci.fr/environnement-ecologie/pollution-nouveau-record-de-concentration-de-co2-dans-l-air-malgre-la-pandemie-2188112.html?fbclid=IwAR3to9fA8cFXmrmRgxtFzN6KNyqgxzd0RgWNv64HON3S641ZsOGUMEdrX28

https://www.climate.gov/news-features/understanding-climate/climate-change-atmospheric-carbon-dioxide

https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/journal/19448007

https://www.goodplanet.info/2021/06/23/lhumanite-a-laube-de-retombees-climatiques-cataclysmiques-selon-le-prochain-rapport-du-giec/

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