20 anos após
“apagão do governo FHC”, país volta a sofrer crise energética por falta de
chuva e planejamento
Afetados pela pior seca
dos últimos 91 anos, reservatórios de hidrelétricas das regiões Sul e Centro-Oeste reduziram-se a níveis críticos, com sério risco de um novo “apagão”
em boa parte do Brasil.
Em 2001, as hidrelétricas respondiam por 89% da matriz elétrica e não havia instalações geradoras de energia renovável não convencional (biomassa, eólica e solar) para atender à demanda em caso de crise hídrica, como a daquele ano.
O resultado foi a interrupção
repentina do fornecimento de energia em algumas regiões, levando o governo
federal a decretar um racionamento elétrico que durou nove meses.
O prejuízo para a
população foi imediato e significativo. Com uma meta de economia fixada em 20%
em relação ao mesmo período de 2000, o racionamento atingiu indústrias,
empresas, comércio, iluminação pública e residências, com multas estipuladas
para consumos entre 50% e 200% além da meta, podendo ainda o consumidor sofrer
cortes de energia por até três dias.
A falta de planejamento do
governo federal foi crucial para o colapso energético que levou ao apagão de
2001. Medidas paliativas foram tomadas tardiamente, pela ausência absoluta de
uma gestão preventiva. A crise hídrica que eclodiu em meados do ano já era
prevista pelo setor elétrico, mas a prioridade do governo FHC era a privatização
generalizada de estatais, que incluía centrais de distribuição de eletricidade.
O prejuízo imposto ao país pelo racionamento
(de 01.06.2001 a 01.03.2002) foi estimado pelo Tribunal de Contas da União em R$
45,2 bilhões, sendo 60% o dano aos consumidores pelo aumento da tarifa elétrica.
Já no período de 2002 a 2014, com a mudança na governança do país, a matriz
elétrica brasileira foi sensivelmente modificada e mais bem adequada para atender
ao crescente aumento da demanda, consequência do vigoroso crescimento econômico naquele período.
Mesmo assim, a partir de
2016, pela falta de planejamento (manutenção de equipamentos e linhas de
transmissão), colapsos energéticos foram registrados em algumas regiões: um
blecaute em 14 estados do Norte e Nordeste em 2018, que deixou no escuro 70
milhões de pessoas; e outro em 2020, que atingiu 13 dos 16 municípios do Amapá,
deixando no breu 90% da população.
Em 2021, mesmo com a
participação da fonte hídrica 30% menor e uma matriz energética mais
diversificada (11,4% térmicas a combustível fóssil, 11,2% eólica, 8,2% térmicas
a biomassa e 2,7% solar), o sistema elétrico nacional demonstra-se mais uma vez
vulnerável diante de um prolongado período de seca e pela falta de um planejamento energético
eficiente.
Repetindo em 2016 a desastrosa
gestão neoliberal e privatista dos governos FHC, a atual gestão do sistema
elétrico não planejou investimentos em novas usinas e linhas de transmissão,
uma infraestrutura que demora no mínimo dois anos para ser construída.
Os reservatórios de
hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste atingiram níveis críticos, em
torno de 23%. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o nível da
água nessas barragens diminuiu além do previsto e deve ser reduzido ainda mais
em setembro.
“A previsão para os
próximos meses, caso continue chovendo abaixo da média histórica, é que em
outubro já teremos um problema de desequilíbrio entre oferta e demanda nos
horários de pico”, alerta Nivalde de Castro, professor do Instituto de Economia
da UFRJ.
Na crise atual, não basta
adicionar à rede energia gerada por centrais fotovoltaicas e eólicas; o sistema
elétrico precisa acionar termelétricas a base de combustíveis fósseis (carvão, óleo,
diesel e gás natural), cujo kWh produzido é muito mais caro que o kWh
hidrelétrico. O resultado é um prejuízo inestimável à economia do país, ainda
estagnada por uma gestão federal ineficiente e o enfrentamento desastroso da
crise sanitária de Covid-19.
Ao mesmo tempo, o governo
federal patrocina a maior destruição da floresta Amazônica dos últimos 10 anos,
ignorando o papel deste bioma na incidência de chuvas e no clima planetário.
Nos últimos 11 meses, o desmatamento cresceu 51%, conforme dados do Instituto
do Homem e Meio Ambiente da Amazônia.
Lugar comum na ciência
climática, o maior bioma tropical do mundo não regula apenas o ciclo das águas.
Como sumidouro de carbono, afeta o clima global. Menos vegetação Amazônica significa mais emissões antrópicas de CO2 e maior aquecimento atmosférico, que por sua
vez favorece a ocorrência de secas extremas.
Sem poder contar apenas
com a incidência de chuvas, o sistema elétrico nacional torna-se mais e mais
dependente da produção de energia por termelétricas, que são altamente
emissoras de CO2, contribuindo para o aquecimento global, alimentando assim o ciclo
de crises hídricas.
As alternativas que restam para mitigar o problema é reduzir o consumo elétrico, por políticas fiscais que estimulem o consumidor a economizar energia e pela imposição de bandeiras tarifárias. Uma solução paliativa para evitar o colapso energético, que vai pesar no bolso do consumidor.
A eletricidade entra na lista de produtos cada vez mais proibitivos à maioria da população: carne, gasolina, gás de cozinha... A conta de luz, 7% mais alta desde o mês passado, vai impactar a inflação, que já soma 9% nos últimos 12 meses.
Além de um planejamento
adequado, que inclua um cronograma de manutenção preventiva de longo prazo (de estações
e subestações, transformadores e linhas transmissoras) e de
investimentos em novas hidrelétricas e térmicas a combustível renovável, como
reservas de segurança, é preciso fomentar ações de eficiência energética e a diversificação da matriz
energética, ampliando a capacidade eólica e solar, priorizando a implementação
de centrais termossolares.
“Centrais heliotérmicas a
base de CSP (Concentrating Solar Power), por exemplo, envolvem uma tecnologia
madura e utilizada há décadas em vários países; promovem maior desenvolvimento
do país por contemplar muito mais [que a fotovoltaica] a indústria nacional e
de serviços, gerando consequentemente mais oportunidades de trabalho”, afirma o
especialista em geração termossolar, José Henrique Martins Neto, professor
titular e colaborador do Mestrado em Engenharia Mecânica do CEFET de Minas
Gerais.
Fontes: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/apagao.htm
Ótimo artigo. Gostaria de salientar que o equacionamento da questão do abastecimento energético passa necessariamente por uma politica de EFICIENCIA ENERGETICA, que é a maneira mais ambiental e economicamente eficaz. A simples recomendação de fontes renováveis (incontestavelmente melhor solução que fontes fósseis, embora o firmamento da capacidade instaladas ainda requeira termelétricas) não atende completamente a questão. Lembro que NÃO EXISTEM FONTES DE ENERGIA LIMPA!
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