segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Seca extrema e gestão incompetente colocam Brasil à beira do colapso energético

20 anos após “apagão do governo FHC”, país volta a sofrer crise energética por falta de chuva e planejamento

Produção de energia na usina de Itaipu é a menor desde 1994 https://pt.wikipedia.org/wiki/Usina_Hidrel%C3%A9trica_de_Itaipu

Afetados pela pior seca dos últimos 91 anos, reservatórios de hidrelétricas das regiões Sul e Centro-Oeste reduziram-se a níveis críticos, com sério risco de um novo “apagão” em boa parte do Brasil.

Em 2001, as hidrelétricas respondiam por 89% da matriz elétrica e não havia instalações geradoras de energia renovável não convencional (biomassa, eólica e solar) para atender à demanda em caso de crise hídrica, como a daquele ano.

O resultado foi a interrupção repentina do fornecimento de energia em algumas regiões, levando o governo federal a decretar um racionamento elétrico que durou nove meses.

O prejuízo para a população foi imediato e significativo. Com uma meta de economia fixada em 20% em relação ao mesmo período de 2000, o racionamento atingiu indústrias, empresas, comércio, iluminação pública e residências, com multas estipuladas para consumos entre 50% e 200% além da meta, podendo ainda o consumidor sofrer cortes de energia por até três dias.

A falta de planejamento do governo federal foi crucial para o colapso energético que levou ao apagão de 2001. Medidas paliativas foram tomadas tardiamente, pela ausência absoluta de uma gestão preventiva. A crise hídrica que eclodiu em meados do ano já era prevista pelo setor elétrico, mas a prioridade do governo FHC era a privatização generalizada de estatais, que incluía centrais de distribuição de eletricidade.

O prejuízo imposto ao país pelo racionamento (de 01.06.2001 a 01.03.2002) foi estimado pelo Tribunal de Contas da União em R$ 45,2 bilhões, sendo 60% o dano aos consumidores pelo aumento da tarifa elétrica.

Já no período de 2002 a 2014, com a mudança na governança do país, a matriz elétrica brasileira foi sensivelmente modificada e mais bem adequada para atender ao crescente aumento da demanda, consequência do vigoroso crescimento econômico naquele período.

Mesmo assim, a partir de 2016, pela falta de planejamento (manutenção de equipamentos e linhas de transmissão), colapsos energéticos foram registrados em algumas regiões: um blecaute em 14 estados do Norte e Nordeste em 2018, que deixou no escuro 70 milhões de pessoas; e outro em 2020, que atingiu 13 dos 16 municípios do Amapá, deixando no breu 90% da população.    

Em 2021, mesmo com a participação da fonte hídrica 30% menor e uma matriz energética mais diversificada (11,4% térmicas a combustível fóssil, 11,2% eólica, 8,2% térmicas a biomassa e 2,7% solar), o sistema elétrico nacional demonstra-se mais uma vez vulnerável diante de um prolongado período de seca e pela falta de um planejamento energético eficiente.

Repetindo em 2016 a desastrosa gestão neoliberal e privatista dos governos FHC, a atual gestão do sistema elétrico não planejou investimentos em novas usinas e linhas de transmissão, uma infraestrutura que demora no mínimo dois anos para ser construída.

Os reservatórios de hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste atingiram níveis críticos, em torno de 23%. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o nível da água nessas barragens diminuiu além do previsto e deve ser reduzido ainda mais em setembro.

“A previsão para os próximos meses, caso continue chovendo abaixo da média histórica, é que em outubro já teremos um problema de desequilíbrio entre oferta e demanda nos horários de pico”, alerta Nivalde de Castro, professor do Instituto de Economia da UFRJ.

Na crise atual, não basta adicionar à rede energia gerada por centrais fotovoltaicas e eólicas; o sistema elétrico precisa acionar termelétricas a base de combustíveis fósseis (carvão, óleo, diesel e gás natural), cujo kWh produzido é muito mais caro que o kWh hidrelétrico. O resultado é um prejuízo inestimável à economia do país, ainda estagnada por uma gestão federal ineficiente e o enfrentamento desastroso da crise sanitária de Covid-19.   

Ao mesmo tempo, o governo federal patrocina a maior destruição da floresta Amazônica dos últimos 10 anos, ignorando o papel deste bioma na incidência de chuvas e no clima planetário. Nos últimos 11 meses, o desmatamento cresceu 51%, conforme dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia.

Lugar comum na ciência climática, o maior bioma tropical do mundo não regula apenas o ciclo das águas. Como sumidouro de carbono, afeta o clima global. Menos vegetação Amazônica significa mais emissões antrópicas de CO2 e maior aquecimento atmosférico, que por sua vez favorece a ocorrência de secas extremas.

Sem poder contar apenas com a incidência de chuvas, o sistema elétrico nacional torna-se mais e mais dependente da produção de energia por termelétricas, que são altamente emissoras de CO2, contribuindo para o aquecimento global, alimentando assim o ciclo de crises hídricas.

As alternativas que restam para mitigar o problema é reduzir o consumo elétrico, por políticas fiscais que estimulem o consumidor a economizar energia e pela imposição de bandeiras tarifárias. Uma solução paliativa para evitar o colapso energético, que vai pesar no bolso do consumidor.

A eletricidade entra na lista de produtos cada vez mais proibitivos à maioria da população: carne, gasolina, gás de cozinha... A conta de luz, 7% mais alta desde o mês passado, vai impactar a inflação, que já soma 9% nos últimos 12 meses.

Além de um planejamento adequado, que inclua um cronograma de manutenção preventiva de longo prazo (de estações e subestações, transformadores e linhas transmissoras) e de investimentos em novas hidrelétricas e térmicas a combustível renovável, como reservas de segurança, é preciso fomentar ações de eficiência energética e a diversificação da matriz energética, ampliando a capacidade eólica e solar, priorizando a implementação de centrais termossolares.

“Centrais heliotérmicas a base de CSP (Concentrating Solar Power), por exemplo, envolvem uma tecnologia madura e utilizada há décadas em vários países; promovem maior desenvolvimento do país por contemplar muito mais [que a fotovoltaica] a indústria nacional e de serviços, gerando consequentemente mais oportunidades de trabalho”, afirma o especialista em geração termossolar, José Henrique Martins Neto, professor titular e colaborador do Mestrado em Engenharia Mecânica do CEFET de Minas Gerais.

Fontes: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/apagao.htm

https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/negocios/por-que-o-brasil-enfrenta-mais-uma-crise-energetica-seca-e-apenas-um-dos-motivos-1.3134029?fbclid=IwAR1MDTquOghfbXtG8i267sUWdFvOwA0hpxZqHqfrtMhkrSIdEc4l2hQml2Y

https://economia.uol.com.br/noticias/afp/2021/09/01/pior-seca-em-quase-um-seculo-aprofunda-crise-energetica-no-brasil.htm

Um comentário:

  1. Ótimo artigo. Gostaria de salientar que o equacionamento da questão do abastecimento energético passa necessariamente por uma politica de EFICIENCIA ENERGETICA, que é a maneira mais ambiental e economicamente eficaz. A simples recomendação de fontes renováveis (incontestavelmente melhor solução que fontes fósseis, embora o firmamento da capacidade instaladas ainda requeira termelétricas) não atende completamente a questão. Lembro que NÃO EXISTEM FONTES DE ENERGIA LIMPA!

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