Texto final foi considerado modesto por especialistas do clima,
principalmente por não definir metas para redução de energia fóssil
Militantes ecologistas protestam em Veneza contra “acordo mínimo” sobre transição energética resultante da COP30. https://www.lapresse.ca/actualites/environnement/2025-11-22/venise/le-grand-canal-teint-en-vert-par-des-militants-ecologistes.php
Apesar do contexto favorável e de uma histórica mobilização da sociedade civil local, a COP brasileira repetiu as precedentes, entregando compromissos pouco ambiciosos face à urgência climática.
Não houve consenso entre os 194 países participantes da Conferência das Partes de Belém (COP30) para acelerar a substituição de combustíveis poluentes por energia renovável, como proposto pelo governo brasileiro.
Por outro lado, os acordos políticos internacionais produziram um compromisso financeiro muito aquém da necessidade dos países mais suscetíveis aos impactos da crise climática.
Uma lacuna recorrente das últimas cúpulas, desde a icônica COP21 de Paris que fixou para 2100 o "limite ideal" de aumento do aquecimento global em 1,5 oC, valor já superado em 2024.
Embora tenha havido um acréscimo substancial no montante anual que os países mais ricos e poluidores destinarão para adaptação e mitigação nos países em desenvolvimento, o valor foi considerado insuficiente.
O compromisso resultante da COP30, de 120 bilhões de dólares por ano é menos da metade do montante necessário para ações de adaptação nesses países até 2035.
Já o investimento global que os países industrializados devem destinar a ações climáticas permanece o mesmo que o assumido na COP29: 300 bilhões de USD/ano, ou menos de 1/3 da necessidade real.
A presidência brasileira defendeu enfaticamente a adoção de um "mapa do caminho", um plano estratégico com cronograma definido para a transição energética e desmatamento zero, mas o mesmo não foi incluído no texto final da COP30.
Oitavo maior produtor de petróleo do mundo, o Brasil decidiu recentemente abrir uma nova frente de exploração offshore na Margem Equatorial. Um gigantesco reservatório de combustível fóssil; portanto, uma fonte considerável de CO2 a ser despejado na atmosfera, o que contrasta com a pretensão do país de se tornar um líder climático no multilateralismo.
Dispondo de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, o anfitrião da COP30 alega que parte dos recursos oriundos do petróleo da Margem Equatorial será investida na transição energética nacional e no desenvolvimento sustentável da região amazônica.
Resta saber se o balanço deste novo empreendimento em produção de combustível não renovável causará um impacto negativo importante nas emissões globais de carbono.
O grande ausente da COP30 e segundo maior emissor de gases deletérios, os Estados Unidos, bem como o maior poluidor planetário, a China, são uma incógnita para o futuro do combate à crise climática.
Ao mesmo tempo em que investe pesadamente no desenvolvimento de uma "indústria verde", a China relançou em 2024 a construção de usinas termoelétricas a carvão.
Os acordos finais da COP30 revelam um abismo entre o que os países tem feito e o que é necessário e urgente fazer em prol do clima.
A melhor resposta da Conferência de Belém teria sido um compromisso de todos os países para que melhorassem significativamente seus planos climáticos para a próxima década.
Em vez disso, decidiram lançar novas negociações de modo bem "informal" durante 2026, com alta probabilidade de resultados insatisfatórios. Segundo a ONU, apenas 10 dos 194 países signatários do Acordo de Paris de 2015 atualizaram suas estratégias de redução de gases de efeito estufa até 2035.
O Brasil fez a sua parte: criou um fundo de investimento para florestas tropicais, para o qual diversos países já se comprometeram a investir 10 bilhões de dólares.
Também lançou a chamada Agenda de Ação, por meio da qual os países possam desenvolver propostas para uma redução drástica e justa do uso de carvão, petróleo e gás.
A “corrida contra o relógio” do aquecimento climático deve continuar até e além da próxima Conferência das Partes, a COP31, na Turquia e Austrália. Como é praticamente consensual no meio científico, este combate é contínuo e sem data para terminar.
Fontes:
https://www.oxfamfrance.org/climat-et-energie/que-retenir-cop30-ambitions-affichees-action-reelle

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