Não há registro de conteúdos das mensagens pioneiras que chegaram aos computadores da Fapesp, porque não se tinha noção do que viria a ser essa nova rede.
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O atual diretor presidente do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR), Demi Getschko, em depoimento à Pesquisa FAPESP online edição de 10.2.2011, relembra a chegada da internet ao país – “Para nós não foi surpresa, estávamos esperando, porque ela estava crescendo nos Estados Unidos e sabíamos que seria mais fácil fazer um computador da marca Digital conversar com outro IBM”.
Naquele histórico janeiro de 1991, Getschko era o superintendente do Centro de Processamento de Dados da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), onde foram detectadas as primeiras informações enviadas do computador de um laboratório de física de altas energias (o Fermilab), em Illinois, EUA.
Em 1989, uma conexão por linha telefônica já permitia aos pesquisadores da Fapesp o acesso a dados e à comunicação com seus pares da Universidade de Illinois e de outras instituições americanas e européias.
Essa rede internacional era a Bitnet – sigla de Because It’s Time Network – embrião do que viria a ser a internet. Os dados eram transmitidos dentro de um cabo submarino, não como hoje através de fibra ótica, mas por um fio de cobre.
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A única rede existente àquela época no Brasil era a ANSP – Academic Network at São Paulo, coordenada pela Fapesp – que se limitava ao ambiente acadêmico daquele estado, e operava através de uma rede própria da empresa Digital, a Decnet.
Mas a primeira conexão brasileira com a Bitnet foi do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), no Rio de Janeiro, que em setembro de 1988 se comunicou com a Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. No ano seguinte, o domínio ‘.br’ já havia sido registrado para o Brasil, antes mesmo do surgimento da internet, diz Getschko.
Uma vez que a Bitnet usava um código computacional criado pela IBM, softwares especiais foram desenvolvidos para permitir a comunicação entre os computadores dessa empresa e os da Digital.
A expansão da internet no meio acadêmico americano abarcou o Fermilab, sem que fossem desconectadas as redes Bitnet e Decnet, o que possibilitou também a entrada da Fapesp na rede mundial.
A fundação paulista havia se preparado para receber a internet, embora naquele momento seus pesquisadores achassem que “se tratava apenas de mais uma rede para administrar”, lembra Getschko.
Nenhum dos conteúdos das primeiras mensagens que chegaram ao Brasil pela internet no início de 1991 foi registrado. Não se imaginava o que a internet significaria para o mundo poucos anos depois. Naquele mesmo ano, surgia nos EUA a www (world wide web), abrindo as portas para o acesso global a vários tipos de informação.
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Até 1994 – marco da internet comercial no país – todas as comunicações do Brasil com o exterior através da rede mundial eram feitas via conexão com o laboratório americano Fermilab.
Em 1991 a velocidade de conexão com o Fermilab era de 9,6 Kbps (kilobits por segundo), muito inferior a uma conexão doméstica atual, por exemplo, de 1 Mbps (~mil Kbps); a atual conexão da ANSP com os Estados Unidos é de 10 Gbps (~10 milhões de Kbps).
A internet só se tornou realidade graças, em grande medida, ao seu protocolo de comunicação, o TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol), que possibilitou a sua disseminação em grande escala. “O TCP/IP é um protocolo aberto e simples que possibilitou a todo mundo fazer softwares e hardwares”, diz Luís Fernandez Lopez, atual coordenador da rede ANSP.
Computador VAX da Digital, em manutenção (http://www.life.com/image/50464262&usg=NMeKQ5DTL-5bwUy3piMKYbFeNz0=&h=)
O software elaborado para receber a internet no Brasil era o Multinet, que substituiu o roteador da rede ANSP na conexão com a nova rede. O computador (da Digital) no qual foi instalado o Multinet era o VAX e o especialista responsável pelos primeiros testes – identificação dos sinais eletrônicos com dados da internet – foi Joseph Moussa.
Com a internet, a comunicação deixou de ocorrer diretamente entre os grandes computadores (ou mainframes), “mas sim por meio de roteadores [que procuram a melhor rota para a transferência de pacotes eletrônicos em que são transformadas as mensagens]; a rede tornou-se extremamente flexível e fácil de crescer”, explica Getschko.
Virtual Machine mainframe da IBM, início dos anos 80 (http://blog.iweb.com/en/wp-content/uploads/2009/01/2423ph3081.jpg&imgrefurl=)
A Fapesp era responsável pelo registro dos usuários e dos números IP (protocolo internet), que identificam cada computador. O primeiro lote de números IP concedido ao Brasil pela Iana (Autoridade para Administração de Números Internet) foi de 4 milhões, em 1994, quando a internet entrou na fase comercial.
Entre 1995 e 2005, a Fapesp também ficou a cargo – por atribuição de um comitê criado pelos ministérios de Ciência e Tecnologia e das Comunicações – dos registros dos nomes de domínio.br.
Ela foi o único ponto de troca de tráfego (PTT) da internet até 1998, quando então PTTs privados foram instalados, para atender ao forte crescimento da rede. Mas Getschko esclarece, “não passava tráfego comercial na linha internacional dentro da rede ANSP, as empresas simplesmente usavam o local para troca de tráfego”.
Segundo levantamento da Akamai – empresa que gerencia diariamente dezenas de bilhões de interações web para os maiores conglomerados econômicos mundiais – no 1º trimestre de 2010 a internet superou a marca de 1 bilhão de usuários, com o Brasil registrando 11 milhões de endereços IP únicos.
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