José Wilson (ao centro) em 1988, na
Universidade de Perpignan (França), onde preparava sua tese de doutorado
José Wilson era professor da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte há quase 20 anos. Formado em engenharia
mecânica pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) de São Paulo, era Mestre
em Energia Térmica pela UFPB e Doutor em Sistemas Energéticos pela Universidade
de Nice, França, com pós-doutorado na Universidade Politécnica de Valência,
Espanha.
Foi pioneiro no país na pesquisa teórica e aplicada em piscina solar de gradiente salino. Coordenou projetos, financiados pelo Centro de Pesquisa da Petrobras, sobre bombeamento fotovoltaico e eólico de petróleo em poços terrestres (onshore).
Faleceu no último dia 9, aos 58 anos, vítima de um aneurisma de aorta.
Publicamos a seguir um artigo de divulgação científica inédito (escrito em 2009), de autoria de José Wilson – em parceria com este blogueiro – sobre o uso de energia geotérmica para climatização.
Foi pioneiro no país na pesquisa teórica e aplicada em piscina solar de gradiente salino. Coordenou projetos, financiados pelo Centro de Pesquisa da Petrobras, sobre bombeamento fotovoltaico e eólico de petróleo em poços terrestres (onshore).
Faleceu no último dia 9, aos 58 anos, vítima de um aneurisma de aorta.
Publicamos a seguir um artigo de divulgação científica inédito (escrito em 2009), de autoria de José Wilson – em parceria com este blogueiro – sobre o uso de energia geotérmica para climatização.
Projeto pioneiro em Valência (Espanha) utiliza energia geotérmica para climatizar
Por José Wilson Lage Nogueira (in memoriam) e Antonio Pralon
Uma instalação de climatização a energia geotérmica funciona há cinco anos na Escola Superior de Engenheiros Industriais (ESII, na sigla em espanhol) da Universidade Politécnica de Valência, Espanha. Financiado pela União Européia, através do projeto Bomba de Calor Geotérmica para Climatização em Zonas Litorâneas da Europa (GeoCool), o equipamento é único no mundo.
http://www.transition-energie.com/france-gdf-suez-developpe-la-geothermie-en-ile-de-france/&docid=
Quando não proveniente de magma subterrâneo
profundo, a energia geotérmica é energia solar armazenada no solo. É, portanto
– neste último caso – uma energia limpa e renovável. O
solo pode ser usado como reservatório
frio ou quente para resfriar o ar ambiente no
verão e aquecê-lo no inverno, mediante um “ciclo
termodinâmico”.
Um dispositivo – conhecido como bomba de calor – funciona com base nesse ciclo e se encarrega de circular um fluido que propicia a climatização. O sistema de climatização é dito geotérmico quando esse fluido troca calor com água aquecida ou resfriada previamente pelo solo. Neste caso, tem-se uma bomba de calor geotérmica.
As bombas de calor, que são aparelhos elétricos, servem – dependendo do seu modo de operação – tanto para aquecer, como para resfriar. O uso desse tipo de equipamento tem aumentado significativamente na Europa, devido ao seu baixo consumo de energia elétrica em relação à energia transferida, e seu caráter “reversível”. Na Alemanha, a taxa atual de novas instalações é de 125 mil unidades por ano.
Quanto menor a diferença de temperatura entre o ar ambiente e o ar do recinto a climatizar, melhor o desempenho do equipamento e, conseqüentemente, menor o consumo de energia elétrica. Daí a idéia de se utilizar um reservatório natural – o solo a determinada profundidade – que se mantém numa temperatura constante, ora menor (no verão) ora maior (no inverno) do que a temperatura do ar ambiente.
Em ambos os casos, o uso do solo proporciona diferenças de temperatura menores do que aquelas existentes para “bombear calor” do (ou para o) espaço a climatizar com uma bomba de calor comum. Essa é a principal vantagem de usar energia geotérmica para climatizar, do ponto de vista energético.
Um dispositivo – conhecido como bomba de calor – funciona com base nesse ciclo e se encarrega de circular um fluido que propicia a climatização. O sistema de climatização é dito geotérmico quando esse fluido troca calor com água aquecida ou resfriada previamente pelo solo. Neste caso, tem-se uma bomba de calor geotérmica.
As bombas de calor, que são aparelhos elétricos, servem – dependendo do seu modo de operação – tanto para aquecer, como para resfriar. O uso desse tipo de equipamento tem aumentado significativamente na Europa, devido ao seu baixo consumo de energia elétrica em relação à energia transferida, e seu caráter “reversível”. Na Alemanha, a taxa atual de novas instalações é de 125 mil unidades por ano.
Quanto menor a diferença de temperatura entre o ar ambiente e o ar do recinto a climatizar, melhor o desempenho do equipamento e, conseqüentemente, menor o consumo de energia elétrica. Daí a idéia de se utilizar um reservatório natural – o solo a determinada profundidade – que se mantém numa temperatura constante, ora menor (no verão) ora maior (no inverno) do que a temperatura do ar ambiente.
Em ambos os casos, o uso do solo proporciona diferenças de temperatura menores do que aquelas existentes para “bombear calor” do (ou para o) espaço a climatizar com uma bomba de calor comum. Essa é a principal vantagem de usar energia geotérmica para climatizar, do ponto de vista energético.
http://www.sustainotect.com/2010/03/geothermal-energy-system-vs-ground-source-heat-pump/&docid=
De acordo com dados experimentais, a poucos
metros de profundidade (a partir de 2 m, em alguns
casos) a temperatura do solo é praticamente igual à temperatura média
anual do ar ambiente no respectivo local. Em Valência, Espanha, a temperatura
média anual é de cerca de 17oC, com mínima
de 7oC (Janeiro) e máxima de 30oC (Agosto).
Assim,
para se obter uma temperatura de conforto de 22oC,
tem-se uma diferença de temperatura ar-solo de apenas 5oC durante o
ano todo, em vez de 15oC no inverno e de 8oC no verão. Em
conseqüência, o consumo de energia elétrica da
bomba de calor é consideravelmente reduzido – principalmente no inverno -
devido ao aumento do seu desempenho.
Dados médios anuais do projeto GeoCool
revelam que a bomba de calor geotérmica instalada em Valência operou com
desempenhos 73% e 60% maiores, nos modos de aquecimento e resfriamento,
respectivamente, em relação a uma bomba de calor convencional. Outros dados desse projeto indicam a redução equivalente
na emissão de CO2 oriundo da fonte primária em torno de 50%.
Os tubos para circulação de água no solo
podem ser instalados vertical ou horizontalmente, dependendo da disponibilidade
e do tipo de uso do solo. Na UPV, os tubos foram instalados verticalmente em seis poços com 50 metros de
profundidade, num gramado em frente ao prédio da ESII.
A superfície total dos
tubos depende de vários parâmetros, tais como do tipo de solo, de sua
propriedade de conduzir calor e, principalmente, da área a climatizar. A
potência da bomba de calor geotérmica da UPV é de 17,5 kW e é usada para
climatizar seis salas de professores e uma pequena
sala de aula.
Tecnologia
aplicável no Brasil?
Em algumas regiões do país pode ser
interessante o uso da bomba de calor geotérmica, como sistema de climatização
alternativo, especialmente em latitudes mais altas.
Uma análise termodinâmica
comparativa – entre a tecnologia proposta e a convencional – pode ser feita, a
partir dos valores anuais médios da temperatura do ar ambiente, bem como das
temperaturas mínima e máxima diárias do lugar.
Em Porto Alegre, por exemplo, a temperatura
anual média é de 19,5oC, com
valores médios extremos de 9oC em
Julho e 31oC em Janeiro.
Considerando, neste caso, apenas o modo de
resfriamento, teríamos com o sistema geotérmico uma diferença de temperatura
ar-solo de 2,5oC durante todo o
verão (para condicionar um ambiente a 22oC),
enquanto que o sistema convencional – um ar condicionado comum – operaria com
uma diferença de até 9oC para
prover a mesma temperatura de conforto.
Em termos de desempenho energético – tomando
como base um ciclo ideal de Carnot – a bomba de calor geotérmica proporcionaria
uma economia de energia elétrica de cerca de 48%, em relação ao aparelho comum.
Já em João Pessoa, onde a
temperatura média anual é de 26oC e a máxima é de 32oC,
teríamos com um ar condicionado geotérmico uma vantagem termodinâmica de 4oC
contra 10oC, em relação ao aparelho comum. Neste caso, a economia de
energia seria menor, em torno de 24%.
Em localidades de baixa latitude,
pode-se, também, integrar a energia solar sob outra forma com a geotérmica, e,
assim, reduzir ainda mais o consumo de eletricidade em instalações de ar
condicionado, principalmente de médio e grande porte.
Outras
vantagens do uso da energia geotérmica em sistemas de climatização são: i)
eliminação das “torres de resfriamento” – equipamentos de grandes dimensões,
com alto consumo de água e eletricidade – usados em instalações centrais de ar
condicionado; ii) melhor adequação do projeto de engenharia térmica aos
aspectos arquitetônicos, sejam estéticos (supressão de elementos externos
visíveis) ou de aproveitamento dos espaços (o dispositivo fica enterrado); iii)
possibilidade de uso diuturno e contínuo durante todo
ano; e, iv) obtenção de “efeito oásis”, pelo uso em larga escala,
visando mitigar ilhas de calor nos grandes centros urbanos.
O uso de energia geotérmica para fins de
climatização pode ser, entre outras, uma alternativa técnica e economicamente viável para se reduzir o consumo energético no
setor residencial, industrial, comercial e de serviços no Brasil. No Nordeste, a demanda anual de energia para
condicionamento de ar pode chegar aos 600 kWh por metro quadrado.
Segundo
dados de um relatório recente do projeto europeu CAMELIA (“Concerted Action
Multigeneration Energy system with Locally Integrated Applications”), nos climas
mediterrâneos, a demanda energética anual para climatização em edificios
comerciais é de 165 kWh/m2 e deverá
ser reduzida pela metade, com a implementação em larga escala de edificações de
baixo consumo, as “eco-buildings”.
Este novo conceito de edificação envolve aspectos integrados de
construção, de materiais, de arquitetura e de engenharia térmica, enfim,
uma interdisciplinaridade. Um campo de pesquisa amplo como este, que inclua as
energias renováveis, tem grande potencial para ser explorado no Brasil, haja
vista o elevado consumo energético de nossas edificações.
Que o trabalho de Wilson possa inspirar novos pesquisadores e pesquisadoras na UFRN e em todo o Brasil!
ResponderExcluirPrecisamos de eco-buildings!
Mas sequer começamos a materializar os benefícios desse conhecimento científico disponível, começando, por exemplo, pelos campi universitários. Vejam-se as novas construções do REUNI na na UFPB.
Há colégios e universidades privadas em João Pessoa cujo conceito de sala de aula é um caixote sem iluminação natural e com ar-condicionado gelado, o que deve pesar no custo da mensalidade paga pelos/as estudantes.