http://ambientalsustentavel.org/2012/carvao-na-encruzilhada-um-insumo-mineral-sujo-e-poluente/
De
cada 100 kWh gerados no planeta, 42 kWh provém de termelétricas alimentadas
por carvão mineral. Mantido o atual ritmo de exploração desse minério, suas
reservas podem durar mais 126 anos.
Até
2017, o carvão mineral deve se tornar a principal fonte de energia no mundo, diz
a Agência Internacional de Energia. Mesmo assim, o impacto ambiental desse
combustível o faz centro de uma polêmica sobre o aumento de sua exploração no
Brasil, como revela a matéria de capa da Ciência
Hoje deste mês.
As
jazidas brasileiras de carvão somam 7 bilhões de toneladas, equivalentes a 1%
da reserva mundial. Mais de 99% da produção nacional se concentra em Santa Catarina
e Rio Grande do Sul. O carvão mineral é usado basicamente como combustível em termelétricas,
representando 1,9% da matriz elétrica brasileira.
Quase
todo o carvão usado para outros fins que não insumo de usinas elétricas (produção
de aço, por exemplo) é importado de países como Estados Unidos, Colômbia e China. Isto devido
à baixa qualidade de nosso carvão, que contém altos teores de enxofre.
O
Brasil mantém uma posição oficial contrária à expansão da indústria do carvão
em nosso território, reforçada por seu compromisso de reduzir as emissões de CO2
em pelo menos 36% até 2020.
Mas
empresários e trabalhadores do setor contestam esta posição, alegando que as
novas tecnologias permitem o uso do carvão de forma cada vez mais eficiente e com
menos impacto ambiental.
Entre
as inovações – desenvolvidas pelo centro de pesquisa das empresas mineradoras
da região de Criciúma – estão o backfilling
(reintrodução de dejetos nas próprias galerias de escavação), a gaseificação in situ (obtenção de combustível em
forma de gás, extraído de depósitos profundos de carvão) e técnicas de captura
e estocagem de CO2 em galerias subterrâneas (tecnologia que poderia ser
implantada em termelétricas).
A
maior vantagem do carvão fóssil frente a outras fontes de energia, como a hídrica
e a eólica, é o grande estoque disponível deste combustível, destaca o
professor da COPPE/UFRJ Luiz Pinguelli Rosa. Ele defende a geração elétrica a
partir da queima de carvão, como forma de atender ao aumento da demanda não
suprida pelas hidrelétricas.
Os
argumentos contrários à ampliação do uso de carvão mineral para produção de
eletricidade parecem mais consistentes. Vão dos riscos à saúde dos mineiros aos
prejuízos ambientais.
Pesquisa
da UFSC revelou que não só trabalhadores das minas de carvão, mas também habitantes
das regiões produtoras têm taxas de metais (Pb, Cu, Zn, Fe) no sangue maiores
do que doadores de um grupo-controle de Florianópolis.
A
quantidade de material bruto extraído do solo e descartado na superfície chega
a 75% em algumas áreas, o que é enorme comparada à de outros países produtores
de carvão, como a Polônia (5%), Austrália (10%) e Índia (30%).
Na
geração elétrica, a emissão de poluentes decorrentes da queima do carvão
nacional é alta, sem falar no gás carbônico despejado na atmosfera: para cada
tonelada de carvão consumida 4,5 toneladas de CO2 são liberadas.
Decisões
judiciais determinaram a recuperação de áreas carboníferas em Santa Catarina
até o final da década. A recomposição do solo degradado consiste em isolar os
dejetos, cobrindo-os como uma camada de argila impermeabilizante sobreposta por
uma camada de terra e outra de vegetação rasteira.
O economista e pesquisador da Unesc Alcides Goularti Filho diz que a medida é
paliativa. Ele alega que nenhuma árvore vai crescer nas áreas supostamente
recuperadas, porque suas raízes podem furar a camada de argila, fazendo com
que o material tóxico volte a contaminar o solo.
Para
os empresários do setor carbonífero, o Brasil estaria na contramão da
tendência mundial, ao ignorar o carvão mineral como alternativa energética para
atender ao aumento da demanda elétrica.
Mas
será que dá para jogar nas costas de futuras gerações o inevitável custo
ambiental dessa fonte de energia? Como se o país não tivesse opções.
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