sexta-feira, 7 de junho de 2019

Energia nuclear: usina flutuante começa a operar na Rússia até o final do ano

Ancorada na Sibéria, central nuclear Akademik Lomonossov enfrenta resistência de ambientalistas, que denunciam riscos para o bioma marítimo

Usina nuclear flutuante Akademik Lomonossov, com capacidade de 70 MW (FOTO: Irina Motina/Global Look Press)
https://fr.rbth.com/tech/80663-russie-centrale-nucleaire-flottante-akademik-lomonosov-arctique

Sonho de nostálgicos especialistas e entusiastas da energia do átomo ou pesadelo dos contemporâneos ecologistas?

Desde que foi lançada no mar, a usina nuclear flutuante -instalada em um navio de 140 m de comprimento- viajou cerca de 5 mil km por 7 meses até ancorar para testes de seus dois reatores, cada um com 35 GW de potência.

A Akademik Lomonossov deixou o porto de São Petersburgo no início de maio de 2018, atravessou o Mar Báltico e margeou a costa norueguesa até alcançar Mourmansk, no Mar de Barents, onde foi reabastecida.

Seguiu pelo Ártico até atracar na pequena cidade de Pevek, no Nordeste da Rússia, de onde vai gerar energia -a partir do 2º semestre de 2019- para 200 mil habitantes da região de Tchoukotka, como também para plataformas de petróleo e gás offshore e usinas de dessalinização.

Começou a ser construída em 2007, a um custo estimado em quase 200 milhões de euros (~ 900 milhões de reais); foi concebida para substituir a central nuclear de Bilibino -a mais setentrional do mundo- tornada obsoleta.

A primeira central nuclear flutuante de que se tem notícia foi a norte americana MH-1A, desativada em 2014. Dotada de um reator de água pressurizada, a usina foi concebida no marco de um programa das Forças Armadas dos EUA e destinava-se a prover energia para áreas remotas.

Mas os Estados Unidos já consideram retomar projetos nesta área, assim como a China, onde duas megacorporações atuantes na geração nuclear investem em centrais sobre barcos ou plataformas marítimas, com potências de 100 a 200 MW, com previsão de entrada em operação entre 2019 e 2020, como informa o portal francês BMFTV.

A central nuclear Akademik Lomonossov dispõe de reatores do tipo KLT-40S e foi projetada para suportar tsunamis e outras catástrofes naturais de grande impacto.

Após a realização dos primeiros testes, “o controle dos níveis de radiação no ar constatou a ausência de concentração atmosférica perigosa de radionucleídos”, declarou Sergei Javoronkine, secretário do Conselho Público responsável pela segurança nuclear na região de Mourmansk.

Segundo a Rosatom (Agência Federal Russa de Energia Nuclear), responsável pela supervisão do projeto e construção da usina, a ideia original era instalá-la em São Petersburgo.

Mas alguns estados bálticos se opuseram, assim como a ONG global Greenpeace, que denuncia os riscos reais que a Akademik Lomonossov representa para um oceano já fragilizado e poluído.

A Rosatom estuda a viabilidade de exportar a tecnologia de usina nuclear flutuante para outros países, especialmente da América do Sul, Ásia e África; em relação a este último continente, o Sudão já formalizou uma parceria para a aquisição de uma unidade.

Na Ásia, o país visado é a Indonésia, cuja geografia -um imenso arquipélago- favorece a geração nuclear offshore. Na América do Sul os países visados são Chile e Brasil.

Mesmo se nosso país não tivesse uma abundância de fontes de energia limpa, um governo marcado por uma “ideologia caricatural” de extrema-direita, dificilmente promoverá uma aproximação do Brasil com a Rússia, em prol da energia nuclear.

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