Um estudo do International Council on Clean Transportation (ICCT), grupo de pesquisa sem fins lucrativos, mostrou que cada viajante deste pequeno grupo emite quase 6 vezes mais CO2 que os demais passageiros do mundo.
Cada norte-americano deste universo de viajantes registra mais de 6 voos de ida-e-volta por ano. Os resultados da pesquisa foram publicados recentemente em artigo no New York Times.
Se todos os passageiros dos EUA viajassem mais de 6
vezes por ano, o consumo de combustível dos aviões aumentaria
praticamente na mesma proporção, superando o automóvel como principal fonte emissora
de CO2 nos transportes, estima o ICCT.
“Os voos frequentes generalizados são intoleráveis para o
clima; de alguma maneira será preciso classificar os voos como sendo necessários
ou de luxo”, diz Dan Rutherford, diretor do Programa de Aviação do ICCT.
Metade dos americanos de classe média raramente viaja de avião. Portanto, esta parcela de cidadãos não pode ser responsabilizada por emissões aéreas de carbono. Já
1/3 deles são passageiros que viajam até 5 vezes por ano e isto significa cerca
de 1/3 de todas as emissões aéreas.
De fato, as maiores emissões nos EUA, de responsabilidade
direta dos cidadãos, estão relacionadas ao uso intensivo de automóveis e aos
sistemas de climatização residencial.
Mas a pesquisa do ICCT revela quem são os principais responsáveis
nos EUA pelas emissões aéreas de carbono, que representam quase ¼ do
CO2 emitido pelos aviões em todo o mundo.
Quando se consideram todos os passageiros aéreos, os EUA
lideram o ranking de emissões de CO2 neste segmento, com 24% do total, seguido
pela China (13%), Reino Unido (4%), Japão (3,1%) e Alemanha (3%).
Já em termos de emissões aéreas per capita, os EUA ficam na 11ª
posição, atrás de países com populações de alto poder aquisitivo, como
Cingapura, Finlândia e Islândia.
As emissões aéreas que mais cresceram em 2018 são provenientes
de países populosos, como China e Índia, onde classes médias em ascensão
econômica tem destinado boa parte de sua renda às viagens de avião.
Por sua parte, os principais fabricantes de aviões, Boeing e Airbus,
estão em salutar concorrência para produzir aeronaves cada vez mais eficientes e
adaptadas a biocombustíveis, o que significa menos CO2 na atmosfera.
Nas companhias menos eficientes, as aeronaves consomem entre
26% e 60% a mais de combustível do que seus pares mais eficazes em voos
comparáveis, segundo pesquisa da ICCT.
Só que o número de voos tem crescido bem mais rápido que os
ganhos em eficiência energética dos aviões aliados ao uso de biocombustível. Daí as
emissões de carbono terem sido maiores do que indicavam projeções anteriores.
Em 2018, a aviação civil mundial despejou na atmosfera 918 milhões de
toneladas de CO2. Esta quantidade, comparada às emissões totais (~ 40 vezes), é baixa mas equipara-se ao que, juntas, Alemanha e Holanda emitiram no ano passado.
E o que fazer para reduzir as emissões aéreas? A pergunta que
não quer calar... O grupo britânico A Free Ride propõe uma taxação
progressiva dos passageiros: quanto maior a frequência de suas viagens, maior o
imposto a ser pago.
Pela proposta, uma vez por ano todos os passageiros poderiam
comprar uma passagem de volta sem pagar a “taxa por emissão de carbono”. Para
cada voo adicional naquele ano, o valor da taxa aumentaria progressivamente.
“Todos poderiam viajar de férias e, ao mesmo tempo, ajudar a
combater as mudanças climáticas; o imposto sobre emissões afetaria apenas um
pequeno grupo elitista de viajantes frequentes”, explica Leo Murray, da Free
Ride.
Na mesma direção, o Imperial College de Londres
recomendou ao Comitê Britânico de Mudança Climática, em seu relatório Behaviour
change, public engagement and Net Zero, a proibição de programas de milhas
para viajantes frequentes, de modo a “conter voos excessivos”.
O relatório mostra dados comprovando que viajantes frequentes
tendem a ser menos sensíveis ao preço das passagens e recomenda que eles “sejam
fortemente taxados, para desencorajá-los a fazer voos adicionais”. Como era de
se esperar, as empresas aéreas se opõem à medida.
“As companhias estão comprometidas em reduzir ainda mais as
emissões de carbono, mas este esforço estaria prejudicado com medidas que inibem
o investimento em aeronaves mais eficientes, uso de combustíveis sustentáveis e
outras inovações”, declara Carter Yang, porta-voz do grupo Airlines for
America.
Por outro lado, algumas corporações começam a questionar se tantas
viagens de seus executivos são realmente necessárias, em plena era da
tecnologia de informação e comunicação telemática.
Na Europa, empresas preocupadas com sua responsabilidade
ambiental oferecem folga extra para funcionários que viajem de férias usando meios de transporte menos poluentes, como o trem.
Movimentos da sociedade civil e iniciativas legislativas visando reduzir a ocorrência de voos tem se multiplicado em vários países europeus.
Na Suécia, graças ao movimento Fligskam (“Vergonha de avião”),
o número de passageiros caiu 4,4% em um ano; considerando apenas voos domésticos,
a queda foi de 5,6%.
Na Suíça e na França, parlamentares defendem a proibição de
publicidade de companhias aéreas nas estações de trem e propõem a obrigatoriedade
de aviso similar ao dos maços de cigarro: “O avião prejudica gravemente o clima”.
A Holanda aprovou uma lei que baniu os voos entre
Amsterdam e Bruxelas, viagem que pode perfeitamente ser feita de trem.
Na França, um deputado do grupo La France Insoumise
apresentou um projeto de lei que visa interditar voos domésticos que possam ser feitos de trem, com um tempo excedente de até 2h e 30’ em relação à viagem
de avião. As rotas afetadas levariam à supressão de 72 voos diários.
Obviamente que todas essas iniciativas, além de promover a conscientização
sobre o impacto dos voos no clima, demandam um custo adicional para toda
a sociedade.
Uma rota aérea suprimida implica em mais trens circulando, o que
vai requerer investimento pesado em novas linhas férreas, novos equipamentos de
transporte e manutenção.
Não havendo a mesma concorrência como há no setor aéreo, viajar
de trem certamente sairá mais caro. É o preço a ser pago para ajudar a salvar o
planeta
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