quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Desmatamento da Amazônia cresce 14% em 2018 e atinge maior valor desde 2008

Área de 7.900 km2 de floresta foi destruída em favor do agronegócio


As emissões de gases-estufa associadas à mudança de uso da terra (floresta virando área de pastagem e plantação) somaram cerca de 6 milhões de toneladas de carbono equivalente, um avanço de 3,6% em relação a 2017.

Com o aumento exponencial das queimadas em 2019 (em junho, 90% a mais que no mesmo mês em 2018, em julho + 278%, em agosto + 222%, em setembro + 96%), os números que serão anunciados em 2020 devem ser catastróficos.

Os dados divulgados ontem pelo SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) e a devastação de florestas em curso deixam o Brasil longe do seu compromisso de reduzir em 80% o desmatamento e em pelo menos 36% suas emissões até 2020, em relação a valores médios de 1996 a 2005.

Mesmo assim, técnicos do SEEG afirmam que o país poderá cumprir sua meta de redução das emissões totais de gases-estufa até o final da década, já que no ano passado estas cresceram apenas 0,3%.

Isto porque no setor de energia as emissões sofreram queda de 5%, ante um aumento médio de 1,4% nas emissões nos setores de processos industriais e resíduos.

A redução das emissões energéticas deveu-se a uma participação maior de fontes renováveis na matriz elétrica (com menor uso de centrais termelétricas a combustível fóssil) e ao aumento do uso de etanol e biodiesel nos transportes.

Em 2018, a geração hidrelétrica foi maior e, pela primeira vez, a energia produzida pelas fontes eólica, solar e biomassa superou aquela gerada por termelétricas convencionais e usinas nucleares.

Outro fator que contribuiu para frear as emissões de gases-estufa foi a redução do rebanho no país. A demanda pelo consumo de carne no mercado interno e externo cresceu em 2018, diminuindo o número de cabeças de gado no campo e, portanto, as emissões pecuárias.

Os gases emitidos pela fermentação entérica do gado (metano liberado na digestão), o manejo de seus dejetos e o cultivo em áreas inundadas, que também contribuem para o efeito estufa, cresceram apenas 0,8% de 2017 a 2018.

Enquanto no período de 1990 a 2017 a agropecuária respondeu, em média, por 80% das emissões no país, em 2018 a participação deste setor nas emissões totais recuou para 69%.

Se excluirmos do inventário de emissões (desde 1990) as “mudanças de uso da terra”, as emissões são crescentes até 2014, momento em que há uma inflexão na tendência, provavelmente devido à recessão econômica, explica o coordenador-técnico do SEEG, Tasso Azevedo.

O fato é que agronegócio e desmatamento são indissociáveis. Não se pode negar que a derrubada ilegal do governo Dilma Rousseff em 2016 colocou em xeque toda a política ambiental do país, comprometendo seriamente suas metas, assumidas no Acordo de Paris em 2015.

Já em 2016, as emissões brasileiras cresceram 9% em relação a 2015, mesmo o país tendo sofrido uma recessão econômica importante, com uma redução de 3,6% no PIB.

Daí ser preocupante o avanço, ainda que pequeno, das emissões de gases-estufa anunciado ontem pelo SEEG. Face aos recentes registros de queimadas criminosas, com a passiva conivência das autoridades ambientais, as emissões em 2019 serão inevitavelmente maiores.

Tudo leva a crer que a desastrosa e irresponsável política ambiental impetrada pelo governo anterior deva se agravar ainda mais nos próximos 3 anos, colocando o Brasil em rota de colisão com os países comprometidos com ações em prol do clima.

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