FOTO: Juan Doblas/ISA/Reuters
Trinta anos após o anúncio oficial de sua construção, marcado pela emblemática cena da índia Tuíra, facão em punho, ameaçando o presidente da Eletronorte em sinal de protesto, Belo Monte enfim dispõe de sua capacidade máxima para produzir energia.
Quatro décadas passaram-se desde o primeiro estudo e onze anos de obras para que a
“estrutura mastodonte” instalada em um dos afluentes do rio Amazonas começasse
a gerar eletricidade, diz o Le Monde.
O destaque da matéria, publicada hoje no portal do jornal
francês, são as palavras do Procurador Regional responsável por Belo Monte,
Felício Pontes, que classificou a hidrelétrica como um monumental desperdício
de dinheiro público, fruto da insanidade humana.
Sim, o gasto total com a obra é estimado em 50 bilhões de
reais, 80% de dinheiro público. Projetada para uma capacidade de 11 mil MW
(megawatts), Belo Monte é provavelmente a última hidrelétrica de grande porte
do planeta.
Durante o governo Lula, em 2010, a construção da usina foi retomada
em ritmo acelerado, com promessa de preservação dos territórios indígenas. Mas
não sem a oposição de lideranças da etnia Juruna, como Sheila Jakarepi,
sublinha o Le Monde.
De fato, nem tudo são flores na seara da megausina de “energia
limpa”. Após inúmeros desmentidos oficiais, a concessionária (Norte Energia) à
cargo de Belo Monte confirmou que, desde sua entrada em operação em 2016, a
produção anual média de energia foi de 40% da sua capacidade máxima de projeto.
Finalmente, os resultados efetivos da operação da usina nos
últimos anos dão razão às dezenas de análises técnicas e estudos científicos
que advertiam da não viabilidade econômica do projeto, destaca o Le Monde.
Um dos principais estudiosos de Belo Monte e pesquisador do
Instituto Nacional de Pesquisas sobre a Amazônia (INPA), Philip Fearnside,
afirma que “Belo Monte só produzirá a energia prevista [com potência de 11 mil
MW] a custa de novas barragens”.
Especialistas já constataram que, no período de seca, quando o
volume de águas do rio Xingu é sensivelmente menor, durante pelo menos 4 meses
os reservatórios estarão praticamente vazios. “Apenas uma turbina [de um total de 18] poderá operar
nesses meses, e a situação deve se agravar com o aquecimento climático”, diz
Fearnside, que também é membro do IPCC brasileiro.
Energia limpa? Nem tanto, se considerarmos o gigantesco
impacto ambiental produzido pelo empreendimento, que alagou 503 km2 de floresta
nativa. E seus efeitos sobre a atmosfera.
A decomposição microbiana da matéria orgânica depositada no solo
inundado produz uma quantidade importante de metano (CH4), um gás 20 vezes mais
deletério que o CO2 em relação ao efeito estufa atmosférico. Não há dados que
permitam avaliar em escala global a influência dessas emissões sobre o clima.
A reportagem do Le Monde aborda, ainda, aspectos
judiciais envolvendo corrupção das empreiteiras que construíram Belo Monte. Malfeitos
detectados somente em 2017, o que permitiu à Norte Energia lançar mão de
dispositivo legal do período da ditadura, pelo qual decisões judiciais em favor
do erário público são anuladas, quando “contrárias ao desenvolvimento nacional”.
Outras “batalhas judiciais continuam, para obrigar a
concessionária a limitar as consequências socioeconômicas previstas no estudo
de impacto”, ressalta o diário francês.
Finalmente, a matéria publicada no portal do jornal francês
destaca os nefastos efeitos de Belo Monte sobre as populações locais: 40 mil
pessoas deslocadas, desemprego, pobreza, alcoolismo e suicídio.
Indicadores de um verdadeiro “terremoto social”, com epicentro
em Altamira, uma das cidades mais violentas do Brasil, onde o avanço das queimadas
e do garimpo ilegal é recorde na Amazônia.
O Le Monde fecha sua matéria destacando a proposta do
atual governo federal para o desenvolvimento da região: uma mudança
constitucional que permita a exploração mineral de territórios indígenas demarcados,
à revelia das populações nativas.
Fonte:
Brasil precisa urgentemente de ter um planejamento integrado com a demanda. Resolver o suprimento energetico apenas pelo lado da demanda é ato ambientalmente insustentável!
ResponderExcluirBelo Monte foi exatamente o oposto do que você recomenda. Expandir a geração hidroelétrica a tamanho custo ambiental e financeiro será que vale a pena?
Excluir