Informe
científico previsto para 9 de agosto deve reforçar alertas anteriores sobre
consequências nefastas do aquecimento global, à luz de novos conhecimentos
Pesquisadores da Universidade
de Northumbria (Reino Unido) investigam degelo de permafrost na Sibéria https://phys.org/news/2021-03-impact-climate-siberia-permafrost.html Impacto
do aquecimento global sobre áreas geladas, como glaciais e permafrost, que
representam 10% da superfície terrestre, é objeto de “relatório de avaliação”
do IPCC/ONU
Daqui há 12 dias, o Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), coordenado pela ONU, deve
emitir um novo alerta sobre a situação climática planetária. E não será apenas “mais
um”.
Desta vez o que será publicado resulta de uma compilação de 14 mil artigos científicos. Trata-se da primeira parte da 6ª edição de um “relatório de avaliação” que o IPCC divulga a cada sete anos.
Até sua publicação, representantes dos 195 países do mundo devem aprovar o documento “sumário para
tomadores de decisão”, uma nova carta de intenções para que o conjunto das
nações cumpram suas metas assumidas no Acordo de Paris, em 2015.
O IPCC iniciou seus
trabalhos no último dia 6, via plenária virtual, com a participação de experts
climáticos e representantes das 195 nações sob égide da ONU.
Criado em 1988, o painel
de especialistas climáticos da ONU tem por missão avaliar de forma clara e
objetiva as informações científicas que permitam entender melhor o aquecimento
global de origem antrópica e seu impacto sobre toda forma de vida e suas
consequências e riscos para a humanidade.
O IPCC prepara dois tipos de relatório a serem divulgados no próximo dia 9: informes especiais sobre temas específicos, como os três publicados desde 2018 (sobre desafios de um aquecimento climático estabilizado a + 1,5 oC, sobre os oceanos e a criosfera, e sobre o solo), e os chamados “relatórios de avaliação”, publicados a cada sete anos. Foram cinco publicações desde a criação do IPCC, a última em 2014.
Em 9 de agosto será
divulgada a primeira parte do relatório de 2021. “Esses relatórios de avaliação
são elaborados em três partes, cada uma sob responsabilidade de um grupo de
trabalho específico: a 1ª parte consiste de uma atualização dos conhecimentos
científicos sobre a evolução do clima; a 2ª parte aborda os impactos e as
adaptações à mudança climática; e a 3ª parte aponta as soluções possíveis e
necessárias [de mitigação]”, explica Sandrine Marthy, pesquisadora francesa do
Laboratório de Economia Aplicada de Grenoble.
Apenas a 1ª parte do
relatório de avaliação será divulgada em 9 de agosto; as outras duas estão
previstas para serem publicadas em fevereiro e em março de 2022 e o relatório
final em outubro do mesmo ano, esclarece o porta-voz para o clima do Greenpeace
France, Clément Sénéchal.
O principal objetivo do IPCC
não é produzir novos conhecimentos científicos, mas realizar uma síntese atualizada
dos trabalhos existentes, com foco nos artigos publicados em revistas
especializadas com comitê editorial, acrescenta Marthy. Um colossal trabalho
realizado nos últimos sete anos, envolvendo 234 autores de 14.000 artigos
científicos.
Esta primeira parte do
relatório deve revelar diferenças marcantes em relação ao que foi divulgado em
2014. “Com a proliferação dos estudos, a ciência climática aprofundou-se”,
observa Sénéchal. Ele exemplifica, citando trabalhos em um ramo específico da
climatologia (a “atribuição”), que permitiram uma melhor compreensão dos
mecanismos pelos quais as atividades humanas causam mudança climática.
O quinto Relatório de
Avaliação já falava de uma “clara influência” de atividades antrópicas sobre o
clima. Uma atualização das pesquisas deve deixar ainda menos dúvidas sobre esta
relação. Em janeiro deste ano, um estudo publicado na revista Nature Climate
Change por uma equipe internacional de cientistas concluiu que “quase a
totalidade do aquecimento global registrado desde o início da era industrial foi
provocado por atividades humanas”.
Pesquisas recentes
evidenciaram que a intensificação da ocorrência de fenômenos extremos, como as
ondas de calor que ocorreram na Sibéria em 2020 e na Ásia em 2016, seria
impossível sem o aquecimento climático. “O IPCC deve também dedicar uma especial
atenção à compreensão mais refinada que a ciência alcançou sobre os impactos
regionais do aquecimento global”, destaca Sénéchal.
A grande questão que se
coloca é como esta primeira parte do informe de avaliação do IPCC será absorvida
pelos 195 países membros da ONU? São milhares de páginas e, mesmo sua versão
resumida -dirigida aos formuladores de políticas- com algumas dezenas de
páginas, já está provocando um vai-e-vem entre alguns desses atores. Isto tem
ocorrido “tanto entre revisores (outros especialistas científicos) como entre
alguns representantes de países”, diz Sandrine Marthy.
A diretora do programa
climático do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais
(Iddri), Lola Vallejo, adverte que, na busca de um amplo acordo para a redação
final do resumo para os tomadores de decisão, alguns Estados podem tentar limitar o
seu alcance.
Os diálogos entre os especialistas climáticos responsáveis pelo relatório e as delegações dos países estão sendo bem monitorados, para que a versão final do resumo seja robusta em seus aspectos científicos, explica Vallejo.
O principal desafio do IPCC nesta
sessão plenária é garantir uma compreensão adequada do relatório e,
consequentemente, de sua apropriação por parte dos governos. “Não deve ser
apenas um relatório a mais, mas sim um inventário da ciência climática para ser assimilado pelos Estados”, acrescenta Vallejos.
Clément Sénéchal acredita
que esta primeira parte do informe não suscitará maiores polêmicas, nem
intervenções diplomáticas, já que seu caráter é essencialmente científico. “É
mais provável que as negociações sejam duras em relação às outras duas partes, particularmente a 3ª, que trata das ações de mitigação, que exigirão dos Estados uma maior redução de suas emissões de gases de efeito estufa.”
A diretora do Iddri
destaca que “as três partes do relatório do IPCC são complementares e todas elas
importantes”. Para Sénéchal, a 1ª parte pode ser encarada como um alicerce
sobre o qual as demais vão se apoiar para oferecer uma compreensão dos riscos
da mudança climática e de possíveis soluções.
O porta-vos do Greenpeace
France lembra das cúpulas diplomáticas programadas até o final do ano, com
destaque para a do G20, em outubro na Itália, que reunirá dirigentes dos países
mais ricos e poluentes do planeta, antes da COP26 de Glasgow (de 1 a 12 de
novembro), em que os Estados deverão rever suas metas em prol do clima.
No momento em que o planeta
é marcado por catástrofes ambientais recentes em diferentes regiões, como as altas
temperaturas no Canadá e as chuvas torrenciais que causaram inundações em parte
da Europa e da Ásia, o Relatório de Avaliação do IPCC/ONU que será divulgado em
9 de agosto é um alerta a mais para a população dos 195 países.
https://phys.org/news/2021-03-impact-climate-siberia-permafrost.html
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