Próxima
conferência mundial sobre o clima acontece dias após anúncio do aumento recorde
da concentração de CO2 atmosférico; o que esperar concretamente dos países mais
poluidores?
Às vésperas de mais uma
cúpula climática global, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou
nesta segunda-feira (25) que a taxa de aumento anual do CO2 equivalente despejado
na atmosfera em 2020 foi “superior à média da última década”; sua concentração superou
a marca de 413 ppm (partes por milhão).
Apesar da pandemia de Covid-19 ter reduzido drasticamente a atividade econômica no ano passado, a quantidade de gases de efeito estufa -responsáveis pelo aquecimento global- emitidos atingiu 149% do nível pré-industrial, ou seja, uma concentração 2,5 vezes maior do que há 150 anos.
Embora as emissões de
carbono tenham sido 5,6% menores em 2020, por conta dos efeitos recessivos da
economia global, a taxa de crescimento anual da concentração de CO2 foi maior que a média do período
2011-2020, diz o estudo da agência da ONU para o clima divulgado hoje.
A última vez que a Terra
registrou concentrações de CO2 próximas de 400 ppm foi há cerca de 3 a 5
milhões de anos, quando a temperatura do planeta era 3 oC maior do que em 1850 e o
nível do mar 10 metros mais alto, diz o relatório da OMM.
A OMM afirma que a
elevação de temperatura até 2100 deve ficar acima do limite estabelecido no
Acordo de Paris. “Teremos um aumento de temperatura no final do século muito
além de 1,5 oC a 2 oC acima dos níveis pré-industriais”, afirma o secretário-geral
da OMM, Petteri Taalas.
Neste contexto, o que
podemos esperar da próxima cúpula climática global? A Conferência das Partes
(COP) é uma conferência anual que reúne representantes de 197 nações para
discutir a mudança climática e as estratégias que os países devem adotar para combatê-la.
Sua próxima edição, a 26ª, será realizada em Glasgow (Escócia) de 1 a 12 de
novembro deste ano.
Como parte de uma
Convenção Permanente das Nações Unidas, a COP constitui um tratado internacional
firmado pela quase totalidade dos países e territórios, que visa limitar o
impacto da atividade humana sobre o clima.
A COP26 tem o peculiar objetivo de avaliar o balanço das metas assumidas pelos
países -especialmente os mais poluidores- na COP21, realizada na França em 2015,
ao que se chamou Acordo de Paris e foi considerado pela ciência um xeque-mate
para a humanidade, uma espécie de ultimato para se evitar uma catástrofe climática.
O Acordo de Paris consiste, em síntese, de
um alerta sobre as consequências desastrosas para o planeta, caso a temperatura
se eleve além de 1,5 oC até o final do século, em relação ao nível
pré-industrial: a Terra estaria sujeita a uma quantidade significativa de alterações
irreversíveis. Quanto às metas assumidas no acordo, até o momento elas estão longe de serem cumpridas.
Segundo consta do relatório da OMM, a evolução incessante da temperatura global pode desencadear uma intensificar a liberação de gases poluentes por fontes naturais, o que torna o desafio da COP26 ainda mais crucial e urgente: adotar medidas eficazes para frear as emissões antrópicas.
Um dos gases com maior potencial de “forçagem radiativa” (de efeito estufa) é o metano (CH4). Estima-se que as atividades humanas sejam responsáveis por 60% das emissões de CH4, o restante seria produzido por microrganismos em ecossistemas pantanosos. A concentração atmosférica de CH4 atingiu em 2020 seu maior valor desde 2007.
Nunca é demais lembrar que
os maiores impactos da crise climática recaem sobre os países mais pobres, como
diversas nações insulares que correm o risco de submergir, aquelas sujeitas a
secas prolongadas e ondas de calor -causadas pelo aquecimento global- que comprometem a produção agrícola e a segurança alimentar de suas populações.
Mais de uma centena de
países em desenvolvimento já formularam algumas demandas a serem apresentadas
na COP26, voltadas aos países mais ricos e poluidores, tais como: suporte
financeiro para capacitá-los a enfrentar e se adaptar à mudança climática;
compensações para mitigar os efeitos sobre a disponibilidade de água; e investimentos a fundo perdido para acelerar a transição de suas economias para uma
produção de bens e serviços de baixo carbono.
Uma outra questão que
deverá ser colocada na mesa da COP26 é encontrar a melhor forma de gerenciar o
mercado de créditos de carbono, um mecanismo que permite cobrar de países
poluidores por suas emissões em favor daqueles que investem em economias mais
verdes. Mas é preciso uma gestão eficiente, para impedir que isto se
torne uma “licença para poluir ou desmatar” por parte de poderosos
conglomerados empresariais.
Diante da situação de absoluta “urgência climática”, não se pode esperar das nações protagonistas da Cop26, especialmente aquelas mais poluentes, metas de médio e longo prazos que não sejam ambiciosas e audaciosas.
Em grandes linhas, os
cinco desafios da CP26 são: 1) apresentar planos efetivos de redução da emissão
de gases de efeito estufa até 2030; 2) dissipar os entraves que limitaram ou
suspenderam a efetivação dos compromissos, como por exemplo, as negociações de
aporte financeiro para prevenir o deslocamento de populações afetadas por
impactos climáticos; 3) abastecer o Fundo Verde para o Clima, criado para ajudar países
em desenvolvimento a enfrentar o aquecimento global, o qual deveria contar com
100 bilhões de dólares até 2020; 4) propor novas estratégias de adaptação e
reforço da resiliência aos efeitos da mudança climática; e 5) apresentar um plano
concreto para descarbonizar a economia mundial, que permita alcançar
a neutralidade de carbono até 2050.
Fontes: https://www.bbc.com/afrique/monde-58970767
https://www.wedemain.fr/dechiffrer/quels-sont-les-5-grands-enjeux-de-la-cop26/
https://www.wedemain.fr/dechiffrer/quels-sont-les-5-grands-enjeux-de-la-cop26/
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