terça-feira, 31 de maio de 2011

Florestas energéticas: eucalipto como alternativa para produção de etanol?

Casca da árvore pode ser insumo eficiente para gerar biocombustível, mas eventual modelo produtivo com base em monocultura extensiva seria questionável

http://sosriosdobrasil.blogspot.com/2009/08/as-questoes-ambientais-das-monoculturas.html

Pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, comprova a viabilidade de se produzir etanol usando cascas de eucalipto descartadas pelas fábricas de papel e celulose.

Segundo coordenador do estudo, o químico Juliano Bragatto, cada tonelada de resíduo da indústria pode gerar até quase 200 litros de etanol, a partir de açúcares solúveis obtidos da casca fresca (logo após o corte das árvores) mais o açúcar resultante do processo de fabricação da celulose.

Há dois procedimentos para se extrair do eucalipto a matéria prima para a produção do etanol, seja “submetendo as cascas a uma lavagem com água a 80ºC, onde se obtém uma infusão que é posta em contato com as leveduras, ou moendo a casca e realizando a fermentação com o caldo obtido, do mesmo modo que a cana”, explica Bragatto.

Floresta de eucalipto para produção de papel e celulose
http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=50518

A nova etapa da pesquisa é analisar um maior número de variedades de eucalipto, para verificar com exatidão a composição química das cascas e a quantidade de açúcar disponível, “um passo importante para consolidar o conceito de florestas energéticas; uma vez obtido o açúcar, ele pode ter outras aplicações, como servir de matéria-prima na produção de bioplásticos e biopolímeros”, conclui o químico. 

No Brasil, a área plantada de eucaliptos é de pouco mais de 4,5 milhões de hectares, o que equivale a um potencial de produção de quase 12 bilhões de litros de metanol. A relação entre o volume de etanol produzido e a quantidade de madeira é semelhante àquela obtida com a cana de açúcar.

Com as 5 milhões de toneladas de casca descartadas anualmente pela indústria de papel e celulose – segundo estimativa do pesquisador da Esalq – seria possível produzir 1 bilhão de litros de etanol.

Essas cifras nos remetem a uma reflexão sobre a eventual modalidade de produção de etanol que venha a ser implantada no futuro, caso o eucalipto se confirme como insumo tecnicamente viável.

 
Micro-destilaria de etanol em Guaraciaba (MG) http://www.ufmg.br/boletim/bol1619/4.shtml

Como advertem os pesquisadores da Unicamp, Ortega, Watanabe e Cavalett, a opção pela grande escala de produção – tal como nos primórdios do Pró-álcool e ainda hoje – não significaria reproduzir um modelo de “monocultura danosa, com pouca possibilidade de interação com a pecuária e a destruição da diversidade ecológica e das pequenas economias nos locais onde as grandes usinas se instalaram”?

Para o trio de especialistas, a economia de escala da monocultura extensiva só é possível a custa de fortes subsídios aos grandes produtores; ela desaparece se contabilizadas as perdas de serviços ambientais e as “externalidades negativas” (custos do impacto ambiental dos agro-químicos aplicados na lavoura) resultantes da indústria do álcool.

Eles defendem que sistemas agro-ecológicos integrados a micro-destilarias podem ser economicamente viáveis em instalações de pequeno porte, as chamadas micro-usinas e mini-usinas.  

Já o ambientalista da UFMG, Apolo Heringer Lisboa, defende que plantações maiores combinadas com outras plantações até poderiam ser viabilizadas, desde que permitam a convivência com animais e plantas num manejo inteligente, conservando a biodiversidade e a presença do homem do campo.

Para Lisboa, “o problema não é a planta, é quem planta e como planta; uma das regras seria respeitar os ecossistemas, deixando grandes extensões intocáveis e os imprescindíveis corredores ecológicos de grandes dimensões”, explica o médico e ecologista. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário