segunda-feira, 5 de setembro de 2011

‘Clarear telhados e ruas para esfriar cidades’, propõe cientista americano

Professor de universidade canadense quer incluir São Paulo em seu programa “cool roofs and cool paviments”

Termografia (temperaturas em escala de cores) da cidade de Atlanta (EUA), no verão 
http://www.lemoniteur.fr/191-territoire/article/portrait/695749-hashem-akbari-un-irano-americain-en-guerre-contre-les-ilots-de-chaleur-urbains&docid=

Há mais de 20 anos Hashem Akbari (foto) – professor da Universidade Concordia de Montreal e pesquisador do Laboratório Lawrence Berkeley –  estuda as causas das ondas de calor nos grandes centros urbanos. Ele coordena um programa global que se dedica a realizar medições e propor soluções para melhorar a qualidade do ar ambiente nas metrópoles.

Diminuir a temperatura nos grandes centros mundiais, beneficiando literalmente todo o planeta, é bem mais simples do que se imagina; começa pela casa das pessoas, disse Akbari durante a 2ª Conferência Green Building Brasil, realizada em São Paulo no final do mês passado.

“A razão pela qual as áreas urbanas são tipicamente mais quentes [do que áreas periféricas] tem a ver com o fato de que elas são basicamente feitas de telhados e asfalto de cor escura, o que absorve mais energia.", explica Hashem Akbari.

A absorção excessiva da energia solar por telhados e pavimentos contribui para o aumento da temperatura do ar ambiente, mas pode ser mitigada com o uso de recobrimentos claros, defende o pesquisador. 

Quanto mais clara a superfície, mais ela reflete a luz, diminuindo a quantidade de radiação solar absorvida. Esta é a idéia que deu origem ao projeto cool roofs and cool paviments, coordenado por Akbari.

Seus estudos mostram que a diferença de temperatura entre a superfície de um asfalto escuro e a de um claro (submetidas às mesmas condições externas) é de até 30ºC; nos telhados essa diferença pode chegar a 50ºC. 

A elevação da temperatura do ar das cidades é intensificada pelo uso de aparelhos de ar condicionado, que despejam ainda mais calor no espaço urbano.

Em busca de um “efeito oásis” 

Não apenas a redução do albedo (parcela da radiação solar refletida de volta ao espaço) e de áreas verdes (decorrente da expansão imobiliária) – citados pelo professor Akbari em sua passagem por São Paulo – mas também outros fatores provocam “ilhas de calor” nos centros urbanos.

As principais causas são os rejeitos térmicos decorrentes do consumo antropogênico de energia (incluindo transportes) e a emissão de gases de efeito estufa, resultante de atividade industrial e meios de transporte.

Adaptado de http://www.weatherquestions.com/What_is_the_urban_heat_island.htm&docid=4Jg1u3OOfiHZjM&w=

O cientista francês Francis Meunier aponta outras alternativas – aliadas àquelas já citadas por Hashem Akbari – para se obter um efeito oásis, que possa atenuar ilhas de calor em aglomerados urbanos. 

São medidas que devem ser implementadas em larga escala: equipamentos de ar condicionado acionados por energia solar (térmica ou fotovoltaica), uso de veículos elétricos, adoção de materiais de construção termicamente apropriados e de edificações de baixo consumo energético.

Associadas às idéias preconizadas por Akbari em seu projeto cool roofs and cool paviments, essas medidas podem efetivamente contribuir para reduzir a temperatura do ar ambiente nas grandes cidades. 

O efeito oásis melhora a qualidade do ar não só pela atenuação de sua temperatura, mas também pela diminuição da concentração de ozônio na atmosfera urbana. Este elemento é altamente oxidante e, quando o corpo é exposto a ele por longos períodos, pode degradar o pulmão e tecidos do organismo.

Além de propiciar ao cidadão urbano um ar mais saudável, seus gastos com energia durante o verão podem diminuir sensivelmente com o efeito oásis ou, pelo menos, com o uso de cores mais claras nos revestimentos das edificações.

A equipe de Akbari realizou um estudo em Sacramento, na Califórnia (EUA), cidade de quase 500 mil habitantes, cujos resultados mostram que edifícios com fachadas mais claras consomem em média 40% menos energia na climatização estival, em relação àqueles com invólucros mais escuros. Este valor foi confirmado por um estudo similar efetuado por pesquisadores do Centro de Energia Solar da Flórida.

O grupo coordenado por Akbari avaliou, ainda, o impacto econômico resultante do uso de cores claras nos invólucros das edificações de onze grandes cidades americanas, indicando uma redução de 175 milhões de dólares nos gastos com energia para climatização. Uma extrapolação do estudo para o país inteiro levaria a uma economia de 750 milhões de dólares por ano. 

Por enquanto, apenas Nova Iorque e Chicago fazem parte do projeto global coordenado por Hashem Akbari; a adesão de cidades como Los Angeles, Atlanta, Milão e Roma, entre outras, está em análise. Além de São Paulo, o cientista quer incluir no projeto Nova Déli, Tóquio, Osaka e mais algumas cidades africanas.

Para ele, o futuro do homem em um mundo cada vez mais “concretizado” passa pela necessidade de soluções locais para se alcançar um objetivo global. “Tudo deve começar pela casa de cada cidadão; os cool roofs são a forma mais lucrativa de tornar uma casa confortável [se economiza na conta de energia, com a redução do consumo de aparelhos de ar condicionado]”, defende o pesquisador. 

Hashem Akbari espera que os governantes dos países participantes do projeto cool roofs and cool paviments se comprometam com ações que priorizem o meio ambiente e tornem os espaços urbanos mais “amigáveis”. 

Fontes: http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2011/09/02/cientista-propoe-clarear-o-mundo-para-melhorar-o-ambiente/

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