segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Delfim Netto: desenvolvimento da matriz energética limpa brasileira foi retardado durante 20 anos por ação de ONGs

Desde inauguração de Itaipu que entidades “protetoras” da Amazônia dificultam aproveitamento do enorme potencial hidrelétrico da região, diz economista

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Em artigo publicado hoje no site de CartaCapital o professor emérito da USP, Antônio Delfim Netto, atribui a organizações autonomeadas “protetoras do ecossistema amazônico” o atraso no avanço da geração elétrica renovável no país.

Ele fustiga parte dos ambientalistas que “não admitem a superioridade da opção brasileira pela energia hidrelétrica e ainda aceitam uma parceria com os defensores do uso da energia nuclear como alternativa mais adequada à preservação do meio ambiente e à proteção da vida”.

Delfim Netto destaca os exorbitantes custos e as incertezas sobre a duração dos trabalhos – anunciados recentemente pelo governo japonês – para reduzir, a níveis “toleráveis” à população, a radiação resultante do acidente na usina nuclear de Fukushima, há quase 6 meses.

“O conhecimento científico atual não permite afirmar que as gerações futuras estarão a salvo da contaminação pelos rejeitos radioativos das usinas nucleares”, afirma o economista.

O ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento exalta a decisão do governo alemão, no pós-Fukushima, de desativar em curto prazo todas suas instalações nucleares, compensando esta fonte suja pela geração eólica e com biomassa.

Leia o artigo, abaixo.

Sem retorno

Por Delfim Netto

A notícia veio seca, sem disfarces, transmitida de Tóquio pelas agências noticiosas internacionais na sexta-feira 26 agosto: em dois anos e ao custo de alguns bilhões de dólares, o Japão espera reduzir pela metade os níveis da radiação produzida pela destruição do sistema de resfriamento dos reatores da usina nuclear de Fukushima, em 11 de março do ano corrente. Poucos especialistas se arriscam a estimar a duração do trabalho restante para chegar a índices de descontaminação “suportáveis” pela população numa região que abrange milhares de quilômetros quadrados no entorno da usina. Cerca de 100 mil sobreviventes ao tsunami foram retirados da área e em sua maioria não têm certeza de retorno ou mesmo perspectiva de voltar um dia. Autoridades estimam que em dois anos a radiação diminua, naturalmente, 40% nas áreas afetadas. O governo trabalha com o objetivo de atingir níveis de redução de 60% nos locais frequentados por crianças nesse mesmo período.

As informações partiram do ministro extraordinário para a crise nuclear, Goshi Hosono, que reiterou que o governo japonês assumiu a total responsabilidade pelo processo de recuperação ambiental, inclusive a retirada dos resíduos radioativos e a restauração do solo para permitir a volta das práticas agrícolas. Ele usou de absoluta transparência ao dizer que ainda não tem uma solução permanente para armazenar o material radioativo, que terá de ser guardado, por enquanto, pelas comunidades locais. Garantiu, apenas, que a devastada província de Fukushima não será o destino final do lixo atômico.

A menção ao problema do tratamento do rejeito radioativo me fez lembrar o resultado de estudos recentes, mostrando que os países que dependem da energia atômica não têm ideia clara do que fazer para minimizar a contaminação produzida pelo combustível nuclear irradiado, cujos efeitos podem perdurar por séculos.

Apesar do envolvimento limitado nessas questões, tenho insistido na necessidade de se estudar melhor no Brasil os problemas da utilização das fontes energéticas, especialmente de parte dos ambientalistas. É inacreditável que muitos deles não consigam admitir, mesmo em boa-fé, a superioridade da opção brasileira pela energia hidrelétrica e ainda aceitem uma parceria com os defensores do uso da energia nuclear como alternativa mais adequada à preservação do meio ambiente e à proteção da vida.

Nos anos que se seguiram à entrada em operação da hidrelétrica de Itaipu, última grande obra sobre o Rio Paraná no século XX, o desenvolvimento da matriz energética limpa brasileira foi retardado durante duas décadas pela ação de ONGs que se autonomeavam “protetoras do ecossistema amazônico” ameaçado com a construção de hidrelétricas como as de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, e a de Belo Monte, no Xingu. A decisão de realizá-las consolida definitivamente o caminho para o aproveitamento do potencial energético do Norte brasileiro, que responde por 65% do total disponível.

O conhecimento científico atual não permite afirmar que as gerações futuras estarão a salvo da contaminação pelos rejeitos radioativos das usinas nucleares, muitas delas em operação desde a segunda metade do século XX. Compreende-se, portanto, o cuidado das autoridades japonesas ao se referir a prazos para o restabelecimento de condições mínimas para que os habitantes de Fukushima retornem aos seus lares.

Muitas pessoas continuam sem entender a opção japonesa pelo uso da energia nuclear, mesmo sabendo da pobreza de alternativas e que o avanço tecnológico permitiu dar-lhe viabilidade econômica. Essa aparente vantagem não é mais suficiente para justificar os riscos atuais para a vida humana e a insegurança das populações futuras. Isso sem contar o fato de que o brutal aumento de custos para prevenir os efeitos dos acidentes naturais inviabilizou o início de novos projetos em todo o planeta até que novos mecanismos de segurança sejam desenvolvidos.

Sem ter sofrido as dores de tragédia similar, o povo alemão reagiu muito rapidamente a tais evidências em manifestações simultâneas nas maiores cidades, o que levou o governo da chanceler Angela Merkel a definir um novo rumo, radical, surfando sobre a decisão anterior de desativar paulatinamente as velhas usinas nucleares que respondiam por um quarto da oferta de energia: simplesmente decidiu que todas as instalações nucleares, inclusive as mais modernas, serão desativadas o mais rápido possível, com o suprimento sendo atendido pelo aumento da oferta de energia eólica e da biomassa.

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