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Em artigo publicado hoje no site de CartaCapital o professor emérito da USP,
Antônio Delfim Netto, atribui a organizações autonomeadas “protetoras do
ecossistema amazônico” o atraso no avanço da geração elétrica renovável no país.
Ele
fustiga parte dos ambientalistas que “não admitem a superioridade da opção
brasileira pela energia hidrelétrica e ainda aceitam uma parceria com os
defensores do uso da energia nuclear como alternativa mais adequada à
preservação do meio ambiente e à proteção da vida”.
Delfim
Netto destaca os exorbitantes custos e as incertezas sobre a duração dos
trabalhos – anunciados recentemente pelo governo japonês – para reduzir, a
níveis “toleráveis” à população, a radiação resultante do acidente na usina
nuclear de Fukushima, há quase 6 meses.
“O conhecimento científico atual não permite
afirmar que as gerações futuras estarão a salvo da contaminação pelos rejeitos
radioativos das usinas nucleares”, afirma o economista.
O ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do
Planejamento exalta a decisão do governo alemão, no pós-Fukushima, de desativar
em curto prazo todas suas instalações nucleares, compensando esta fonte suja
pela geração eólica e com biomassa.
Leia o artigo, abaixo.
Sem retorno
Por Delfim Netto
A notícia
veio seca, sem disfarces, transmitida de Tóquio pelas agências noticiosas
internacionais na sexta-feira 26 agosto: em dois anos e ao custo de alguns
bilhões de dólares, o Japão espera reduzir pela metade os níveis da radiação
produzida pela destruição do sistema de resfriamento dos reatores da usina
nuclear de Fukushima, em 11 de março do ano corrente. Poucos especialistas se
arriscam a estimar a duração do trabalho restante para chegar a índices de
descontaminação “suportáveis” pela população numa região que abrange milhares
de quilômetros quadrados no entorno da usina. Cerca de 100 mil sobreviventes ao
tsunami foram retirados da área e em sua maioria não têm certeza de retorno ou
mesmo perspectiva de voltar um dia. Autoridades estimam que em dois anos a
radiação diminua, naturalmente, 40% nas áreas afetadas. O governo trabalha com
o objetivo de atingir níveis de redução de 60% nos locais frequentados por
crianças nesse mesmo período.
As
informações partiram do ministro extraordinário para a crise nuclear, Goshi
Hosono, que reiterou que o governo japonês assumiu a total responsabilidade
pelo processo de recuperação ambiental, inclusive a retirada dos resíduos
radioativos e a restauração do solo para permitir a volta das práticas
agrícolas. Ele usou de absoluta transparência ao dizer que ainda não tem uma
solução permanente para armazenar o material radioativo, que terá de ser
guardado, por enquanto, pelas comunidades locais. Garantiu, apenas, que a
devastada província de Fukushima não será o destino final do lixo atômico.
A menção
ao problema do tratamento do rejeito radioativo me fez lembrar o resultado de
estudos recentes, mostrando que os países que dependem da energia atômica não
têm ideia clara do que fazer para minimizar a contaminação produzida pelo
combustível nuclear irradiado, cujos efeitos podem perdurar por séculos.
Apesar do
envolvimento limitado nessas questões, tenho insistido na necessidade de se
estudar melhor no Brasil os problemas da utilização das fontes energéticas,
especialmente de parte dos ambientalistas. É inacreditável que muitos deles não
consigam admitir, mesmo em boa-fé, a superioridade da opção brasileira pela
energia hidrelétrica e ainda aceitem uma parceria com os defensores do uso da
energia nuclear como alternativa mais adequada à preservação do meio ambiente e
à proteção da vida.
Nos anos
que se seguiram à entrada em operação da hidrelétrica de Itaipu, última grande
obra sobre o Rio Paraná no século XX, o desenvolvimento da matriz energética
limpa brasileira foi retardado durante duas décadas pela ação de ONGs que se
autonomeavam “protetoras do ecossistema amazônico” ameaçado com a construção de
hidrelétricas como as de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, e a de Belo
Monte, no Xingu. A decisão de realizá-las consolida definitivamente o caminho
para o aproveitamento do potencial energético do Norte brasileiro, que responde
por 65% do total disponível.
O
conhecimento científico atual não permite afirmar que as gerações futuras
estarão a salvo da contaminação pelos rejeitos radioativos das usinas
nucleares, muitas delas em operação desde a segunda metade do século XX.
Compreende-se, portanto, o cuidado das autoridades japonesas ao se referir a prazos
para o restabelecimento de condições mínimas para que os habitantes de
Fukushima retornem aos seus lares.
Muitas
pessoas continuam sem entender a opção japonesa pelo uso da energia nuclear,
mesmo sabendo da pobreza de alternativas e que o avanço tecnológico permitiu
dar-lhe viabilidade econômica. Essa aparente vantagem não é mais suficiente
para justificar os riscos atuais para a vida humana e a insegurança das
populações futuras. Isso sem contar o fato de que o brutal aumento de custos
para prevenir os efeitos dos acidentes naturais inviabilizou o início de novos
projetos em todo o planeta até que novos mecanismos de segurança sejam
desenvolvidos.
Sem ter
sofrido as dores de tragédia similar, o povo alemão reagiu muito rapidamente a
tais evidências em manifestações simultâneas nas maiores cidades, o que levou o
governo da chanceler Angela Merkel a definir um novo rumo, radical, surfando
sobre a decisão anterior de desativar paulatinamente as velhas usinas nucleares
que respondiam por um quarto da oferta de energia: simplesmente decidiu que
todas as instalações nucleares, inclusive as mais modernas, serão desativadas o
mais rápido possível, com o suprimento sendo atendido pelo aumento da oferta de
energia eólica e da biomassa.
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