sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Maconha: propriedades da erva podem explicar mecanismos da dor, memória e doenças degenerativas

Brasileiros são pioneiros na pesquisa com substância antipsicótica da Cannabis, mas uso terapêutico da planta só no exterior

http://www.abn.com.br/editorias1.php?id=62929

A edição deste mês da revista Mente e Cérebro, traz em sua matéria de capa um artigo da jornalista Fernanda Teixeira Ribeiro sobre os mais recentes avanços da pesquisa com a maconha e as possibilidades de uso terapêutico da planta.

Assim como a pesquisa com a morfina na década de 1970 desvendou o poder das endorfinas, a ação dos canabinoides presentes na erva abre caminho para uma compreensão melhor do funcionamento neural, dizem os cientistas.

Até hoje, foram identificados quase 400 componentes químicos da maconha, entre eles, cerca de 80 canabinoides, dos quais os mais estudados são o THC e o canabidiol (CBD).

Um grupo de pesquisadores da USP de Ribeirão Preto, liderado pelo psiquiatra Antônio Zuardi, descobriu que a presença do CBD em doses elevadas pode minimizar efeitos colaterais – como alterações mentais – decorrentes da ação psicoativa da erva, causada pelo THC.

Na realidade, o CBD é responsável por diversas ações antagônicas ao THC, embora a principal delas seja o efeito antipsicótico, diz a matéria de Fernanda Ribeiro.

Além do efeito psicoativo do THC, este canabinoide tem um forte potencial terapêutico, agindo significativamente sobre a percepção da dor, conforme comprovam estudos do Centro de Pesquisa Medicinal da Cannabis (CMCR, na sigla em inglês) da Universidade da Flórida.

O THC se mostrou eficaz no combate às reações adversas dos tratamentos de câncer e neuropatia periférica associada à infecção por HIV, revelam as pesquisas do CMCR.

Sativex - remédio à base de maconha, indicado para tratar espasmos musculares da esclerose múltipla: utilizado no Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido, Espanha, Alemanha e Dinamarca
http://sativawarrior.blogspot.com/2011/07/sativex-first-ms-treatment-based-on-cbd.html

Já os estudos conduzidos pelo neurocientista Reinaldo Takahashi, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), evidenciam uma possível influência do CBD na interação de endocanabinoides – neurotransmissores “endógenos” produzidos pelo cérebro em presença de substâncias da erva – com outros neurotransmissores envolvidos nas diferentes fases da memória.

Os resultados dessa pesquisa – ainda restrita a modelos animais – poderão contribuir para o desenvolvimento de medicamentos contra distúrbios psiquiátricos, como o transtorno de estresse pós-traumático, diz o professor Takahashi.

O canabidiol também se mostrou eficaz no tratamento de quadros psicóticos em pacientes com Parkinson, de acordo com um estudo do grupo coordenado pelo professor Zuardi (USP - Ribeirão Preto), publicado em 2008 no Journal of Psicopharmacology.

Algumas pesquisas indicam que os canabinoides podem, ainda, ter ação neuroprotetora, abrindo perspectivas para sua aplicação clínica, como no tratamento preventivo de Alzheimer ou em fase inicial da doença – já que em estágio avançado, os neurônios que alojam os receptores canabinoides são destruídos – explica a neurologista Maria de Ceballos, do Departamento de Plasticidade Neural do Instituto Cajal, de Madri.

Outra possibilidade de uso terapêutico da maconha é no controle de sintomas da esclerose múltipla. O comprovado efeito anti-espasmódico do THC e sua combinação com o CBD são a base da composição química do Sativex medicamento desenvolvido por uma multinacional famacêutica indicado para controlar espasmos e aliviar dores neuropáticas. O Sativex já é utilizado em vários países e, ano que vem, deve ser lançado na Suécia, Itália, Áustria e República Checa.

Fernanda Ribeiro destaca em seu artigo o alerta feito pelo pesquisador da UFSC, Reinaldo Takahashi, sobre as posições extremas de alguns formadores de opinião e membros da própria comunidade científica brasileira quanto ao uso recreativo e terapêutico da maconha, o que pode dificultar ainda mais a criação de uma legislação para o uso terapêutico da maconha em nosso país.

“De um lado, usam os achados científicos como argumento para propor a total liberalização; do outro, desqualificam as pesquisas que já identificaram propriedades terapêuticas na Cannabis, alegando risco de efeitos colaterais e de dependência”, declara Takahashi.

Fonte: Mente e Cérebro – Scientific American Nº 224, setembro de 2011

Um comentário:

  1. Ainda não se sabe muito pouco das plantas, uma erva mal falada como a maconha pode ser no futuro um medicamento muito importante.

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