http://www.avenirenergies.fr/lenergie-solaire/panneaux-solaires/
A
autoprodução de eletricidade solar, especialmente em habitações individuais,
gera polêmica entre agentes do setor fotovoltaico francês.
Sem
dispositivo de estocagem, a parte da energia solar consumida localmente não
passaria de 40%, o que torna difícil obter a “paridade rede” (kWh fotovoltaico
ao mesmo custo do kWh da rede).
No final de 2013, a Associação Hespul (www.hespul.org) publicou uma nota, destacando a “armadilha” que o autoconsumo de eletricidade solar residencial representa.
Em
reação ao comunicado da Hespul, mais de 400 atores do setor fotovoltaico
francês endossaram o “Manifesto pela autoprodução local de energia renovável”, de
autoria de Grégory Lamotte, diretor da consultoria em gestão de energia
elétrica Comwatt.
Para
a Hespul, é cedo ainda para se pensar em autoconsumo, uma vez que a penetração
do fotovoltaico na França é muito fraca e a paridade rede para o cliente final
está longe de ser alcançada.
“É
verdade que a eletricidade no país é barata, mas o seu preço deve aumentar 10%
este ano e 5% ao ano, a partir de 2015, o que tornaria o autoconsumo rentável
num horizonte de 20 anos”, rebate Grégory Lamotte.
Marc
Jedliczka, diretor da Hespul, retruca, afirmando que nada impede aos que desejam
consumir localmente a eletricidade solar; sua preocupação é que o autoconsumo possa
ser visto como a única via do fotovoltaico.
“A
tarifa de compra [de energia solar fotovoltaica] foi concebida para dar
visibilidade aos investidores, sejam eles grandes ou pequenos. Nossa visão da
transição energética implica em 90 GWp instalados até 2050 e não será o
autoconsumo que permitirá atingir esta meta”, declara Jedliczka.
Autoconsumo
ou autoprodução? Os dois termos descrevem situações bem diferentes.
“Autoconsumo” significa consumir o máximo de eletricidade produzida por uma
instalação, seja pela redução do tamanho do sistema (adaptando-o à demanda),
deslocando horários de consumo ao longo do dia, estocando energia ou criando
novos usos, de modo a injetar o mínimo possível na rede. Neste caso, há o risco
de se gerar um superconsumo.
Já
a “autoprodução” representa simplesmente a taxa de consumo elétrico da edificação
coberta pela instalação fotovoltaica. Maximizar a autoprodução não implica em
redução do tamanho do sistema, como no caso de autoconsumo. A energia excedente
é injetada na rede.
Exemplo
de autoconsumo de eletricidade fotovoltaica na indústria. A curva grená
incluída no gráfico mostra (qualitativamente) que um sistema FV residencial
pode gerar energia muito além das necessidades da casa. Ao contrário do que
ocorre na indústria. Adaptado de
http://www.osprelafrica.com/fr/index.php/productos-y-servicios/autoconsumo-fotovoltaico
Grégory
Lamotte destaca o aspecto “independência” do autoconsumo fotovoltaico, como elemento
de proteção do cidadão contra futuros aumentos no preço da energia elétrica oriunda da
rede.
“Se
os painéis fotovoltaicos instalados no telhado da minha casa suprem 50% do meu
consumo, fico menos vulnerável a eventuais aumentos das tarifas de
eletricidade”, exemplifica Lamotte.
Nesta
ótica, pequenas instalações (de 1,5 a 2 kWp) poderiam atender parcialmente o
consumo elétrico de uma residência, criando um novo mercado de sistemas
fotovoltaicos de pequeno porte, com unidades de até 250 Wp de potência.
Para
André Joffre, diretor do bureau de estudos em energia solar Tecsol (com sede em
Perpignan), a visão da Hespul – de que telhados devam suprir mais energia do
que necessitam os moradores da casa – é equivocada.
“Quanto
mais cidadãos se implicarem neste tipo de tecnologia, mais eles vão apreciar o seu
valor; seria um erro monumental deixar esses consumidores à margem”, defende
Joffre.
A
esta visão, se opõe uma abordagem mais coletiva da energia. “Já que nem todas
as casas podem ser equipadas com painéis fotovoltaicos, seria desejável que
aquelas que podem, produzam mais energia do que consomem”, defende o diretor da
Cler (Rede para a Transição Energética), Raphaël Claustre.
Para
o diretor da Hespul, “seria ridículo instalar 300 Wp para alimentar um tanque
de água aquecido eletricamente, quando o telhado permite instalar 3 ou 10 kWp;
é preciso um mecanismo que otimize a exploração dos telhados em áreas urbanas”.
Já
para o presidente da Comissão Solar Fotovoltaica (Soler) do Sindicato de
Energias Renováveis (SER), Arnaud Mine, é possível instalar alguns GWp sob
diferentes fórmulas, sem perturbar a rede elétrica francesa.
“Isto
facilita a sobrevivência de empresas, a realização de P&D, o acúmulo de
know-how e experiências que poderão ser exportadas. É preciso instaurar um
mecanismo para desenvolver o autoconsumo; seria imprudente mudar o sistema sem
saber se o novo funcionará.”, declarou Mine.
Esta
deve ser a posição de consenso entre os participantes de um grupo de trabalho sobre
autoprodução fotovoltaica, criado pelo Ministério da Ecologia francês.
Fonte: Systèmes
Solaires – Le journal du photovoltaïque, hors-série Nº 11, maio de 2014
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