Gráfica
Oeding Print GmbH, de Brunswick (Alemanha), dotada de uma instalação fotovoltaica
de 221 kWp – que atende 25% da sua
demanda elétrica – em operação desde o início do ano (FOTO: Oeding Print GmbH) Le Journal du Photovoltaïque, hors-série
Nº 12, nov. 2014
Mesmo
com várias categorias de consumidor final já contempladas pela “paridade rede”,
o fotovoltaico encontra-se numa encruzilhada.
Os
ganhos de competitividade obtidos nos últimos anos impõem ao setor a busca de
novos modelos de negócio.
Na
Alemanha, onde o custo da eletricidade solar é o mesmo da energia da rede –
tanto para residências como para empresas – o autoconsumo da produção
fotovoltaica já é realidade. Mas não um modelo que pode ser aplicado
indistintamente.
Condomínios
residenciais e empresas sem condições financeiras para investir em uma central
solar própria são contraexemplos do autoconsumo fotovoltaico.
Para
mitigar este tipo de situação, novos modelos para a energia solar fotovoltaica
estão sendo testados em diferentes regiões da Alemanha.
Em
Heidelberg – cidade do sudoeste alemão, com 150 mil habitantes (20%
universitários) – um grupo de estudantes criou uma cooperativa (a HEG, Heidelberg Energie Genossenschaft) para
desenvolver projetos comunitários de energia solar e eólica.
Em
abril de 2013, a HEG inaugurou uma instalação fotovoltaica de 450 kWp (quilo
watt pico), distribuída sobre os telhados de 7 prédios numa zona periférica da
cidade. O
caráter inovador do projeto é que a energia solar produzida seja vendida aos
próprios moradores desses edifícios.
“No
caso de habitações individuais é mais fácil contabilizar o autoconsumo da
energia solar, mas aqui temos 8 moradias em cada prédio, o que dificulta saber
qual o consumo de cada uma e quanto provém da rede ou da instalação
fotovoltaica”, explica Andreas Gissler, cogestor da HEG.
De
fato, das 116 residências, apenas 15 condôminos são associados e clientes da
cooperativa, e seu consumo elétrico total equivale a toda produção do sistema
fotovoltaico.
Só
que todos os moradores do conjunto consomem a eletricidade solar, porque entre
60% e 70% da energia produzida localmente não pode simultaneamente ser usada
junto com a energia fornecida pela rede.
Esta
parcela majoritária de energia fotovoltaica é injetada na rede e comprada por
14,5 centavos de euro o kWh. Por sua parte, a HEG vende a eletricidade solar
por 26,5 centavos/kWh, um valor competitivo, em relação à média nacional (de 29
c€/kWh).
A diferença é fruto da isenção de algumas taxas concedida à energia solar.
Este
modelo permite aos empreendedores explorar comercialmente instalações
fotovoltaicas e aos consumidores pagar tarifas menores que aquelas da
eletricidade produzida convencionalmente.
Mais
ao norte do país, outro modelo inovador possibilitou a uma gráfica se
beneficiar de uma tarifa elétrica menor, em razão de um sistema fotovoltaico
instalado no telhado de suas dependências.
Uma
central solar de 221 kWp, instalada na gráfica Oeding Print GmbH, de Brunswick,
cobre cerca de 1/4 do seu consumo, desde o início de 2014.
A
instalação pertence a uma outra empresa, a Naturstrom AG, e foi concebida para
propiciar à gráfica uma tarifa “sob medida”.
A
tarifa proposta tem na sua composição uma parcela de custo do kWh fotovoltaico de
autoconsumo e outra do kWh tradicional oferecido pelo fornecedor. O resultado é
uma tarifa global ligeiramente abaixo do valor médio pago por consumidores
industriais.
O
sucesso deste modelo foi prejudicado com a entrada em vigor da nova lei alemã
para energias renováveis, que passou a taxar (desde agosto de 2014) a
distribuição de eletricidade verde entregue diretamente ao consumidor.
“As
pequenas e médias empresas querem usar energia limpa, desde que suas tarifas
não superem os menores valores da eletricidade convencional”, diz Ronald
Heinemann, diretor da Naturstrom.
Mas
se depender da disposição dos fornecedores alternativos, a venda direta de
eletricidade verde terá vida longa. Mesmo com a nova disposição legal, que
obriga a venda de energia renovável de acordo com as diretrizes europeias para
o mercado elétrico.
Para
Heinemann, é um contrassenso vender uma energia tão preciosa em um mercado onde
ela se perde nos fluxos de eletricidade oriunda de centrais nucleares ou a
carvão.
Junto
com mais três fornecedores “militantes” (Greenpeace Energy, Clean Energy
Sourcing AG e Elektrizitäts Werke Schönau) a Naturstrom elaborou um novo modelo
de venda direta de eletricidade verde, que tem grande chance de ser adotado
pelo governo alemão na forma de um decreto, até meados de 2015.
Trata-se
de uma tentativa de compensar o não pagamento da taxa recém-criada (para a
venda de energia limpa no mercado elétrico) com o pagamento direto aos
beneficiários da exploração da instalação solar, sem se servir da tarifa de
compra.
No
longo prazo, este modelo não levaria ao fim de subsídios. No curto prazo (2-3
anos), empreendedores como os cooperados da HEG poderiam optar pela venda da
eletricidade verde no mercado elétrico, conforme estabelece a lei, ou vendê-la
a um fornecedor alternativo, preservando seu valor intrínseco.
Fonte: Le Journal du Photovoltaïque, hors-série Nº 12, Novembro de 2014
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