terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Fotovoltaico 2.0: novas oportunidades, novos consumidores

Desafio do setor é se livrar da dependência de subsídio e de incertezas políticas

Gráfica Oeding Print GmbH, de Brunswick (Alemanha), dotada de uma instalação fotovoltaica de  221 kWp – que atende 25% da sua demanda elétrica – em operação desde o início do ano (FOTO: Oeding Print GmbH) Le Journal du Photovoltaïque, hors-série Nº 12, nov. 2014

Mesmo com várias categorias de consumidor final já contempladas pela “paridade rede”, o fotovoltaico encontra-se numa encruzilhada. 

Os ganhos de competitividade obtidos nos últimos anos impõem ao setor a busca de novos modelos de negócio.

Na Alemanha, onde o custo da eletricidade solar é o mesmo da energia da rede – tanto para residências como para empresas – o autoconsumo da produção fotovoltaica já é realidade. Mas não um modelo que pode ser aplicado indistintamente. 

Condomínios residenciais e empresas sem condições financeiras para investir em uma central solar própria são contraexemplos do autoconsumo fotovoltaico. 

Para mitigar este tipo de situação, novos modelos para a energia solar fotovoltaica estão sendo testados em diferentes regiões da Alemanha. 

Em Heidelberg – cidade do sudoeste alemão, com 150 mil habitantes (20% universitários) – um grupo de estudantes criou uma cooperativa (a HEG, Heidelberg Energie Genossenschaft) para desenvolver projetos comunitários de energia solar e eólica. 

Em abril de 2013, a HEG inaugurou uma instalação fotovoltaica de 450 kWp (quilo watt pico), distribuída sobre os telhados de 7 prédios numa zona periférica da cidade. O caráter inovador do projeto é que a energia solar produzida seja vendida aos próprios moradores desses edifícios. 

“No caso de habitações individuais é mais fácil contabilizar o autoconsumo da energia solar, mas aqui temos 8 moradias em cada prédio, o que dificulta saber qual o consumo de cada uma e quanto provém da rede ou da instalação fotovoltaica”, explica Andreas Gissler, cogestor da HEG. 

De fato, das 116 residências, apenas 15 condôminos são associados e clientes da cooperativa, e seu consumo elétrico total equivale a toda produção do sistema fotovoltaico. 

Só que todos os moradores do conjunto consomem a eletricidade solar, porque entre 60% e 70% da energia produzida localmente não pode simultaneamente ser usada junto com a energia fornecida pela rede. 

Esta parcela majoritária de energia fotovoltaica é injetada na rede e comprada por 14,5 centavos de euro o kWh. Por sua parte, a HEG vende a eletricidade solar por 26,5 centavos/kWh, um valor competitivo, em relação à média nacional (de 29 c/kWh). A diferença é fruto da isenção de algumas taxas concedida à energia solar. 

Este modelo permite aos empreendedores explorar comercialmente instalações fotovoltaicas e aos consumidores pagar tarifas menores que aquelas da eletricidade produzida convencionalmente. 

Mais ao norte do país, outro modelo inovador possibilitou a uma gráfica se beneficiar de uma tarifa elétrica menor, em razão de um sistema fotovoltaico instalado no telhado de suas dependências. 

Uma central solar de 221 kWp, instalada na gráfica Oeding Print GmbH, de Brunswick, cobre cerca de 1/4 do seu consumo, desde o início de 2014. 

A instalação pertence a uma outra empresa, a Naturstrom AG, e foi concebida para propiciar à gráfica uma tarifa “sob medida”. 

A tarifa proposta tem na sua composição uma parcela de custo do kWh fotovoltaico de autoconsumo e outra do kWh tradicional oferecido pelo fornecedor. O resultado é uma tarifa global ligeiramente abaixo do valor médio pago por consumidores industriais. 

O sucesso deste modelo foi prejudicado com a entrada em vigor da nova lei alemã para energias renováveis, que passou a taxar (desde agosto de 2014) a distribuição de eletricidade verde entregue diretamente ao consumidor. 

“As pequenas e médias empresas querem usar energia limpa, desde que suas tarifas não superem os menores valores da eletricidade convencional”, diz Ronald Heinemann, diretor da Naturstrom. 

Mas se depender da disposição dos fornecedores alternativos, a venda direta de eletricidade verde terá vida longa. Mesmo com a nova disposição legal, que obriga a venda de energia renovável de acordo com as diretrizes europeias para o mercado elétrico. 

Para Heinemann, é um contrassenso vender uma energia tão preciosa em um mercado onde ela se perde nos fluxos de eletricidade oriunda de centrais nucleares ou a carvão. 

Junto com mais três fornecedores “militantes” (Greenpeace Energy, Clean Energy Sourcing AG e Elektrizitäts Werke Schönau) a Naturstrom elaborou um novo modelo de venda direta de eletricidade verde, que tem grande chance de ser adotado pelo governo alemão na forma de um decreto, até meados de 2015. 

Trata-se de uma tentativa de compensar o não pagamento da taxa recém-criada (para a venda de energia limpa no mercado elétrico) com o pagamento direto aos beneficiários da exploração da instalação solar, sem se servir da tarifa de compra. 

No longo prazo, este modelo não levaria ao fim de subsídios. No curto prazo (2-3 anos), empreendedores como os cooperados da HEG poderiam optar pela venda da eletricidade verde no mercado elétrico, conforme estabelece a lei, ou vendê-la a um fornecedor alternativo, preservando seu valor intrínseco. 

Fonte: Le Journal du Photovoltaïque, hors-série Nº 12, Novembro de 2014

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