Clima mais quente pode reduzir drasticamente produção de alimento que chega à mesa do brasileiro
Se o agronegócio é parte importante do PIB nacional, 70% dos alimentos consumidos pela população vem da agricultura familiar,
frisa o autor do trabalho “O uso de modelos para o estudo dos efeitos das
mudanças climáticas nos ecossistemas”, Alexandre de Siqueira Pinto, professor
da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
O estudo foi apresentado no XIV Congresso de Ecologia do
Brasil, realizado em São Lourenço (MG), de 22 a 26 deste mês.
A pesquisa analisou o balanço de carbono no sistema
solo-vegetação-atmosfera em 4 biomas: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e
Caatinga.
Dados de 2017 mostram que as queimadas, as alterações do uso
da terra e a agropecuária respondem juntos por 70% das emissões brasileiras de
gases de efeito estufa, os causadores do aquecimento global.
Como ponto de partida do seu trabalho, o autor ressalta que
entre os três “compartimentos de carbono”, o solo concentra 2 vezes mais
carbono que a atmosfera e 3 vezes mais que a vegetação.
Assim, a análise centrou-se na variação do estoque de carbono
no solo de florestas primárias de cada um dos 4 biomas considerados, para
atividades de cultivo ou pastagem.
Constatou-se, por exemplo, que na Amazônia a pecuária provoca
um acúmulo de carbono no solo, devido à compactação da matéria orgânica, ao contrário
da agricultura, que -pelo revolvimento da terra- reduz o estoque de carbono no solo.
Usando o “Modelo Century”, o autor simulou a produtividade da
cultura de milho em Canindé de São Francisco (SE), para 4 cenários de mudança
climática, até 2100.
Para o cenário mais pessimista (de uma “forçagem radiativa” de
8,5 W/m2, que corresponde ao maior aquecimento atmosférico), a produção de
milho seria reduzida -até o final do século- à cerca de 1/3 daquela registrada
atualmente.
Alexandre Pinto informa que nos demais Estados do Nordeste
também existem áreas de estudo sobre o impacto do aquecimento climático em
lavouras de milho, com duas Áreas Experimentais Permanentes em Pernambuco,
pontos já coletados na Bahia, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará,
além de novas áreas de estudo nesses Estados e no Piauí.
“O
desafio é como manejar áreas, garantindo a biodiversidade e a alta capacidade
de estocagem de carbono, necessárias para enfrentar as mudanças climáticas”, conclui
o professor da UFS.
Que interessante. Não sabia que o solo é tão relevante para o estoque de carbono.
ResponderExcluirGrata por divulgar assuntos, materiais científicos, de grande importância para o conhecimento do público.
Sim, o solo tem um papel fundamental nas emissões de carbono... mas é preciso refletir sobre a "troca" de floresta primária por área de pastagem (algo concreto em nossa Amazônia), porque neste caso introduz-se intensivamente novas emissões de carbono em forma de metano, que contribui centenas de vezes mais ao aquecimento climático do que o CO2.
ExcluirA cada pesquisa se constata o que os atuais mandatários da nação desdenham:as mudanças climáticas são uma realidade que ameaça a Humanidade.
ResponderExcluirO estudo do professor Alexandre, ao referir-se sobre a importância do solo no armazenamento de carbono, e a própria iniciativa do blogueiro em realçar o assunto, atento às coberturas de eventos correlatos ao meio ambiente em diversas regiões do Brasil e do exterior, são dignos de elogios.
Grato, Sr. Quadros! De fato é um tema de relevância planetária, dada a urgência de atitudes consistentes em prol do clima por parte dos Estados mundo afora. Negar esta urgência é como negar a esfericidade da Terra...
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