quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Impacto do aquecimento global em lavouras no Nordeste é destaque em Congresso de Ecologia

Clima mais quente pode reduzir drasticamente produção de alimento que chega à mesa do brasileiro


Se o agronegócio é parte importante do PIB nacional, 70% dos alimentos consumidos pela população vem da agricultura familiar, frisa o autor do trabalho “O uso de modelos para o estudo dos efeitos das mudanças climáticas nos ecossistemas”, Alexandre de Siqueira Pinto, professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

O estudo foi apresentado no XIV Congresso de Ecologia do Brasil, realizado em São Lourenço (MG), de 22 a 26 deste mês.

A pesquisa analisou o balanço de carbono no sistema solo-vegetação-atmosfera em 4 biomas: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga.

Dados de 2017 mostram que as queimadas, as alterações do uso da terra e a agropecuária respondem juntos por 70% das emissões brasileiras de gases de efeito estufa, os causadores do aquecimento global.

Como ponto de partida do seu trabalho, o autor ressalta que entre os três “compartimentos de carbono”, o solo concentra 2 vezes mais carbono que a atmosfera e 3 vezes mais que a vegetação.

Assim, a análise centrou-se na variação do estoque de carbono no solo de florestas primárias de cada um dos 4 biomas considerados, para atividades de cultivo ou pastagem.

Constatou-se, por exemplo, que na Amazônia a pecuária provoca um acúmulo de carbono no solo, devido à compactação da matéria orgânica, ao contrário da agricultura, que -pelo revolvimento da terra- reduz o estoque de carbono no solo.

Usando o “Modelo Century”, o autor simulou a produtividade da cultura de milho em Canindé de São Francisco (SE), para 4 cenários de mudança climática, até 2100.

Para o cenário mais pessimista (de uma “forçagem radiativa” de 8,5 W/m2, que corresponde ao maior aquecimento atmosférico), a produção de milho seria reduzida -até o final do século- à cerca de 1/3 daquela registrada atualmente.

Alexandre Pinto informa que nos demais Estados do Nordeste também existem áreas de estudo sobre o impacto do aquecimento climático em lavouras de milho, com duas Áreas Experimentais Permanentes em Pernambuco, pontos já coletados na Bahia, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, além de novas áreas de estudo nesses Estados e no Piauí.

“O desafio é como manejar áreas, garantindo a biodiversidade e a alta capacidade de estocagem de carbono, necessárias para enfrentar as mudanças climáticas”, conclui o professor da UFS.

4 comentários:

  1. Que interessante. Não sabia que o solo é tão relevante para o estoque de carbono.
    Grata por divulgar assuntos, materiais científicos, de grande importância para o conhecimento do público.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, o solo tem um papel fundamental nas emissões de carbono... mas é preciso refletir sobre a "troca" de floresta primária por área de pastagem (algo concreto em nossa Amazônia), porque neste caso introduz-se intensivamente novas emissões de carbono em forma de metano, que contribui centenas de vezes mais ao aquecimento climático do que o CO2.

      Excluir
  2. A cada pesquisa se constata o que os atuais mandatários da nação desdenham:as mudanças climáticas são uma realidade que ameaça a Humanidade.
    O estudo do professor Alexandre, ao referir-se sobre a importância do solo no armazenamento de carbono, e a própria iniciativa do blogueiro em realçar o assunto, atento às coberturas de eventos correlatos ao meio ambiente em diversas regiões do Brasil e do exterior, são dignos de elogios.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grato, Sr. Quadros! De fato é um tema de relevância planetária, dada a urgência de atitudes consistentes em prol do clima por parte dos Estados mundo afora. Negar esta urgência é como negar a esfericidade da Terra...

      Excluir