Mapa do desmatamento da Amazônia no século XXI (INPE 2019)
“Amazônia pulmão do mundo”? Nunca foi. Mas era sim um gigantesco sumidouro de CO2, resultante da fotossíntese de sua cobertura verde. Tudo indica que não é mais...
Um
estudo publicado recentemente na revista Nature Plants sugere que as
florestas nativas situadas entre os trópicos do planeta capturam tanto quanto
emitem carbono.
A
pesquisa analisou dados do satélite de observação terrestre em micro-ondas SMOS,
como parte da missão CNES/ESA, no período de 2010 a 2017. São medidas da
variação do CO2 atmosférico oriundos da cobertura vegetal em toda a zona
tropical do planeta.
Lançado
em 2009, o SMOS segue uma órbita a 755 km da Terra, passando pelos polos e
captando informações em seu radar com uma resolução de 25 km x 25 km, que
permitem avaliar a influência das florestas tropicais sobre a concentração de
CO2 na atmosfera.
Os
resultados apresentados no artigo Satellite-observed pantropical carbon dynamics
mostram uma estreita dependência entre os estoques de carbono na vegetação
aérea desses biomas e o CO2 atmosférico, confirmando a importância da biomassa
vegetal dos ecossistemas tropicais no ciclo de carbono em escala planetária.
Atualmente,
a ciência contabiliza um total de emissões atmosféricas que supera os 33 bilhões
de toneladas de CO2 por ano. Este excesso de carbono no ar estaria alterando o
clima, aquecendo o planeta.
Em
condições normais, as florestas tropicais absorvem bilhões de
toneladas de CO2 todo ano, ajudando a regular o clima e a manter a temperatura da Terra dentro
de limites adequados para a vida.
O
satélite SMOS enviou dados do balanço de CO2 sobre florestas situadas entre os
trópicos de Câncer e Capricórnio nas Américas, África e Ásia, no período de 7
anos (2010-2017), que permitem correlacionar perdas de carbono à deflorestação.
O
artigo da Nature Plants traz dois mapas: um com as perdas brutas de
carbono da biomassa aérea; outro com as perdas da superfície vegetal
relacionadas à deflorestação.
As
imagens mostram claramente o Arco do Desmatamento na maior floresta tropical do
mundo, a Amazônia, como também uma intensa atividade de deflorestação na
Indonésia e em regiões equatoriais da África.
O
estudo, realizado por 20 cientistas de diferentes países, estima uma perda
anual de biomassa devida à destruição florestal em zonas tropicais de 780
milhões de toneladas de carbono.
Para
o jornalista do Le Monde Sylvestre Huet, autor da matéria que enseja este
post, o título “bem leve” do artigo da Nature Plants (Observações de Satélite
da Dinâmica do Carbono Pantropical), sem proclamar resultados, revela uma prudência
dos cientistas, que se explica pela duração relativamente curta do estudo e
pela falta de dados sobre estoques de carbono no solo e nas raízes.
No entanto, os resultados mostram uma evolução preocupante. Se os biomas tropicais agem como sumidouros de carbono nos períodos úmidos, eles tornam-se neutros e até emissores em períodos de seca.
“A maioria dos modelos climáticos considera a floresta tropical como um sumidouro de carbono, mas certamente esses modelos subestimam o efeito da ocorrência repetida de secas”, diz um dos autores do trabalho, Philippe Ciais.
No entanto, os resultados mostram uma evolução preocupante. Se os biomas tropicais agem como sumidouros de carbono nos períodos úmidos, eles tornam-se neutros e até emissores em períodos de seca.
“A maioria dos modelos climáticos considera a floresta tropical como um sumidouro de carbono, mas certamente esses modelos subestimam o efeito da ocorrência repetida de secas”, diz um dos autores do trabalho, Philippe Ciais.
Por
outro lado, um estudo recente da Nasa mostra que a deflorestação da Amazônia contribui
para reduzir o teor de umidade na atmosfera local, criando um ambiente cada vez
mais seco, deixando os ecossistemas mais vulneráveis aos incêndios.
A
expansão das fronteiras agropecuárias por meio de queimadas é a maior
responsável pela deflorestação amazônica. Mas não é a única causa da crescente
aridez neste bioma. A
alta concentração de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento atmosférico,
estaria contribuindo na mesma proporção para o aumento das secas na região.
O
estudo da Nasa analisou dados coletados no solo e imagens de satélite com registros
da concentração de vapor d’água na atmosfera amazônica, permitindo avaliar a
quantidade de umidade do ar necessária para manter os ciclos da floresta.
A
região na qual o fenômeno do ressecamento atmosférico é mais acentuado é o
sudeste da Amazônia, zona do Arco do Desmatamento, onde o avanço
da fronteira agrícola é acelerado.
Entre
agosto de 2018 e julho de 2019 a Amazônia perdeu cerca de 10 mil km2 de floresta,
quase 30% a mais que nos 12 meses anteriores, o maior avanço já registrado de um
ano para o outro nos últimos 22 anos.
Para
o climatologista Carlos Nobre, o estudo da Nasa confirma o que outros estudos
já indicavam. Uma área da Amazônia de 2 milhões de km2 está se tornando mais
quente e mais seca, prolongando a estação seca entre 3 e 4 semanas além do seu
período normal, diz o pesquisador do IEA/USP.
A
floresta Amazônica está se convertendo rapidamente em uma savana tropical, que
é “o bioma de equilíbrio com uma longa estação de seca e fogo”, explica Nobre.
“O
ponto de não retorno está bem próximo”. Com o desmatamento acelerado e a
continuidade do aquecimento global, a savanização da Amazônia acontecerá daqui
há 15 ou no máximo 30 anos, conclui Nobre.
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