Medidas de combate à pandemia impuseram queda
drástica da demanda energética, principalmente nos EUA, União Europeia e Índia, nem tanto na China
A quantidade de gases de efeito estufa liberada na atmosfera este ano pode ser maior apenas do que aquelas registradas em outras crises mundiais, como a de 1945, 1981, 1992 e 2009, quando as emissões não superaram 0,9 bilhão de toneladas de CO2 equivalente (tCO2). Em 2020, elas devem somar 2,4 bilhões de tCO2.
O balanço anual do Global Carbon Project (GCP), divulgado no último dia 11, estima um impacto máximo da crise pandêmica sobre as emissões poluentes, em relação à redução prevista de 2 a 7% até o final do ano, dependendo da duração das quarentenas nos países. No início de abril, a diminuição global média das emissões diárias foi estimada em 17%.
O estudo que aponta para esta conclusão, intitulado
Temporary reduction in daily global CO2 emissions during the COVID-19 forced
confinement, foi elaborado por cientistas do GCP e publicado na Nature
Climate Change em maio.
O relatório do GCP tem o seu foco nas emissões
anuais de gases de efeito estufa de origem antrópica e sua permanência na
atmosfera, principais responsáveis pelo aquecimento global e suas catastróficas
consequências, mais do que alertadas por especialistas climáticos.
Ele é tradicionalmente divulgado no início das Conferências
das Partes (COP) sobre o clima, das Nações Unidas. Com o adiamento da COP 26, a
ser realizada em Glasgow (Escócia), para dezembro de 2021, o relatório foi divulgado
às vésperas da teleconferência entre os países do G20 organizada pela ONU, para
celebrar o quinto aniversário do Acordo de Paris.
Diga-se de passagem, o Brasil não participou
porque foi propositadamente ignorado. A ONU convidou apenas Chefes de Estado que pudessem contribuir com “metas
ambiciosas” para enfrentar a crise climática.
Em 2019, as emissões equivalentes de CO2 dos
países do G20 -que respondem por ¾ das emissões planetárias- sofreram uma ligeira
queda em relação a 2018: - 0,1%. Esta redução, pela primeira vez destoa dos avanços constatados em anos anteriores: de 2005 a 2017 as emissões anuais cresceram
em média 1,4% e, em 2018, aumentaram 1,9%.
Em 2020, “a redução das emissões foi mais acentuada
nos Estados Unidos (- 12%), União Europeia (- 11%) e Índia (- 9%), e bem menos na China (- 1,7%), onde as medidas de contenção ocorreram no início do
ano e duraram menos tempo; a queda global deveu-se aos efeitos da crise da
Covid-19 aliados à tendência verificada nos anos anteriores”, diz o comunicado
da GCP.
No setor de transporte terrestre, que representa
21% do total, as emissões de carbono diminuíram mais expressivamente; “elas
caíram pela metade nos países onde a quarentena durou mais”, segundo o
comunicado. As da aviação, 2,8% das emissões globais, sofreram uma queda de 75%
em 2020. Já no setor industrial, que responde por 22% das emissões mundiais,
elas diminuíram 30% nos países que impuseram quarentenas mais demoradas.
No entanto, “esta é uma pausa temporária, insuficiente para
reduzir a concentração atmosférica de CO2 e seu impacto no aquecimento climático;
podemos esperar um novo aumento das emissões em 2021”, diz Philippe Ciais,
pesquisador do Laboratório de Ciências do Clima e do Meio Ambiente francês e
participante do Global Carbon Project. A concentração de CO2 na
atmosfera aumentou quase 50% entre 1750 e 2019.
Se a tendência de baixa das emissões, registrada
nos anos anteriores a 2020, já era considerada frágil para fazer face à
urgência climática, uma estagnação das emissões dos países do G20 nos próximos
anos é pouco provável.
Os incentivos anunciados pelos governos de grandes
potências para impulsionar suas economias, debilitadas pela pandemia, privilegiam a intensificação do uso de combustíveis fósseis sem contrapartidas reais para o enfrentamento da crise climática.
Fontes:
https://www.nature.com/articles/s41558-020-0797-x
https://www.globalcarbonproject.org/news/TemporaryReductionInCO2EmissionsDuringCOVID-19.html
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