segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Crise de Covid-19 promove redução recorde de 7% das emissões de CO2 em 2020, indica estudo

Medidas de combate à pandemia impuseram queda drástica da demanda energética, principalmente nos EUA, União Europeia e Índia, nem tanto na China

Cidade de Nova Iorque sob medidas de contenção da Covid-19. FOTO: Mike Segar/Reuters https://www.nytimes.com/2020/04/24/opinion/coronavirus-lockdown.html

A quantidade de gases de efeito estufa liberada na atmosfera este ano pode ser maior apenas do que aquelas registradas em outras crises mundiais, como a de 1945, 1981, 1992 e 2009, quando as emissões não superaram 0,9 bilhão de toneladas de CO2 equivalente (tCO2). Em 2020, elas devem somar 2,4 bilhões de tCO2.

O balanço anual do Global Carbon Project (GCP), divulgado no último dia 11, estima um impacto máximo da crise pandêmica sobre as emissões poluentes, em relação à redução prevista de 2 a 7% até o final do ano, dependendo da duração das quarentenas nos países. No início de abril, a diminuição global média das emissões diárias foi estimada em 17%.

O estudo que aponta para esta conclusão, intitulado Temporary reduction in daily global CO2 emissions during the COVID-19 forced confinement, foi elaborado por cientistas do GCP e publicado na Nature Climate Change em maio.

O relatório do GCP tem o seu foco nas emissões anuais de gases de efeito estufa de origem antrópica e sua permanência na atmosfera, principais responsáveis pelo aquecimento global e suas catastróficas consequências, mais do que alertadas por especialistas climáticos.

Ele é tradicionalmente divulgado no início das Conferências das Partes (COP) sobre o clima, das Nações Unidas. Com o adiamento da COP 26, a ser realizada em Glasgow (Escócia), para dezembro de 2021, o relatório foi divulgado às vésperas da teleconferência entre os países do G20 organizada pela ONU, para celebrar o quinto aniversário do Acordo de Paris.

Diga-se de passagem, o Brasil não participou porque foi propositadamente ignorado. A ONU convidou apenas Chefes de Estado que pudessem contribuir com “metas ambiciosas” para enfrentar a crise climática.

Em 2019, as emissões equivalentes de CO2 dos países do G20 -que respondem por ¾ das emissões planetárias- sofreram uma ligeira queda em relação a 2018: - 0,1%. Esta redução, pela primeira vez destoa dos avanços constatados em anos anteriores: de 2005 a 2017 as emissões anuais cresceram em média 1,4% e, em 2018, aumentaram 1,9%.

Em 2020, “a redução das emissões foi mais acentuada nos Estados Unidos (- 12%), União Europeia (- 11%) e Índia (- 9%), e bem menos na China (- 1,7%), onde as medidas de contenção ocorreram no início do ano e duraram menos tempo; a queda global deveu-se aos efeitos da crise da Covid-19 aliados à tendência verificada nos anos anteriores”, diz o comunicado da GCP.

No setor de transporte terrestre, que representa 21% do total, as emissões de carbono diminuíram mais expressivamente; “elas caíram pela metade nos países onde a quarentena durou mais”, segundo o comunicado. As da aviação, 2,8% das emissões globais, sofreram uma queda de 75% em 2020. Já no setor industrial, que responde por 22% das emissões mundiais, elas diminuíram 30% nos países que impuseram quarentenas mais demoradas.

No entanto, “esta é uma pausa temporária, insuficiente para reduzir a concentração atmosférica de CO2 e seu impacto no aquecimento climático; podemos esperar um novo aumento das emissões em 2021”, diz Philippe Ciais, pesquisador do Laboratório de Ciências do Clima e do Meio Ambiente francês e participante do Global Carbon Project. A concentração de CO2 na atmosfera aumentou quase 50% entre 1750 e 2019.

Se a tendência de baixa das emissões, registrada nos anos anteriores a 2020, já era considerada frágil para fazer face à urgência climática, uma estagnação das emissões dos países do G20 nos próximos anos é pouco provável.

Os incentivos anunciados pelos governos de grandes potências para impulsionar suas economias, debilitadas pela pandemia, privilegiam a intensificação do uso de combustíveis fósseis sem contrapartidas reais para o enfrentamento da crise climática.

Fontes:

https://www.nature.com/articles/s41558-020-0797-x

https://www.globalcarbonproject.org/news/TemporaryReductionInCO2EmissionsDuringCOVID-19.html

https://www.lemonde.fr/planete/article/2020/11/18/les-emissions-de-co2-des-pays-du-g20-ont-legerement-baisse-en-2019-une-premiere-en-l-absence-de-choc-externe_6060143_3244.html

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